sexta-feira, 30 de maio de 2025

Goa celebra o “Dia do Estado de Goa 2025”

Hoje é o Dia do Estado de Goa ou o Goa Statehood Day, pois perfazem-se 39 anos desde que a União Indiana reconheceu o território de Goa como o 25º estado da União. Hoje, o estado de Goa é marcado por um grande dinamismo económico, pela construção de muitas infraestruturas modernas e por exibir os melhores indicadores económico-sociais de toda a Índia. Os seus 3.702 quilómetros quadrados tornaram-se o alvo da atracção de todos os indianos que encontram em Goa uma harmonia social, um ambiente bastante cosmopolita e uma singular matriz cultural que fazem deste estado a “Europa da Índia”.
O território de Goa esteve sob soberania portuguesa até ao dia 19 de dezembro de 1961, data em que o governador Vassalo e Silva apresentou a rendição portuguesa às tropas da União Indiana que na véspera tinham invadido Goa e as outras possessões portuguesas por terra, mar e ar.
Seguiu-se um processo muito intenso em que os goeses tiveram que decidir se queriam integrar-se no estado de Maharashtra ou constituir-se como um estado autónomo. Prevaleceu esta opção depois de intensa luta política, bem como da promoção do concanim a língua oficial e, no dia 30 de Maio de 1987, Goa tornou-se o 25º estado da União. 
Na cidade de Pangim, que é a capital, podem ver-se inúmeros cartazes a anunciar a celebração do Dia do Estado de Goa 2025, com as fotografias do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e do ministro-chefe de Goa, Pramod Sawant, mas as autoridades governamentais também fizeram publicar um anúncio de meia página na capa de todos os jornais goeses, designadamente n’O Heraldo, the Voice of Goa since 1900.

terça-feira, 27 de maio de 2025

Gaza e o genocídio praticado por Israel

As atrocidades que o exército israelita vem praticando em Gaza não têm qualquer justificação como salienta o jornal Libération na sua edição de hoje. A recusa continuada do regime de Benjamin Netanyahu em proibir a entrada de ajuda humanitária, os bombardeamentos continuados com toda a espécie de armamentos e a destruição cirúrgica de hospitais e escolas a pretexto de poderem esconder terroristas, estão a causar cada vez mais repulsa internacional e a merecer a condenação de muitos países. Porém, ainda há líderes ocidentais comprometidos desde há muitos meses com o belicismo israelita e que aceitam a destruição de Gaza e do povo palestiniano, fornecendo-lhe armas e apoio político, enquanto as nossas estações televisivas estão cheias de comentadores que apoiam a cruel desumanidade do regime extremista de Israel. A palavra do Papa e do Secretário-Geral das Nações Unidas têm que valer. É tempo de dizer basta. É tempo de condenar aqueles que continuam a apoiar a destruição de Gaza e aqueles que, a coberto das suas liberdades comunicacionais, apoiam o morticínio que os israelitas estão a levar por diante em Gaza.
A paz e a tolerância entre os povos não se defendem com este tipo de gente.
Assim, como salienta o Libération, surgiu um apelo de 300 escritores franceses que afirma que “nós não podemos mais contentar-nos com a palavra “horror”, é preciso utilizar a palavra “genocídio”.
Genocídio é, portanto, sem quaisquer dúvidas, aquilo que os israelitas estão a fazer em Gaza e, já agora, sem que se ouça bem alto um grito português de veemente condenação.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Goa em dia da chegada da monção

Ontem cheguei a Goa, o estado indiano que esteve sob a soberania portuguesa até 1961 e que, por razões diversas, não visitava desde há vários anos. Viajei de Lisboa num voo da Qatar Airways com escala em Doha, bem acompanhado, com conforto e com um excelente serviço de bordo.
No mesmo dia a monção chegou a Goa e, segundo a edição de hoje do jornal The Navhind Times que se publica em Pangim, apareceu com onze dias de avanço em relação à data habitual. A data “oficial” em que a monção chega a Goa é o dia 5 de junho, mas nos últimos dez anos chegou atrasada sete vezes, adiantada duas vezes e só em 2021 chegou no dia esperado. Nos últimos vinte anos nunca chegara tão cedo e todas estas “anomalias” da meteorologia da costa ocidental da Índia são atribuídas às alterações climáticas. 
A monção vai “permanecer” em Goa até meados de setembro, com chuva quase contínua e muitas vezes torrencial, que perturba a vida económica e social, inunda os campos, imobiliza a frota pesqueira e desertifica praias que são batidas por mares tempestuosos. Porém, a monção também é uma fonte de vida, pois atenua o calor intenso que aquecera o ambiente e, em poucos dias, faz despontar uma paisagem verdejante que traz consigo a marca da abundância para as populações rurais. Naturalmente, a monção tem sido inspiradora de uma boa parte da literatura goesa, mas também de práticas culturais muito diversas. 
Estar em Goa em tempo de monção é um verdadeiro privilégio,  sobretudo em termos históricos e culturais, até porque uma boa parte da expansão marítima portuguesa do século XVI foi condicionada pela mesma monção que ontem chegou a Goa.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Gaza e o tardio acordar da velha Europa

