terça-feira, 31 de março de 2020

Recursos escassos necessidades ilimitadas

No panorama actual da pandemia do covid-19 que tanto nos preocupa, os Estados Unidos são o país do mundo com mais pessoas infectadas, registando actualmente 164.406 casos, embora as 3.172 mortes que já se verificaram no país estejam aquém das que já se registaram na Itália, na Espanha ou na China. 
Porém, Donald Trump e as autoridades federais acordaram muito tarde. Esse facto, associado à não existência de um serviço nacional de saúde universal semelhante aos que têm os países europeus, têm levado alguns especialistas a referir que o centro da pandemia já se deslocou para os Estados Unidos. No entanto, os abundantes recursos americanos acabam sempre por ajudar a ultrapassar algumas dificuldades, como as que estão a atravessar a Itália e a Espanha, onde os recursos hospitalares são escassos para acudir a quem deles precisa.
Ontem, com grande cobertura da imprensa americana e até de alguma imprensa europeia, atracou no Pier 90 do porto de Nova Iorque o USNS Comfort, the giant hospital ship da Marinha americana. Trata-se de um antigo petroleiro com 272 metros de comprimento e uma altura correspondente a um edifício de dez andares, que foi reconvertido num grande hospital e dispõe de 1000 camas, 12 salas de operações e todas as valências hospitalares, sendo servido por 1200 tripulantes, sobretudo médicos e pessoal paramédico.
A missão do USNS Comfort em Nova Iorque não é receber ou tratar doentes infectados com o covid-19, mas recolher pacientes com outras patologias e, por essa via, aliviar o sistema hospitalar daquele estado. Entretanto, um outro navio semelhante já se encontrava em Los Angeles para apoio ao sistema hospitalar do sul da Califórnia, que é o terceiro estado com mais infecções no país, depois de Nova Iorque e Nova Jersey.
Naturalmente que estes recursos causam inveja aos pequenos países onde “os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas”, um axioma que certos interesses corporativos portugueses parecem não conhecer.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Depois disto, nada vai ser como dantes


Quando há mais de duas semanas começamos a tomar medidas de distanciamento social ou de voluntária quarentena, todos imaginamos que a situação de confinamento poderia durar até meados do mês de Abril, depois começou a falar-se em Maio e um jornal de Lisboa anuncia hoje que a quarentena pode durar até finais de Junho. Todos os dias somos informados com novas previsões baseadas em estudos matemáticos que vão atirando o fim desta pandemia para mais tarde, mas o facto é que esses modelos matemáticos pretendem prever a evolução de um fenómeno novo e até há pouco tempo desconhecido. Portanto, nesta preocupante situação por que estamos a passar, parece que vivemos mais no campo do palpite do que no campo da verdade científica.
Independentemente de se saber o andamento da curva epidemiológica e de se saber se vai ter um pico ou se achata, ou se tem um pico agora e outro pico mais tarde, já ninguém tem dúvidas que o nosso modo de vida vai mudar e que muitos dos exageros civilizacionais a que a sociedade chegou, não sobreviverão a esta crise.
Daí que, na sua última edição, o Courrier International tenha aberto um debate à volta do tema repensar o mundo. Porém, a mudança de paradigma que necessariamente nos vai alterar o modo de vida, não vai depender dos poderes dos estados, das orientações dos líderes ou dos sistemas económicos, mas vai ser obra de cada ser humano e da sua adaptação a novos tipos de relacionamento social e familiar, a novos modelos de consumo e a uma nova atitude perante o ambiente e a paisagem. Depois desta pandemia do covid-19 vão ser diferentes a sociedade, a economia, as relações internacionais, o desporto, o turismo, o nosso modo de vida. Nada vai ser como dantes.

domingo, 29 de março de 2020

A pandemia, a ignorância e a insensatez

O respeitável jornal Açoriano Oriental, que se publica desde 1835 e que é o mais antigo jornal em circulação em Portugal e um dos dez mais antigos jornais de todo o mundo em publicação contínua, regular e com o mesmo nome, destaca na sua edição de hoje uma notícia surpreendente: há açorianos a exigir voos para irem de férias!
Uma das primeiras medidas tomadas pelo Governo Regional dos Açores para diminuir os riscos de contágio da pandemia de covid-19 foi a limitação das ligações aéreas e marítimas entre as ilhas ao que fosse considerado essencial e necessário. Numa primeira fase as pessoas contiveram-se, mas com o passar dos dias começaram a acumular-se os pedidos para fazer deslocações, que cada um entendia serem de “força maior”. Na sequência de algumas deslocações que foram autorizadas a título excepcional, aconteceu o insólito, quando começaram a surgir exigências para que houvesse voos para fazer férias. Naturalmente, a Autoridade de Saúde Regional reagiu com firmeza e denunciou o desplante destas exigências.
Porém, este caso não é único, como revelou recentemente o Diário de Notícias ao noticiar que, na habitual conferência de imprensa do Ministério da Saúde e da Direcção Geral da Saúde, um jornalista quis saber por que razão "alguns hospitais e maternidades estão a impedir as grávidas de levar consigo acompanhantes para a sala de parto". Lamentavelmente, alguns casos como estes, que revelam ignorância, insensatez e irresponsabilidade, têm a cobertura de alguns orgãos da nossa pobre Comunicação Social que, quotidianamente, muito faz para nos deprimir em vez de nos transmitir confiança.

