quinta-feira, 30 de maio de 2013

Gaspar já sacode a água do capote



Esta semana a OCDE veio lançar nuvens muito negras sobre o nosso futuro ao prever que Portugal não atingirá as metas governamentais do défice público em 2013 e 2014, para além de apresentar previsões mais pessimistas para o consumo privado, o investimento e a dívida pública. No mesmo sentido se pronunciou a Comissão Europeia ao estender por mais um ano o período para fazer baixar o défice abaixo dos 3%. 
Ora, neste quadro de notícias nada animadoras em que a economia se afunda e a vida de milhões de portugueses se está a transformar num desgastante calvário, o verdadeiro responsável por este desastre veio dizer que o Memorando que rege o nosso programa de ajustamento “foi mal negociado”. Só agora, ao fim de dois anos, ele viu isso! Onde estava ele quando foi dito “este é o nosso programa”? Ou quando o nosso primeiro dizia que “queremos ir para além da troika”? Será que não ouviu o seu colega Catroga vangloriar-se porque a negociação com a troika “foi essencialmente influenciada” pelo seu partido? Ou que não ouviu Lobo Xavier e Pacheco Pereira a afirmarem que foi o seu partido que forçou a vinda da troika? Se ele tivesse andado noutra escola teria aprendido a frase de Bento de Jesus Caraça que está afixada no átrio do ISEG: “se não receio o erro é porque estou sempre pronto a emendá-lo”. Porém, ele não reconhece o erro e teimosamente insiste e não se emenda. Esconde-se das evidências e, agora, “sacode a água do capote”. E para nos distrair deste enorme sarilho, recorre a um truque desapropriado, com aquele pedido de simpatia pelas semanas difíceis que tem vivido como adepto de futebol.
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Há outros ventos a soprar de Bruxelas?



A Comissão Europeia anunciou ontem, pela voz de Durão Barroso, que como consequência do diagnóstico que efectuou à situação económica dos estados-membros, decidiu recomendar o prolongamento do prazo para que seis países possam corrigir os seus défices e atingir a meta de 3%. Assim, Portugal terá que atingir um défice de 5,5% do PIB no corrente ano, depois 4,0% em 2014 e 2,5% em 2015. A Espanha terá mais dois anos para corrigir as suas contas públicas, devendo atingir este ano um défice de 6,5%, 5,8% em 2014 e 2,8% em 2016. A França, a Holanda, a Polónia e a Eslovénia também terão mais tempo para apresentar resultados. 
Esta decisão revela que a União Europeia está a passar por grandes dificuldades económicas, mas também mostra que se começa a perceber que as políticas de austeridade só têm agravado a recessão e o desemprego. Embora tardiamente, os temas do crescimento e da criação de emprego entraram no discurso oficial da Comissão Europeia e até Durão Barroso parece ter-se libertado dos diktats alemães. No final do ano de 2012, segundo o Eurostat, os 27 estados-membros da União Europeia tiveram um défice médio de 4% do PIB e houve 17 estados que ultrapassaram o limite de 3%, tendo as maiores escorregadelas sido protagonizadas pela Espanha (10,6%), Grécia (10,0%), Irlanda (7,6%), Portugal (6,4%), Reino Unido e Chipre (6,3%) e França (4,8%). A União Europeia acordou tarde, mas parece que outros ventos começaram a soprar de Bruxelas e que o desemprego tomou o primeiro lugar na agenda europeia.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A guerra sem vencedores nem vencidos


Nos últimos dias a guerra civil na Síria voltou às primeiras páginas dos jornais franceses, provavelmente por pressão da sua indústria de armamento.  Um deles é o diário católico La Croix que na sua edição de hoje titula ˝A Damas, entre guerre et vie˝.
A Síria é um país do Médio Oriente com 185 mil quilómetros quadrados de superfície e cerca de 20 milhões de habitantes, o que significa que tem o dobro da superfície e da população de Portugal.
Desde Janeiro de 2011, na sequência de protestos enquadrados na chamada Primavera árabe, que os opositores e os defensores do regime de Bashar al-Assad se confrontam numa guerra civil de grande violência. Ao fim de 26 meses de confrontação já morreram mais de 80 mil pessoas, houve 1,5 milhões de refugiados nos países vizinhos e mais de 5 miilhões de pessoas que se deslocaram internamente para fugir das áreas de combate. A Rússia e a China, mas também o Irão, apoiam claramente o regime de Bashar al-Assad, enquanto os Estados Unidos, alguns países árabes como a Turquia e o Qatar, assim como alguns países europeus apoiam a oposição.
Ao fim destes 26 meses de guerra, a impotência revelada pelas grandes potências para fazer cessar as hostilidades, causa um verdadeiro espanto e levanta interrogações.   
A União Europeia que decretara um embargo de armas à Síria, decidiu agora levantar esse embargo, permitindo que a França e o Reino Unido armem os rebeldes sírios, mas a Rússia reagiu e decidiu manter o programa de envio de mísseis de longo alcance destinados ao regime de Bashar el-Assad. Neste contexto, a Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, a sul-africana de origem tamil Navi Pillay, pediu ontem às potências mundiais que não forneçam armas aos beligerantes sírios, pois a situação tornou-se uma ˝intolerável afronta à consciência humana˝. Será sempre uma guerra sem vencedores nem vencidos e, para que possa ser travada ˝a escalada de sofrimento e derramamento de sangue˝, este conflito ˝não deve ser estimulado com armas, munições, política ou religião˝.
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terça-feira, 28 de maio de 2013