Depois de muitas semanas em que o mundo ignorou a brutalidade e a desproporcionada violência com que as forças de Benjamin Netanyahu atacaram o povo palestiniano na Faixa de Gaza a coberto da sua luta contra o Hamas e a sua legítima tentativa de libertação de reféns, parece que os líderes europeus finalmente acordaram para a gravíssima situação humanitária que está criada. Provavelmente, tarde demais.
A situação é muito antiga e muito complexa, mas foi definida em 1947 no quadro das Nações Unidas, quando na sua Resolução 181 determinava a partilha das terras entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, prevendo a criação de um estado judeu e de um estado átabe – Israel e Palestina – mas desde então os confrontos são permanentes, com Israel a ocupar largas parcelas do território palestiniano. No dia 22 de outubro de 2023 a situação agudizou-se com a brutal acção do Hamas, mas logo os Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e Itália lançaram uma declaração conjunta, apoiando o direito de Israel se defender. Israel defendeu-se e contra-atacou de maneira desproporcionada e brutal, perante a cumplicidade dos países ocidentais que lhe fornecem armas e lhe dão apoio político. O regime extremista de Benjamin Netanyahu tem prosseguido uma acção de verdadeiro extermínio da população palestiniana na Faixa de Gaza, não só pelas bombas, mas também pela fome.
Nas últimas horas, conforme relata o diário catalão La Vanguardia e outros jornais europeus, surgiram vozes a condenar abertamente Benjamin Netanyahu, sobre quem o TPI já emitiu três mandatos de captura por crimes de guerra, incluindo a fome “como método de guerra”.
A indiferença ou o apoio, disfarçado ou não, perante a violência israelita, é uma das mais tristes marcas da decadência com que os líderes europeus estão a conduzir o velho continente.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Mudam-se tempos, mudam-se vontades

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, escreveu Luís de Camões num dos seus mais conhecidos sonetos, escrito há mais de 500 anos. Esta ideia de mudança, ocorre-nos quando vemos o que está a acontecer no Reino Unido, no que respeita à sua relação com a União Europeia, pois a mudança dos tempos está a mudar as vontades.
O Reino Unido aderiu em 1973 à Comunidade Económica Europeia (CEE), mas depois de muitas crises e muitas zangas com os poderes europeus, decidiu realizar um referendo em 2016 sobre a sua permanência na União Europeia (EU), a entidade que sucedera à CEE, tendo havido 52% de votos no leave e 48% de votos no remain. Nestas circunstâncias, iniciou-se um demorado processo de divórcio e só no dia 31 de janeiro de 2020 aconteceu formalmente a saída do Reino Unido da União Europeia. Desde então, os primeiros-ministros do Reino Unido foram Boris Johnson, Liz Truss, Rishi Sunak e, desde julho de 2024, o actual primeiro-ministro Keir Starmer.
A actual crise ucraniana e a turbulência causada pela presidência de Donald Trump nos Estados Unidos fez com que, quase nove anos depois de ter votado a saída da EU, o Reino Unido, pela acção de Keir Starmer, e a União Europeia, através de António Costa e Ursula von der Leyen, chegassem a um amplo acordo na área da defesa, na redução das restrições aos exportadores de alimentos, no turismo e em acordos de pesca. Keir Starmer procurou o acesso ao mercado europeu em algumas áreas para alavancar a economia do Reino Unido, procurando não entrar no mercado único para não irritar o eleitorado conservador que sempre defendeu o brexit.
O facto notável, como hoje salienta The Independent, é que o Reino Unido e a União Europeia "mudam a página", isto é, mudaram-se os tempos e estão a mudar-se as vontades, o que está a conduzir a uma maior unidade da Europa, que bem precisa de se unir e ter alguém com autoridade e prestígio para a representar..