sábado, 28 de março de 2020

Os aviões em terra, são sinal de crise

Na situação de crise económica que se avizinha por todo o mundo, têm aparecido alguns estudos prospectivos que traçam cenários sobre o que nos espera nos tempos mais ou menos próximos. Um desses estudos foi feito pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), com sede em Montreal, que representa as companhias aéreas de todo o mundo.
Segundo esta associação, a actual pandemia já arrasou o transporte aéreo mundial e, se durar três meses, estima-se que irá traduzir-se numa perda global de receitas da ordem dos 240 mil milhões de euros – um pouco mais do que o PIB português – colocando em risco cerca de 2,7 milhões de empregos directos e cerca de 65 milhões de empregos indirectos. É, provavelmente, um dos sectores em que mais se evidenciam as consequências da actual crise e que mais nos preocupam, pelos efeitos que tem sobre a economia e, em especial, sobre o turismo e sobre o modelo de civilização em que temos vivido. Daí que a IATA afirme que as companhias aéreas estão a precisar “desesperadamente de dinheiro”, porque a crise provocada pela pandemia de covid-19 está a afectar 98% do transporte aéreo mundial, que corre o risco de falência se não houver ajudas financeiras em massa que compensem as suas brutais quebras de tesouraria.
A edição desta semana da revista Et cetera destaca os ”aviões em terra” e mostra dois planisférios onde se pode observar a intensidade da circulação aérea mundial, antes e depois da pandemia que nos cerca. Muitas das frotas das companhias aéreas estão em terra devido às restrições de circulação impostas e às quebras na procura, enquanto em Portugal, tanto a TAP como a SATA, estarão certamente a atravessar a situação revelada pela IATA. São nuvens muito negras no horizonte.

quinta-feira, 26 de março de 2020

O Jair ignora a gravidade da pandemia

No contexto da crise sanitária que percorre o mundo e que já atingiu cerca de duas centenas de países, estão registadas cerca de 21 mil mortes e calcula-se que um terço da população mundial está de quarentena. Na dramática lista ontem actualizada das vítimas provocadas pelo covid-19 está à frente a Itália (7.503), seguindo-se a Espanha (3.647), a China (3.281), o Irão (2.077), a França (1.331) e os Estados Unidos (1.054). Aparecem depois o Reino Unido (465), os Países Baixos (367), a Alemanha (208) e a Bélgica (178). O mundo foi apanhado de surpresa por uma crise de contornos desconhecidos, mas as medidas tomadas pelos diferentes países têm sido semelhantes, situando-se entre o combate à crise sanitária, a manutenção dos serviços essenciais e manutenção das actividades económicas possíveis.
Porém, alguns países estão “em contramão do mundo”, como hoje titula um jornal brasileiro. Um desses países é o Brasil de Jair Bolsonaro, que tem ignorado a orientação da OMS assim como as medidas tomadas noutros países e que tem criticado a quarentena e o fecho de escolas que foi decretada em alguns estados brasileiros. Mostrando grande arrogância e uma enorme ignorância tratou de contrariar a opinião dos especialistas e desvalorizou a pandemia que está a chegar ao Brasil, chamando-lhe “um resfriadinho”, ao mesmo tempo que pediu o regresso da normalidade e o fim das quarentenas decretadas em várias cidades, como por exemplo em São Paulo. 
O Conselho Nacional de Saúde do Brasil considerou que as declarações do Jair “colocam em risco a vida de milhares de pessoas” e são ”uma afronta à saúde e à vida da população”, enquanto a revista IstoÉ não o poupou e, simplesmente, lhe chamou "o incapaz".