Prémio Camões 2013 distingue Mia Couto

Foi ontem anunciado no Rio de Janeiro o nome do vencedor do prémio literário mais importante da criação literária da língua portuguesa: o biólogo e escritor moçambicano António Emílio Leite Couto, mais conhecido pior Mia Couto. Nascido em 1955, na cidade da Beira, no seio de uma família de emigrantes portugueses, o premiado integrou na sua juventude o movimento pela independência de Moçambique. Depois de ter interrompido os seus estudos de Medicina foi jornalista e, de volta à universidade, formou-se em Biologia. Em 1983 publicou o seu primeiro livro e, desde então, tem publicado regularmente em Portugal, expressando-se através de diferentes géneros literários, sobretudo o romance, mas também através de crónicas e de poesia. Mia Couto é o segundo autor de Moçambique a ser distinguido, depois de em 1991 ter sido premiado José Craveirinha.
O Prémio Camões foi instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal e é atribuido anualmente aos autores que tenham contribuido para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa. Até agora, nas suas 25 edições, o Prémio Camões foi atribuído a dez autores de Portugal e do Brasil, enquanto Angola e Moçambique tiveram dois escritores premiados e Cabo Verde um. Este ano, segundo revela o jornal Público, o Prémio Camões teve o valor pecuniário de cem mil euros.

sábado, 25 de maio de 2013

As elites também criticam o governo



Numa época em que reina uma enorme desorientação, muita incerteza e até algum medo no seio da população portuguesa, a carta aberta que o Presidente da Câmara Municipal do Porto dirigiu ao governo é uma voz que desperta silêncios e que constitui um grito de revolta, como hoje salienta o Jornal de Notícias. A carta acentua a importância da reabilitação urbana para inverter as actuais tendências recessivas e para contribuir para o relançamento da actividade económica, porque constitui uma alavanca para a regeneração das cidades, a requalificação da construção civil, a atractividade turística, a animação do comércio, da restauração e da hotelaria, o repovoamento dos centros urbanos, a defesa do património histórico edificado e, sobretudo, a criação de emprego. 
Acontece que em 2004 foi criada a sociedade Porto Vivo, SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana, SA, detida em 40% pela Câmara Municipal do Porto e em 60% pelo Estado, com a missão de conduzir o processo de reabilitação da Baixa Portuense. Porém, segundo denuncia a carta, o governo tem asfixiado a Porto Vivo, o que constitui “uma incompreensível agressão à economia local e uma notória falta de respeito pelo Porto”, o que só acontece devido a “uma estranha obsessão conjugada com um notório desconhecimento da realidade e uma escassa visão política”. É, portanto, um violento ataque ao governo e a carta foi subscrita por cinquenta personalidades dos mais diversos quadrantes políticos, incluindo fundadores do PSD, antigos ministros, empresários, académicos e outros notáveis da cidade do Porto. Não é habitual este tipo de manifestação das elites que, entre nós, constitui uma nova e promissora dimensão da acção política.É a voz da sociedade civil, para além da lógica partidária.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O declínio da língua francesa