Ainda o acidente do veleiro “Cuauhtémoc”

O jornal nova-iorquino Daily News dedicou toda a sua primeira página da edição do dia 19 de maio à “tragedy of tall ship”, mas hoje voltou a destacar o estranho acidente ocorrido no porto de Nova Iorque com o navio-escola mexicano Cuauhtémoc, ilustrando-o com uma fotografia onde se vêem os seus mastros partidos e as velas caidas.
O jornal afirma que as autoridades federais estão a investigar o “ship horror”, pois parece ter acontecido uma “tempestade perfeita” onde terão havido muitos erros humanos, de que resultou a morte de dois cadetes. O veleiro Cuauhtémoc largava do cais com os cadetes alinhados nos mastros a fazer as tradicionais saudações de largada do porto, sendo auxiliado nessa manobra por um velho rebocador, sem que lhe passasse um cabo de reboque e limitando-se a poder empurrá-lo, se fosse necessário. Porém, o rebocador era de pouca potência para aquela manobra e, a bordo, tanto o comandante como o piloto americano, não terão percebido a situação, talvez deslumbrados pelas luzes da Big Apple, ou pelas saudades que ficaram no cais.
A corrente arrastou o navio em direcção à Ponte de Brooklyn, sem que o comandante o detivesse com motores ou com âncoras. Os três mastros de 147 pés, iluminados e cheios de cadetes, embateram no tabuleiro inferior da ponte que está a 135 pés de altura e partiram-se. Houve dois cadetes mortos e duas dezenas de feridos, mas dizem as crónicas que foi uma sorte os mastros não terem caido ao rio com os cadetes. Entretanto. 172 cadetes já regressaram ao México, enquanto dois ainda estão hospitalizados. A viagem de instrução de cadetes ,terminou pois o navio vai ser repareado em Nova Iorque.
O porto de Nova Iorque gosta de receber os tall ships e este acidente suscitou muito interesse por parte da imprensa local.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Acidente raro com veleiro em Nova Iorque

Os grandes veleiros marcaram a história da navegação marítima do século XIX, quando o comércio se globalizou e a navegação à vela competia em velocidade e economicidade com a navegação a vapor, sobretudo nas grandes rotas oceânicas que ligavam a Ásia e a América à Europa. Alguns desses veleiros, como os tea clippers Cutty Sark e Thermopylae foram, porventura, os mais famosos tall ships desse tempo e a memória das suas corridas perdurou no tempo, pelo que o culto pelos veleiros se manteve até aos nossos dias nas nações marítimas. Alguns foram preservados e outros foram construídos de novo, como símbolos de uma era histórica, como património cultural ou como escola de formação náutica, suscitando sempre a admiração de quem os vê.
Assim sucede em Portugal (Sagres), na Espanha (Juan Sebastián de Elcano), Alemanha (Gorch Foch), na Itália (Americo Vespucci), no Chile (Esmeralda), nos Estados Unidos (Eagle) e no México (Cuauhtémoc), entre muitos outros.
No passado sábado o navio-escola mexicano Cuauhtémoc largava de Nova Iorque com rumo à Islândia com 277 tripulantes. Estava a manobrar no East River, no "east side" de Manhattan e nas proximidades da histórica Ponte do Brooklyn. Algo de anormal se passou que está a ser investigado, mas alguns filmes mostraram o navio com seguimento e aparentemente desgovernado a navegar em direcção à ponte. Um velho rebocador que auxiliava na manobra não terá sido eficaz e, a bordo, não se lembraram de fundear o navio. Eram cerca de 20.30 horas e já anoitecera. Os três mastros iluminados do veleiro (147 pés), embateram com estrondo no tabuleiro inferior da ponte (135 pés) e partiram-se. Havia tripulantes nos mastros e houve dois cadetes mortos e vinte tripulantes feridos, alguns com gravidade.
Os jornais mexicanos e nova-iorquinos destacaram este invulgar acontecimento, como fez o jornal La Jornada que se publica na Cidade do México e que escreveu: “choca buque de la Armada en Nueva York”.