quarta-feira, 25 de março de 2020

A nossa enorme gratidão aos combatentes

Embora se venha falando na grave crise económica e social que se aproxima, as maiores preocupações do mundo continuam a centrar-se na crise sanitária, até porque na Europa ocidental, especialmente na Itália e na Espanha, as más notícias continuam a encher os noticiários. Ciente desta ameaça, a imprensa internacional procura apoiar e estimular aqueles que se encontram na primeira fila do combate, como hoje acontece com o diário Le Parisien que agradece aos cuidadores franceses e publica uma expressiva fotografia.
Também em Portugal todos temos que expressar gratidão aos nossos “combatentes”, embora haja quem ande distraído. Apesar dos portugueses, segundo dizem as sondagens, estarem a confiar na acção de António Costa e das suas “tropas”, com os responsáveis pelos Serviços de Doenças Infecciosas dos Hospitais Curry Cabral (Fernando Maltês) e de São João (António Sarmento) a afirmarem que nada lhes falta, a generalidade dos jornalistas e dos supostos jornalistas procura com insistência por falhas na acção das autoridades responsáveis pela gestão da pandemia. Nesta emergência, as principais forças políticas estão unidas porque o “inimigo” só pode ser vencido com coesão nacional, mas os supostos jornalistas, em vez de passarem a mensagem de que o covid-19 é um vírus novo que provoca uma doença nova que a Ciência ainda não conhece, ou de transmitirem mensagens de esperança à população, ou de apoio e solidariedade às autoridades e aos “combatentes” que estão na primeira linha, procuram descobrir que há falta de máscaras, de luvas, de ventiladores, de desinfectantes e de não sei que mais. Procuram o pequeno escandalozinho. Procuram descobrir que não há capacidade para fazer testes e que os profissionais da saúde estão cansados e desprotegidos. Dividem a opinião pública em vez de a unirem para vencer esta “guerra”. Procuram deixar no espírito das pessoas que as coisas não funcionam. Alimentam os medos em vez de estimularem a esperança. Que mau serviço que esta impreparada gente presta à nossa população!

terça-feira, 24 de março de 2020

A memória da batalha de Cuito Canavale


O dia 23 de Março foi assinalado ontem em Angola com o feriado do Dia da Libertação da África Austral, que celebra a vitória angolana na batalha do Cuito Canavale, na província do Cuando-Cubango. Nessa batalha que se iniciou no dia 15 de Novembro de 1987 e terminou no dia 23 de Março de 1988, combateram de um lado as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), apoiadas pelos internacionalistas cubanos das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Cuba, e do outro lado o braço armado da UNITA com o apoio da South African Defence Force (SADF) da República da África do Sul.
Hoje o Jornal de Angola evoca essa efeméride e o dia em que as forças sul-africanas retiraram derrotadas do território angolano, pois foi a partir de então que se avançou para negociações que vieram a dar origem ao acordo de Nova Iorque, assinado no dia 22 de Dezembro de 1988 entre os governos de Angola, Cuba e África do Sul. Desse acordo resultou a retirada de todas as forças estrangeiras de Angola, mas também o cumprimento das Resoluções das Nações Unidas e o consequente fim do regime do apartheid na África do Sul, o reconhecimento da South West Africa People’s Organization (SWAPO) e a independência da Namíbia. A batalha do Cuito Canavale teve, portanto, um grande significado para a libertação da África Austral e para o  reforço do MPLA no contexto da guerra civil angolana.

A RTP e o mau serviço público de alguns

O programa prós e contras da RTP1 é um programa de debate que vai para o ar desde 2002, sempre com a mesma apresentadora. 
São demasiados anos e a apresentadora não só perdeu qualidades ao longo de todo este tempo, como adquiriu muitos defeitos que vão desde um serôdio autoritarismo a uma arrogante falta de educação, que se revela na forma abusiva como corta a palavra aos seus convidados. Talvez precise de reforma e que os netos precisem dela. Se alguma vez prestou, agora já não presta. Qualquer cidadão perde a paciência com as suas atitudes grosseiras e arrogantes, pelo que desde há muito tempo que eu fujo da RTP para não assistir às medíocres exibições desta figura.
Ontem, porém, o programa intitulava-se Para onde  vamos? e juntou o ministro dos Negócios Estrangeiros, o Comandante Geral da GNR, o Director Nacional da PSP e um médico especializado em Pneumologia, pelo que me interessou ouvir as suas opiniões sobre a situação que atravessamos. Imaginava que o programa procuraria esclarecer os telespectadores e dar uma palavra de confiança e de esperança aos portugueses, que nos ajudaria a perceber o que podemos esperar ou sobre o que está a ser feito para nos ajudar. Fiquei estarrecido porque, durante cerca de duas horas, a apresentadora interrompeu todos e a todos inquiriu na busca de qualquer coisa que não estivesse a correr bem, procurando apenas o sensacionalismo e o protagonismo pessoal. Um jornalismo de vão de escada. Uma ridícula noção de serviço público. Uma enorme irresponsabilidade. Uma completa ignorância sobre a grave situação em que nos encontramos. Por fim, um dos participantes disse-lhe exactamente isso, mas a obcecada apresentadora nem sequer percebeu. Estamos em emergência e era bom que a RTP pusesse esta figura em casa e de quarentena para não nos incomodar com o seu lamentável comportamento disfarçado de reportagem jornalística..