domingo, 18 de maio de 2025

O próximo primeiro-ministro de Portugal

Estão a decorrer hoje em Portugal as eleições legislativas antecipadas e a última edição do jornal i, que na capa exibia as fotografias de Pedro Nuno Santos e de Luís Montenegro, vaticinava que “um deles será o próximo primeiro-ministro”. É natural que venha a ser assim e, ao fim da tarde, começaremos a saber isso.
Concorrem 21 forças políticas e a campanha eleitoral foi longa, decepcionante e demasiado vulgar, com algumas avenças e azias por esclarecer e com um impressionante e preocupante silêncio sobre as questões de segurança e defesa, que nesta altura estão a dominar muitas agendas europeias, como se a nossa vontade democrática não contasse perante os interesses bélicos representados por Ursula von der Leyen e Mark Rutte. Nessa matéria, os portugueses deveriam ter sido esclarecidos quanto às famosas escolhas de Paul Samuelson – canhões ou manteiga – bem como aos efeitos de cada umas destas escolhas sobre o nosso modelo social, o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, numa altura em que ainda subsistem feridas e dolorosas memórias da guerra colonial. Os candidatos que o jornal i afirma estarem à frente, foram demasiado calculistas e também não exprimiram uma ideia a respeito do genocídio que está a acontecer em Gaza, nem uma palavra de condenação pela barbárie conduzida pelo regime de Benjamin Netanyahu. Não tendo sido feito aquele debate nem esta condenação, este silêncio parece significar que o futuro primeiro-ministro quer que os portugueses lhe passem um cheque em branco nestas matérias.
Quanto à generalidade dos temas da campanha aconteceu o habitual, com todos os candidatos a anunciaram promessas que não têm qualquer viabilidade económica, apenas porque não há recursos que as possam satisfazer, o que significa que não passam de evidentes casos de propaganda e de autêntica “caça ao voto”, que muitas vezes até foram ofensivas da inteligência dos portugueses.
Esta noite vai haver um vencedor, mas não se sabe que tipo de governo teremos, nem com que coligações ou com que apoios contará, mas aqui desejamos uma feliz navegação ao futuro primeiro-ministro de Portugal.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Crónica de 4000 exercícios de escrita

Com o presente texto, a Rua dos Navegantes publica hoje o seu post número 4000 e o comentário que esta marca me sugere é que este blogue me tem sido muito proveitoso, não só para me manter interessado nas coisas que acontecem no mundo pela via da Imprensa, mas também como instrumento que me tem proporcionado um treino regular na prática da escrita.
O blogue nasceu no dia 20 de Janeiro de 2011 e é uma actividade que me acompanha há mais de 14 anos, o que corresponde aproximadamente a 745 semanas ou a 5220 dias.  Os 4000 textos escritos e publicados têm cerca de 6 milhões de caracteres e são exercícios de escrita que foram preparados de forma independente, sem sujeições exteriores de ordem política, religiosa ou cultural, essencialmente como um exercício de escrita a que me obriguei quase diariamente e quase como um divertimento.
Nunca foi minha intenção ter qualquer tipo de intervenção no espaço público. Os textos nunca pretenderam expor os meus quotidianos ou as minhas ansiedades pessoais, pois apenas procuraram observar a actualidade, tendo sido sempre mais de natureza narrativa e menos de carácter opinativo. A qualidade literária não foi a minha preocupação dominante, mas procurei evitar a desinformação (fake news), a manipulação da verdade, os temas fracturantes, o sensacionalismo e a difamação de quem quer que seja, inclusive de protagonistas políticos ou sociais com quem discorde.
Sobre o que escrevi, eu próprio tenho uma opinião assimétrica, pois enquanto tem havido textos que muito me realizaram, também houve narrativas menos conseguidas, possivelmente menos rigorosas e até opiniões menos fundamentadas.
Finalmente, uma palavra final de gratidão é devida aos meus leitores que, não sendo muitos, são muito bons: os seus comentários foram sempre um incentivo muito apreciado para que eu melhorasse as minhas observações sobre o que leio nos jornais.

Europe’s free speech problem

A mais recente edição da prestigiada revista The Economist apresenta uma ilustração na capa, com um rosto humano cuja boca é um fecho éclair, destacando um artigo assinado por Jacob Mchangama, que intitulou “Europe’s free speech problem”.
O interessante artigo parte de declarações feitas por J.D. Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos, que há algumas semanas acusou a Europa de não proteger a liberdade de expressão.
Todos os países europeus garantem o direito à liberdade de expressão, mas em quase todos se procura limitar esse direito, ao proibirem-se discursos como a pornografia infantil, as fugas de informação de segredos de estado ou o incitamento deliberado à violência física.
Porém, o problema é mais abrangente e o facto é que, segundo o artigo referido, “os europeus estão a tornar-se menos livres para dizer o que pensam” e até as opiniões recolhidas regularmente pelo Eurobarómetro são cirurgicamente postas de lado. Cada vez mais, os europeus estão a ser cilindrados pelas burocracias de Bruxelas, pela imposição de uma unicidade de pensamento e pelos discursos irresponsáveis dos seus dirigentes que se têm envolvido num belicismo que as populações não lhes encomendaram (no caso da Ucrânia) e num vergonhoso silêncio (no caso de Gaza). A Europa tem vozes a mais, protagonistas a mais e vaidades a mais. Os dirigentes europeus adoram encontrar-se em cimeiras vazias de conteúdo, “vivem em hotéis de 5 estrelas” e estão a envergonhar a própria história da Europa. No panorama internacional contam cada vez menos, como se está a ver no caso da Ucrânia, em que ninguém com peso os quer ver à mesa das negociações.
Sim, é verdade o que diz The Economist, há mesmo um problema de liberdade de expressão na Europa.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Genocídio em Gaza e o silêncio do mundo