segunda-feira, 23 de março de 2020

Um equipa fiável e de gente de coragem

O diário desportivo espanhol Marca destaca na sua edição de hoje el equipo de todos, em que não aparecem quaisquer jogadores de futebol, mas em que estão presentes alguns dos profissionais que todos os dias estão na linha da frente para combater a pandemia do covid-19, para manter os serviços essenciais e para nos ajudar a ultrapassar a difícil situação em que nos encontramos, sobretudo na parte ocidental da Europa.
Lá estão os médicos e os enfermeiros, os bombeiros e os polícias, o pessoal de segurança e de limpeza, além de profissionais da recolha do lixo, dos supermercados, das gasolineiras, dos transportes públicos, das bancas de jornais, da agricultura e do abastecimento público. É muita gente e na sua actividade não há apenas profissionalismo, mas também muita solidariedade.  
Na situação de emergência em que nos encontramos, todos dependemos do trabalho e da dedicação desta equipa multidisciplinar e, sobretudo, da sua coragem e do seu profissionalismo, porque eles são realmente os pilares em que assenta o nosso quotidiano e a nossa vida, como agora vemos a cada momento.
A vida não pára e enquanto esperamos por melhores dias, todos temos um enorme dever de gratidão para com aqueles que, em circunstâncias muito difíceis e de grande risco, procuram dar algum sentido de normalidade ao quotidiano e atenuar as nossas ansiedades. 
O meu obrigado vale pouco, mas aqui fica registado.

sábado, 21 de março de 2020

A preocupação americana com o covid-19


As últimas notícias indicam que nos Estados Unidos já se verificaram 273 mortes devido ao covid-19 e que há, pelo menos, 19.762 pacientes que já foram infectados nos 50 estados americanos.
Há menos de um mês o presidente dos Estados Unidos ainda afirmava que a situação estava “totalmente sob controlo” e que o risco do coronavírus afectar o país era muito baixo, atribuindo essa convicção às medidas que tomara ao proibir a entrada no país de pessoas provenientes da China. De resto, as declarações de Donald Trump sempre desvalorizaram a hipótese de poder haver contágios nos Estados Unidos, certamente para evitar que os americanos entrassem em pânico, mas a realidade foi-se impondo. Há uma semana, já com alguns casos confirmados de pessoas infectadas, o presidente declarou o estado de emergência nacional e insistiu que “os números iam descer”, mas o facto é que eles não param de subir, embora estejam anunciadas muitas medidas para travar a propagação do vírus, como o cancelamento de voos, o encerramento de escolas e, agora, a quarentena obrigatória para 40 milhões de californianos e para os trabalhadores não essenciais dos estados de Connecticut, Illinois e New York. Já não é possível anunciar que que a situação está “totalmente sob controlo”.
Nesta altura, os Estados Unidos encontram-se em sexto lugar na lista de países com mais pessoas infectadas e com mais mortes, depois da Itália, China, Espanha, França e Irão. Por vezes, são feitas acusações aos dirigentes nacionais que não actuaram em tempo oportuno, mas no caso dos Estados Unidos ter-se-à ido longe demais. É, portanto, uma situação muito preocupante que hoje o New York Post ilustra com uma Estátua da Liberdade fechada em casa e em forçada quarentena.

sexta-feira, 20 de março de 2020

O mundo fechou, o mundo não produz.


A pandemia do covid-19 continua activa e, em maior ou menor escala, todo o mundo está infectado e muito apreensivo em relação a uma situação de que se não vislumbra o fim.  O mundo fechou, o mundo não produz, o mundo não sabe quanto tempo isto vai durar. A imagem que a edição do The Economist escolheu para a sua edição desta semana é bem sugestiva, pois mostra que, em paralelo com a calamidade sanitária, também se desenha uma calamidade económica. Angela Merkel disse que a Alemanha enfrenta o seu maior desafio desde a 2ª Guerra Mundial e António Guterres pede solidariedade, cooperação internacional e esperança. A arrogância ignorante de Trump e Bolsonaro já deu lugar à preocupação. O problema é realmente sério. A quarentena ou o estado de emergência que têm sido decretados na generalidade dos países têm o objectivo de travar os contágios e esse é o aspecto mais importante, mas essas medidas drásticas estão a atrofiar as economias. 
Em Portugal as primeiras consequências económicas já estão à vista com a quebra na produção e no turismo, o encerramento de empresas, a suspensão dos transportes aéreos, as falhas no abastecimento público e o desemprego. A situação é grave mas, apesar disso, ainda há alguns indivíduos que, tanto na política como na vida empresarial, parecem não perceber isso e estão a procurar esta oportunidade para servirem os seus interesses particulares, como se vai vendo diariamente nas reportagens apresentadas pelas televisões. É lamentável que, nesta altura, ainda haja tantos portugueses a olhar para o seu umbigo. 
Porém, há que ter esperança e confiança em que os dias melhores virão mais depressa do que se pensa.

quinta-feira, 19 de março de 2020

A crise é séria mas o país não pode parar

O nosso país entrou em estado de emergência e, exceptuando meia dúzia de experientes peritos que entendem que esta decisão foi tardia e outros tantos que acham que foi prematura, parece que toda a gente concordou. Todas as principais figuras do Estado estiveram de acordo e essa unidade reforça a nossa confiança.
Há uma semana, eu ainda me encontrava no número daqueles que imaginavam que estas coisas só aconteciam aos outros, mas nos últimos dias a realidade tornou-se ameaçadora e tem trazido muitas apreensões à população. Os números falam por si e mostram como é grave e imprevisível a situação. 
Nesta emergência há que seguir as orientações das autoridades sanitárias no sentido de minimizar as hipóteses de contaminação pelo covid-19 e de seguir as directivas governamentais para que a economia funcione e possa produzir os bens e serviços essenciais de que carece a população. Por isso, são devidas palavras de encorajamento e de gratidão aos milhares de portugueses que lutam diariamente para que o país funcione nos hospitais e nas farmácias, nos supermercados e nos postos de abastecimento de combustível, nas empresas de electricidade, gás e água, nos transportes públicos e na recolha do lixo, nas estações de rádio e de televisão. Alguém já disse que é uma guerra contra um inimigo invisível e de facto assim é. No entanto, os combatentes que estão na frente dessa luta exigem unidade de comando e firmeza na rectaguarda para vencer esta guerra. E foi isso que vimos ontem nas atitudes do Presidente da República, do Governo e do Parlamento, no qual se destacou a intervenção responsável do líder do maior partido da oposição. Com esta unidade de comando e esta firmeza, a nossa confiança e a nossa unidade reforçam-se. Não pode haver lugar para divisionistas, boateiros, alarmistas, derrotistas e açambarcadores. O país não pode parar!

terça-feira, 17 de março de 2020

A imprevisível evolução do coronavírus


O jornal catalão El Punt Avui está alinhado com a luta pela independência da Catalunha e resultou da fusão que aconteceu em 2011 entre dois jornais rivais catalães - o El Punt, de Girona, e o Avui, de Barcelona. O jornal publica-se em catalão e, por isso, a sua circulação é limitada à Catalunha.
Hoje, tal como inúmeros jornais europeus, o El Punt Avui tem como tema principal que destaca na sua primeira página a crise que o covid-19 está a provocar, mas utiliza uma forma singular e bem original. Enquanto a generalidade dos jornais ilustra as suas edições com fotografias de praças vazias, de comércio fechado e de gente com máscaras, completadas com declarações de líderes políticos, com a contabilidade da tragédia ou com palavras de ordem dirigidas às populações, o jornal catalão apresenta aos seus leitores a curva, isto é, a representação gráfica da evolução da epidemia na Catalunha, da qual não se conhece o modelo matemático que nos possa indicar a previsão do aparecimento do pico ou máximo daquela função. Nessa curva pode observar-se a evolução que se está a verificar na região autónoma da Catalunha, onde o primeiro infectado foi detectado no dia 25 de Fevereiro e em que, vinte dias depois, já estão identificados 1.394 infectados e já aconteceram 18 mortes (na Espanha são 11.178 infectados e 491 mortes).
Porém, o jornal não resiste e aproveita esta oportunidade para responsabilizar Madrid e o governo espanhol por demorarem nas decisões necessárias ao controlo da situação, aliás como também acontece por cá com alguns sectores socio-profissionais, em que aparecem alguns “especialistas” que acusam as autoridades de não serem rápidas a tomar medidas e aproveitam para, de forma dissimulada mas atrevida, fazerem as suas exigências corporativas. São oportunistas que, numa altura tão séria e grave como esta, não são precisos para nada.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Uma guerra mundial com inimigo invisível