Na sequência do condenável ataque do Hamas contra cidadãos israelitas acontecido no dia 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1200 mortos e 250 reféns, a retaliação israelita contra a Faixa de Gaza tem sido desproporcionada, provocou mais de 52.900 mortos e causou a destruição de grande parte das infraestruturas do território onde vivem 2,4 milhões de pessoas. O mundo, especialmente a Europa, tem assistido a esta catástrofe com demasiada indiferença, ou mesmo com indisfarçada cumplicidade.
A imprensa ignora ou desvaloriza a catástrofe que está a atingir o povo da Palestina e uma excepção é a reportagem na edição de hoje do jornal católico francês La Croix.
Com a falsa narrativa da libertação dos reféns, os extremistas israelitas têm conduzido uma operação de extermínio dos palestinianos e de destruição de Gaza, que envergonha o mundo, viola os direitos humanos e é um crime contra a Humanidade. A intenção de exterminar o povo palestiniano e de transformar o território de Gaza na Riviera do Médio Oriente, como anunciou Donald Trump, tem sido seguida pelo tirano Benjamin Netanyahu. Em paralelo, desde o dia 2 de março que os israelitas bloquearam a entrada da ajuda humanitária para vergar os palestinianos pela fome, sendo já reportadas situações de fome catastrófica, de subnutrição aguda, de doença e de morte. Há apenas dois dias, Netanyahu afirmou que o exército israelita vai entrar em Gaza nos próximos dias “com toda a força para completar a operação e derrotar o Hamas" e disse não ver qualquer cenário em que possa parar a guerra.
Finalmente, o presidente Emmanuel Macron veio dizer que o bloqueio de ajuda humanitária ao enclave palestiniano é "vergonhoso" e que a União Europeia precisa repensar a associação com Israel. Macron falou tarde e a más horas, mas devem lágrimas de crocodilo.
Neste pequenino Portugal, os nossos dirigentes estão calados. Que tristeza!

Não haverá “rendez-vous” em Istambul

Depois de mais de três anos de guerra, está previsto para hoje em Istambul, um encontro directo entre russos e ucranianos, o que é uma boa notícia para aqueles que defendem uma solução pacífica e negociada para um conflito que muito tem sacrificado o povo ucraniano, a principal vítima da cegueira política de muitos dirigentes daquela região e do mundo. O tema é melindroso – rivalidades históricas, provocações, feridas de guerra, cessar-fogo, paz – mas as duas partes conhecem-se bem e podem ir directamente ao assunto. 
Havia a expectativa de Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky se encontrarem frente-a-frente, mas nas últimas horas foi anunciado que Putin não iria falar com Zelensky e o “rendez-vous d’Istambul”, que hoje era anunciado pelo jornal francês La Dépêche du Midi, não se irá realizar, o que até pode facilitar o arranque do processo.
Tanto Donald Trump como Recep Tayyip Erdogan investiram muito neste encontro e estarão atentos ao que se vai passar, porque “é inútil prolongar a matança”, enquanto os líderes europeus estarão mais uma vez a fazer um papel de actores secundários neste drama. O verdadeiro objectivo de todos estes líderes não é a protecção do povo ucraniano, mas tão só a satisfação dos seus interesses nacionais, ou mesmo pessoais, como se vê com a ultrapassagem que Donald Trump fez aos europeus que, nesta matéria, têm sido incompetentes e pouco inteligentes, como têm mostrado Boris Johnson, Jens Stoltemberg, Ursula von der Leyen, ou essa nova estrela do belicismo que é o luterano Mark Rutte.
No encontro de hoje em Istambul não surgirão quaisquer conclusões, mas é um importante primeiro encontro das duas partes para, passo a passo e cara a cara, caminharem para o entendimento, a pacificação e a reconciliação.
Um dia, libertado da propaganda e na posse da verdade histórica, o sacrificado povo ucraniano saberá quem o empurrou para a tragédia que está a viver.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A turbulência política chegou à Sérvia