A generalidade da população portuguesa parece já ter compreendido que a situação que se aproxima é muito séria e está a aceitar com alguma serenidade as recomendações que estão a ser difundidas pelas autoridades sanitárias. A natureza do covid-19 continua a ser desconhecida, sobretudo no que respeita à sua incubação e propagação, pelo que ainda não há vacinas nem terapêuticas para combater esse vírus. 
Porém, os casos confirmados de infecção têm aumentado e chegaram à Europa, pelo que a melhor terapêutica é mesmo permanecer em casa, de forma a reduzir o risco de exposição e minimizar as probabilidades de contaminação em cadeia.
Aqui em Portugal estamos em estado de alerta, mas aproxima-se o estado de emergência. As restrições e as limitações à vida quotidiana dos cidadãos já são enormes e, nesta altura, a duração desta crise e a sua incidência são imprevisíveis, mas a população parece aceitar todas as contrariedades para defender a saúde pública., embora ainda haja quem, irresponsavelmente, acentue mais as consequências económicas desta crise do que a salvaguarda da vida humana.
No que respeita ao que se perspectiva para as próximas semanas o panorama é preocupante, pois a curva epidemiológica que corresponde matematicamente à evolução da epidemia, está a ser ajustada com os escassos elementos até agora disponíveis, embora aponte para “dois meses de guerra”, como hoje revela o jornal i. Significa que a actual fase de propagação está a crescer exponencialmente, mas que não se sabe quando atingirá (matematicamente) o ponto de inflexão e inverterá a sua progressão. A confirmar-se a tendência actual, haverá um agravamento progressivo da situação e o alívio da epidemia só acontecerá entre fins de Abril e princípios de Maio. Todos teremos que aguentar com muita paciência, esperar com serenidade e confiar em quem sabe. Há dois meses o coronavírus era desconhecido e, desde a última semana, tornou-se um grande problema para Portugal, para a Europa e para o mundo, como se fosse uma terceira guerra mundial contra um inimigo invisível.

sábado, 14 de março de 2020

Portugal está em alerta com o que aí vem

Nos últimos dois dias e, em especial nas últimas horas, dispararam todos os alarmes relativos ao surto do covid-19, quando o governo e as autoridades sanitárias impuseram severas medidas no sentido de travar a propagação do vírus e minimizar os seus efeitos, até porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que a Europa se tornou o epicentro da pandemia de coronavírus, com um crescente número de infectados e de casos fatais. 
Em Portugal, tal como em outros países europeus e até em alguns do continente americano, foram tomadas medidas drásticas, que afectam o modo de vida dos portugueses. Estas medidas foram apoiadas por todos os partidos políticos, o que constitui um acontecimento inédito ou muito raro no panorama político português, mas parece que também foram compreendidas pela generalidade da população, embora com as excepções do costume por parte de espertalhões, valentões, açambarcadores e golpistas. Nesta altura não se sabe o que nos espera, pois a ameaça com que nos defrontamos tem contornos desconhecidos quanto à intensidade e quanto à duração. Os nossos modos de vida e os nossos comportamentos vão ter que modificar-se e não se sabe por quanto tempo. O desafio das autoridades é muito difícil e todos contamos com a militância e a competência dos profissionais da saúde pública, para evitar o pânico e atenuar os riscos a que todos estamos expostos.
Como referiu o primeiro-ministro António Costa, “esta é uma luta pela nossa própria sobrevivência”. Aprendemos isso nos últimos dois dias e, em especial nas últimas horas. Por isso, todos teremos que estar alerta e ter confiança em quem sabe, com serenidade e confiança.

terça-feira, 10 de março de 2020

Há uma ameaça de profunda crise global


Nas últimas horas acelerou-se o pânico no mundo, não tanto por causa da epidemia do Covid-19 e da sua perigosidade sanitária, mas sobretudo pelas suas consequências sobre as economias. Os jornais publicam gráficos que mostram que o Dow Jones, o Nasdaq e as principais bolsas mundiais caíram muitos pontos e continuam em queda, enquanto a Arábia Saudita decidiu cortar cerca de 30% nos preços do petróleo, o que comprova que para além do medo pelo Covid-19, há uma enorme incerteza e falta de confiança no que está para vir.
Não é preciso ser especialista para perceber a situação, pois basta olhar à nossa volta. A economia tem muitas facetas, mas assenta sobretudo em dois eixos – a oferta e a procura, ou a produção e o consumo. Quando a Itália está fechada em casa a cumprir uma forçada quarentena, significa que nada produz e que consome muito menos do que o normal, o que é catastrófico para a sua economia. Em vários países europeus, nomeadamente em Portugal, as coisas estão a seguir o mesmo caminho, pois as pessoas estão a ser convidadas a ficar em casa, foram fechadas muitas escolas e proibiram-se acontecimentos sociais, incluindo jogos de futebol, concertos e outros eventos que atraem muito público. A actividade económica já está a ser seriamente afectada, sobretudo no sector do turismo, com as reservas nos hotéis e nos navios de cruzeiro a serem canceladas, muitas feiras e congressos a serem suspensos e com as companhias aéreas a cortar milhares de voos por falta de procura. Apesar das medidas administrativas e sanitárias que estão a ser tomadas e dos discursos destinados a afastar o pânico, a situação pode tornar-se muito preocupante e levar a uma crise que, tal como vimos com a crise financeira de 2008, nada de bom nos trará.

domingo, 8 de março de 2020

A campanha eleitoral americana começou


As eleições presidenciais americanas realizam-se no dia 3 de Novembro de 2020, o que quer dizer que faltam menos de oito meses para que seja conhecido o futuro presidente dos Estados Unidos e que a campanha eleitoral vai entrar na sua fase mais intensa e mais decisiva.
As eleições primárias do Partido Democrata já começaram e nesta altura aparecem destacados os candidatos Joe Biden com 664 delegados eleitos e Bernie Sanders com 573 delegados designados, mas qualquer deles precisa de reunir 1991 delegados para garantir a nomeação do seu partido, sendo por agora imprevisível saber quem vai enfrentar o candidato republicano. No Partido Republicano, para além de Donald Trump que se vai recandidatar e quer ser reeleito, também há vários candidatos como por exemplo Bill Weld, o antigo governador do estado de Massachusetts.
As campanhas eleitorais nos Estados Unidos foram o berço da Sociologia Política, não só no que respeita à eficácia das suas mensagens, mas sobretudo no que se refere às formas de manipulação dos perfis dos candidatos e do estudo das formas de sedução do eleitorado. Os estados-maiores de todos os candidatos trabalham arduamente na criação de truques, hoje chamadas fake news, destinadas a valorizar os seus candidatos e a desvalorizar os candidatos adversários. 
Tudo isto vem a propósito da última edição da revista The New Yorker, que se dedica há quase um século à cobertura da vida cultural da cidade de Nova Iorque e que utiliza o humor nas suas apreciadas críticas, ensaios, reportagens e ilustrações. Pois esta revista, também entrou em campanha e a propósito do uso de máscaras para evitar o contágio do Covid-19, decidiu escolher para a sua capa a imagem de um Donald Trump ignorante e burgesso, que não sabe usar a máscara para se proteger do Covid-19, mas que insiste em querer ser presidente dos Estados Unidos. 
O facto é que, por vezes, uma imagem vale mais que mil palavras...

sábado, 7 de março de 2020

O surto do Covid-19 já se tornou global


Na passada semana a revista The Economist destacava na sua capa que o surto do novo coronavírus estava a tornar-se global, mas uma semana depois começa a poder afirmar-se que a epidemia já é global porque, segundo as últimas notícias, estão infectadas mais de cem mil pessoas, das quais 3.459 já morreram em 92 países, sobretudo na China, Coreia do Sul, Japão, Irão e Itália. O nervosismo instalou-se no mundo e em alguns casos já derivou para o pânico, porque embora as autoridades procurem serenar as populações, a indústria da informação e os seus agentes não resistem a esta oportunidade de sensacionalismo e, objectivamente, tudo fazem para as alarmar.
As medidas anunciadas pelos governos começam a ser drásticas e estão a afectar a tranquilidade e o modo de vida das pessoas, enquanto os efeitos desta situação sobre a economia já são muito perturbadores, com a brutal quebra do turismo, a redução da oferta no transporte aéreo, a queda da bolsa e da cotação do petróleo, o cancelamento de eventos desportivos e culturais. Os efeitos psicológicos do Covid-19 estão a ser devastadores e, como é evidente, mesmo que a sua agressividade se atenue rapidamente, o que até agora já aconteceu vai ter repercussões na economia mundial e a recuperação da confiança e da actividade económica vão demorar.  
Em Portugal o surto parece limitado por agora e as medidas adoptadas têm sido as que a OMS recomenda e que não têm diferido das que têm sido tomadas pelos seus parceiros europeus, embora haja um grande sensacionalismo da comunicação social, com alguns exageros e até alguma ansiedade por parte dos jornalistas estagiários do costume que, com toda a diligência, procuravam noticiar em primeira mão a detecção do primeiro caso positivo de infecção com o Covid-19.
Esta gente bem precisava de aprender a dar as notícias ou informar com exactidão e verdade, sem o sensacionalismo emocional com que nos assaltam e incomodam, até porque o assunto é demasiado importante para ser tratado por amadores.