A República da Sérvia é um país situado na península dos Balcãs e que integrou a antiga República Socialista Federativa da Jugoslávia, tendo influências culturais dos impérios, romano, bizantino e otomano. 
O seu território tem uma superfície equivalente a Portugal com cerca de sete milhões de habitantes e faz fronteira com oito países - a Albânia, o Montenegro, a Bósnia-Herzegovina, a Bulgária, a Croácia, a Hungria, a Macedónia do Norte e a Roménia. Quatro destes países são membros da União Europeia e a República da Sérvia apresentou a sua candidatura oficial à adesão em 2009.
O jornal catalão El Punt Avui dedicou a sua última edição à situação por que passa a Sérvia, onde acontecem protestos antigovernamentais liderados por estudantes e cresce a onda de indignação e a contestação ao autoritarismo do presidente Aleksandar Vučić e à “corrupção endémica das elites”. 
Há uma explosão de raiva no país e a onda de protesto parece estar em linha com a tendência mais ampla que se verifica nos Balcãs de rejeição do autoritarismo. Surpreendentemente, a União Europeia mantém-se em silêncio perante a situação e não tem condenado a repressão das autoridades sobre os manifestantes que, segundo refere o jornal, saem à rua sem exibir bandeiras da União Europeia.
É caso para dizer que, também na Sérvia, há fortes sinais de instabilidade.

Tensão continua na fronteira da Caxemira

A Índia e o Paquistão, um de maioria hindu e outro de maioria muçulmana, sustentam uma rivalidade histórica e, nos últimos dias, estiveram envolvidos em confrontações fronteiriças que envolveram mísseis, drones e ataques aéreos. Com a mediação americana, a diplomacia funcionou e aqueles dois países que dispõem de armas nucleares acordaram num cessar-fogo, o que muito aliviou o mundo, embora a tensão continue muito elevada. 

Tanto o regime de Nova Delhi, como o regime de Islamabad, cultivam um nacionalismo religioso muito exacerbado e sobre o acordo de cessação das hostilidades, trataram de fazer declarações destinadas a satisfazer as suas populações. Assim, o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif, disse que o Paquistão tinha dado uma lição à Índia, mas o primeiro-ministro indiano Narendra Modi veio declarar exactamente a mesma coisa, isto é, que tinha dado uma lição aos paquistaneses. Apesar do cessar-fogo estar a ser cumprido, há notícias – verdadeiras ou não – de se terem verificado violações do que foi acordado. Narendra Modi parece não confiar no cessar-fogo, visitou algumas bases militares e dirigiu-se ao país pela televisão, afirmando que “a Índia apenas suspendeu a sua acção militar”, ou “it’s a pause”, como escreveu em título The New Indian ExpressEstas escaramuças parecem ter sido as mais graves desde 1999, mas apesar do cessar-fogo, as tensões continuam muito elevadas e as declarações de Modi não são no sentido da moderação...

terça-feira, 13 de maio de 2025

A Índia e o Paquistão pararam a tempo

Depois de mais de duas semanas de tensão, acusações, ameaças e alguns confrontos entre indianos e paquistaneses na fronteira da Caxemira, foi anunciado um cessar-fogo e o mundo respirou de alívio. Antes, a Índia e o Paquistão estiveram em guerra em 1947-48, 1965, 1971 e 1999, mas nesse tempo ainda não eram potências nucleares…
A Caxemira é uma região situada a noroeste da península do Indostão que está repartida entre a Índia e o Paquistão, com uma pequena parte ocupada pela China, mas desde as suas independências em 1947, que aquelas duas antigas parcelas do Império Britânico estão em conflito e aquela é considerada uma das “mais perigosas fronteiras do mundo”. Então, uma resolução das Nações Unidas decidiu que deveria ser feito um plebiscito para que a população decidisse o seu futuro, mas como nunca foi feito, a Índia incorporou a Caxemira, o que contrariou as pretensões do Paquistão e da maioria da população muçulmana. Houve guerra e a Índia ficou com dois terços do território e o Paquistão com um terço, mas o assunto nunca ficou resolvido e a tensão tem-se mantido.
No dia 22 de abril aconteceu um ataque de um grupo terrorista baseado no Paquistão que fez 26 mortos num local turístico da Caxemira indiana, a que se seguiram trocas de tiros ao longo da LoC (Line of Control). As tensões aumentaram na sequência de ataques aéreos indianos contra alvos militares em território paquistanês, que terão morto 31 civis e ferido 57 paquistaneses. Continuaram as retaliações e, pela primeira vez, as duas potências nucleares rivais dispararam mísseis e lançaram drones. O mundo preocupou-se e até o novo Papa Leão XIV pediu a paz. No dia 10 de maio aconteceu o cessar-fogo e o mundo respirou de alívio. A diplomacia ganhou como escreveu o The Wall Street Journal.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Habemus Papam: viva o Papa Leão XIV