terça-feira, 3 de março de 2020

A Catalunha retoma a sua luta autonómica

No passado sábado reuniram na cidade francesa de Perpignan, a cerca de trinta quilómetros da fronteira espanhola, cerca de cem mil independentistas catalães que ali se deslocaram para apoiar o Conselho pela República da Catalunha, uma organização criada por Carles Puigdemont para internacionalizar o independentismo catalão e para manter viva a resolução do Parlamento Catalão que no dia 27 de Outubro de 2017 declarou a independência da Catalunha. O encontro teve larga cobertura da imprensa catalã, embora alguns jornais se tivessem a ele referido como o picnic a Perpignan.
O independentismo é transversal à sociedade catalã e é representado sobretudo por três forças políticas: o Junts per Catalunya (JuntsxC) uma coligação de centro direita formada em 2017 que é dirigida a partir de Bruxelas por Carles Puigdemont, a Esquerra Republicana de Catalunya (ERC), um partido de centro-esquerda criado em 1931 e que é liderado por Oriol Junqueras que actualmente está na prisão, e a Candidatura de Unidade Popular (CUP) que se afirma de esquerda. Estas três formações têm, respectivamente, 34, 32 e 4 deputados no Parlamento Catalão, o que representa 51,8% do total de 135 deputados catalães.
Recentemente a ERC fez um acordo com o PSOE de Pedro Sanchez que permitiu que o governo espanhol fosse investido, mas não se conhecem as contrapartidas desse acordo. O que é público é que houve diálogo e negociação, o que não acontecia no tempo de Mariano Rajoy, o que é positivo para a democracia espanhola. Entretanto, Carles Puigdemont que foi muito ovacionado em Perpignan, parece passar por uma renovada fase de radicalismo e veio desvalorizar esse acordo e apelar à “luta definitiva”. Significa, portanto, que há um novo tipo de luta na Catalunha, que não é só contra Madrid e pela independência, mas que é também pela hegemonia do independentismo, ou por Puigdemont ou Junqueras. Quem não deve saber para onde se virar é Quim Torra, o independente indicado por Puigdemont que tem gerido a Generalitat de Catalunya.

segunda-feira, 2 de março de 2020

A agonia da língua portuguesa no Oriente

O Jornal de Letras, Artes e Ideias, ou simplesmente Jornal de Letras ou, ainda só JL, destaca na sua última edição que em Macau… ainda se escreve em português. Trata-se de uma edição especial dedicada à passagem do 20º aniversário da transferência da soberania para a República Popular da China, na qual alguns especialistas procuram responder à pergunta: o que ficou da cultura portuguesa?
Se fizermos uma analogia com o que se passa em Goa, rapidamente somos levados a pensar que, dentro de poucos anos, a cultura imaterial portuguesa terá desaparecido e que a cultura material portuguesa, isto é, os edifícios históricos e a arquitectura militar e religiosa, estarão “submersos” pelas gigantescas torres que vão nascendo pelo território. A língua portuguesa nunca foi a língua franca, nem em Goa nem em Macau, mas em tempos de globalização esse cenário agrava-se e a língua portuguesa é, cada vez mais, uma língua sem interesse prático, quase fossilizada e, sobretudo, uma língua que só alguns velhos ainda falam. Os esforços que têm sido feitos por várias entidades, quer em Goa quer em Macau, para manter viva a língua portuguesa não têm conseguido travar a sua lenta agonia. Pode haver muitos alunos a frequentar as escolas de português e até saber cantar A Portuguesa, mas esses alunos pensam e falam em inglês, em mandarim ou numa qualquer outra língua. Camões e Pessoa não lhes dizem nada.
É verdade que, no caso de Macau há três jornais que usam o português – Tribuna de Macau, Hojemacau e Ponto final – mas essa realidade é demasiado enganadora. Também é verdade que continua a haver alguns autores que, em Goa e em Macau, escrevem em português os seus livros de memórias e as suas reflexões sobre um outro tempo que viveram, mas esses autores são portugueses e esses casos são muito raros.
A língua portuguesa ainda será a língua oficial de Macau por mais trinta anos, mas nessa altura não portugalidade em Macau, nem haverá emprego para portugueses, nem a nova geração de macaenses falará português. É doloroso que isto aconteça, mas é a lei da vida ou o fluir da História.