Ao segundo dia da votação saiu fumo branco da chaminé da Capela Sistina e estava escolhido o novo Papa. Ontem, pelas 19 horas locais, milhares de pessoas na praça de São Pedro e milhões em directo pela televisão, viram o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, que escolheu o nome de Leão XIV, saudar o mundo com uma mensagem de paz.
O novo Papa tem 69 anos de idade, foi missionário e arcebispo no Peru, onde adquiriu a nacionalidade peruana, cumulativamente com a sua nacionalidade americana, pelo que tem sido conhecido como “o pastor de duas pátrias”, pois também é arcebispo-emérito de Chicago, a cidade onde nasceu.
Segundo foi divulgado, o novo Papa não é simplesmente o cardeal Prevost vestido de branco, pois o nome que escolheu representa a assunção de uma nova identidade e de uma nova personalidade, inspiradas na doutrina social da Igreja e no pontificado de Leão XIII.
Não faltaram as saudações ao novo Papa vindas do mundo inteiro e nas suas edições de hoje, toda a imprensa mundial publica a fotografia de Leão XIV, de quem se espera a continuação da obra do Papa Francisco e um trabalho de apaziguamento mundial num tempo de muitas incertezas.
O Diário de Notícias foi exactamente um dos jornais que dedicou a sua primeira página ao novo Papa Leão XIV, de quem se espera um pontificado na linha do Papa Francisco e uma luta contínua e intransigente pela paz na Ucrânia, na Palestina, na Caxemira e rm todo o mundo.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

No Vaticano já houve fumo... negro

Ontem, na Capela Sistina, o Conclave reuniu pela primeira vez para eleger o novo Papa. São 133 cardeais com menos de 80 anos de idade que têm a missão de escolher o sucessor do Papa Francisco, o homem que vai dirigir a Igreja Católica e os seus 1.406 milhões de seguidores espalhados por todos os continentes, principalmente na América e na Europa, mas que também vai governar o Estado do Vaticano e dirigir a diocese de Roma. 
O novo Papa será o 267º Sumo Pontífice da Igreja Católica e, depois de um Papa polaco, de um Papa alemão e de um Papa argentino, há uma curiosidade enorme em saber-se quem será o escolhido. Um Papa de um outro continente? Um Papa reformador como foi o Papa Francisco? Um regresso aos Papas italianos?
Depois de várias horas em que o Conclave esteve reunido e após a primeira votação, a chaminé do Vaticano expeliu fumo negro, indicando que os cardeais ainda não tinham escolhido o novo Papa, conforme hoje noticiou o jornal La Región, que se publica na cidade galega de Ourense.
Cerca de 30 mil pessoas esperaram durante muitas horas na praça de São Pedro na expectativa de poderem ver fumo branco, embora a tradição nos diga que no primeiro dia nunca há fumo branco.
A partir de hoje haverá quatro votações diárias, mas são bem sabidas as grandes dificuldades do colégio de cardeais quanto à decisão a tomar, numa altura de grande incerteza no mundo e em que o Papa pode ter um importante papel na busca da paz, da harmonia universal e do bem comum.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Apesar de tudo, as touradas resistem...

A península Ibérica é uma região geográfica que integra dois países, várias regiões autónomas sob soberania espanhola e é composta por diferentes realidades culturais, bem visíveis em todos os domínios, incluindo a língua que é habitualmente considerada como o elemento mais importante na definição das identidades.
O território ibérico foi habitado por muitos povos bárbaros como os alanos e os suevos, os francos e os gregos, os romanos e os árabes, todos eles deixando marcas culturais nas regiões por onde passaram ou ocuparam, de que resultou uma enorme diversidade cultural nas diferentes regiões peninsulares. Daí que a Espanha, mas também Portugal, conservem costumes e tradições com fortes raízes históricas, algumas delas com o estatuto de patrimónios imateriais da Humanidade, como acontece em Espanha com a Semana Santa de Sevilha, as Fiestas de San Fermin em Pamplona, a Feria de Abril de Sevilha, as Fallas de Valencia, a Tomatina de Buñol, ou o Flamenco da Andaluzia, ou em Portugal, com as Festas da Senhora da Agonia, a Festa dos Tabuleiros, o Cante Alentejano, ou as Festas Sanjoaninas de Angra do Heroísmo. Porém, em maior ou menor grau, um outro símbolo do interesse cultural ibérico são as touradas, que têm resistido â pressão dos movimentos e dos partidos que defendem os direitos dos animais.
Na sua edição de hoje, a edição de Sevilha do diário ABC destaca a abertura da época taurina em Espanha e a figura do famoso matador e ídolo da afición que é José António Morante Camacho, conhecido nas tertúlias tauromáquicas como Morante de la Puebla, o rei dos toureiros.
Apesar de todos os movimentos contra as touradas e em defesa dos animais, a fiesta brava continua a entusiasmar os espanhóis e a merecer destaque na imprensa, embora a festa brava em Portugal seja cada vez mais marginalizada e já não tenha espaço nos jornais nem na televisão.

Os 100 dias que já abalaram o mundo

Donald John Trump, o 47º presidente dos Estados Unidos, completou os primeiros cem dias do seu mandato e, um pouco por todo o mundo, fizeram-se balanços sobre as consequências internas e externas das suas decisões. Estas são de tal forma destabilizadoras da ordem mundial que se diz terem sido ”100 dias que abalaram o mundo”, a lembrar o famoso livro de John Reed sobre a revolução russa de 1917 e o fim dos czares, a que deu o título de “Os dez dias que abalaram o mundo”.
Donald Trump está a criar o caos no mundo, ao questionar alianças militares, ao negar acordos e práticas comerciais consolidadas e ao alimentar confrontos e incertezas. Depois de ter prometido acabar com a guerra da Ucrânia em 24 horas e de ter alinhado com as posições russas e contrariado as posições europeias, tem alternado declarações que no essencial desvalorizam e até humilham os dirigentes europeus. As suas declarações quanto à Gronelândia e ao Canadá são demasiado agressivas e mostram como são enviesadas as suas noções sobre soberania nacional, enquanto as suas deportações em massa demonstram como são erradas as suas ideias sobre direitos humanos.
A aliança euro-atlântica construída desde a primeira Guerra Mundial está em risco e com ela o equilíbrio em que se tem baseado a vida de dois continentes e até do mundo.
Nos Estados Unidos, cuja população se entusiasmou com o Make America Great Again e lhe deu o seu voto, o protesto para travar Donald Trump já começou por todo o país, porque a economia desacelerou, o desemprego e o custo de vida aumentaram e os mercados financeiros caíram. Mesmo os trumpistas não terão imaginado que se pudesse ir tão longe na destabilização da ordem mundial. 
A situação é complexa e ainda não se vê a luz ao fundo do túnel do desanuviamento das relações euro-atlânticas que o Donald John Trump tem incendiado.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O dia do grande apagão ibérico

Aconteceu no dia 28 de Abril pelas 11 horas e 30 minutos. O fornecimento de energia eléctrica foi interrompido e nas nossas casas cessou a iluminação, calou-se a televisão, perdeu-se a internet e os telefones deixaram de funcionar. Os elevadores do prédio em que residimos deixaram de funcionar e porque não estávamos preparados com telefonias alimentadas a pilhas, estivemos sem quaisquer informações quanto à previsibilidade desta anomalia. No exterior paralisou a rede do metropolitano e no aeroporto cessaram todas as operações. Fecharam as escolas e o comércio, apagaram-se os sinais luminosos de regulação do trânsito. Parece que os geradores de emergência não funcionaram porque não tinham combustível... O Governo e a Protecção Civil parece que ficaram imobilizados. Com paciência fomos esperando, enquanto as horas passavam.
Quase doze horas depois o fornecimento de energia eléctrica foi retomado e em poucos minutos a nossa vida voltou à normalidade. O colapso energético, ou o apagão, terminou.
Então, as estações televisivas encheram-se de “especialistas” para explicar o que não sabiam e de alguns políticos que aproveitaram a oportunidade para integrar esta situação no combate eleitoral que aí vem. Embora o assunto seja tecnicamente muito complexo, toda aquela gente parecia dominá-lo sem quaisquer hesitações. Porém, entre muitas explicações especulativas e até fantasiosas, ficamos a saber que o problema afectou toda a península Ibérica, mas também algumas regiões da França, da Itália e de outros países. Houve quem afirmou que até podia ter sido um ciberataque ou insinuasse que podia ser a preparação de uma invasão estrangeira.
Toda a imprensa ibérica do dia 29 de Abril, designadamente o jornal madrileno ABC, destacou este acontecimento sem precedentes e que mostra como somos demasiado vulneráveis nos nossos quotidianos. Certamente que, muitos se lembraram do sofrimento por que passa o povo ucraniano, que é vítima da inoperância de muitos líderes de muitas bandeiras, que demoram a encontrar soluções para o conflito que ali ocorre desde 2014 e, de forma mais intensa, desde 2022.