A França é um país orgulhoso da sua história, da sua glória, da sua cultura e da sua língua, mas embora seja uma potência nuclear, a quinta economia mais rica do mundo e um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a sua importância militar, económica e política mundiais não são proporcionais à importância da língua francesa, que é bem mais modesta. Porém, os franceses têm resistido ao reconhecimento dessa realidade, como se essa verdade ferisse gravemente o seu orgulho nacional.
No processo de expansão europeia pelo mundo, iniciado com os portugueses no século XV, os franceses enfrentaram uma continuada rivalidade da Inglaterra, que se tornou a primeira potência mundial e que afastou a influência francesa de regiões tão importantes como a América do Norte e a Índia. Por isso, a penetração da língua francesa no mundo teve impactos menos significativos do que o inglês e as línguas ibéricas e, embora haja diversos critérios para determinar o número de pessoas que falam uma determinada língua, quase todos convergem numa ordenação que coloca o chinês, o inglês, o espanhol, o árabe e o hindi nos cinco primeiros lugares, aparecendo o português logo a seguir, enquanto o francês só aparece depois do 10º lugar em todos os critérios considerados. Com a "americanização" do mundo e, mais recentemente, com o aparecimento da internet, o inglês impôs-se como a língua mundial de comunicação, para os negócios e para a ciência, pelo que o interesse pelo francês tem regredido. Agora, são as próprias universidades francesas a reconhecer que a não adopção do inglês em França é um handicap na vida profissional e na vida de todos os dias, como explica a edição de ontem do Le Parisien.

A lógica publicitária e o investimento

Foram ontem anunciadas, com muita pompa e circunstância, algumas medidas de apoio ao investimento, o que significa um apoio à dinamização da economia, ao crescimento do produto e à criação de emprego. Não se falou em austeridade, nem em consolidação orçamental e isso pode significar o início da correcção de um rumo, porque pela primeira vez, a lógica económica parece ter-se sobreposto à lógica contabilística. As medidas anunciadas são positivas, embora seja de lamentar que só agora tenham sido tomadas e que não tenha sido reconhecido que foi a teimosia governamental que esqueceu durante demasiado tempo o apoio ao investimento, o que muito contribuiu para a calamidade social que é o desemprego.
Ninguém pode desejar outra coisa que não seja o sucesso das medidas anunciadas e bom seria que no fim de 2013 pudéssemos celebrar uma retoma sustentada da economia e do emprego. Porém, as opções de investimento exigem tempo de ponderação e resultam das condições do mercado, da procura esperada e da confiança dos agentes económicos. Ora, o tipo de estímulos agora anunciados pode ajudar, mas não dá garantias de produzir efeitos. Daí que já se tivessem levantado algumas vozes a rotular estas medidas de propaganda e, de facto, Gaspar repetiu várias vezes, exactamente como acontece com a mensagem publicitária, que “chegou o momento do investimento”. Além disso, adoptou uma lógica de supermercado, ao designar as medidas anunciadas como “supercrédito fiscal”, a fazer lembrar as promoções do Continente ou do Pingo Doce, com o “pague um e leve dois”, ou o “invista agora e poupe no IRC”. Assim, em vez da campanha do “compre já”, estamos na campanha do “invista já”. Veremos no que dá.

 

A publicidade em monumentos históricos

Antecipando o final da Liga BBVA ou Liga de Futbol Profesional e a vitória já assegurada pela equipa do Barcelona FC, a marca que veste a equipa – a Nike – decidiu promover uma campanha publicitária na cidade, utilizando a estátua de Cristovão Colombo vestida com uma camisola blaugrana. Segundo referem os jornais catalães, esta campanha decorrerá até ao dia 9 de Junho e permitirá uma receita de 100 mil euros ao Ayuntamiento de Barcelona.
O Barcelona FC foi adoptado como símbolo das aspirações independentistas catalãs e, por isso, a autorização municipal para esta campanha, tem sido fortemente contestada pelo rival RCD Espanyol e pelos partidos políticos não independentistas, afirmando-se que “la estátua de Colón es de todos los barceloneses, no solo de los culés”, isto é, dos adeptos do Barcelona FC.
Nos últimos anos tem-se verificado em vários países europeus a utilização de monumentos históricos como suportes publicitários e isso também já aconteceu em Portugal, por exemplo no Monumento a Cristo-Rei, no Padrão dos Descobrimentos e no castelo de S. Jorge. A instalação de telas publicitárias em monumentos históricos é um assunto controverso e complexo em toda a parte, porque se há a necessidade de preservar a dignidade histórica e artística desses monumentos, também há a necessidade de mobilizar recursos financeiros adicionais para assegurar a sua própria manutenção. É realmente uma equação difícil.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Gaspar é um servil discípulo de Schäuble



Na sua primeira página, a edição de hoje do Jornal de Negócios destaca a fotografia de Wolfgang Schäuble e Vítor Gaspar e acrescenta: “unidos em Berlim para debater Portugal”. Podia ser um encontro normal, como acontece tantas vezes nos encontros políticos bilaterais, mas de facto não será. Schäuble é o poderoso ministro da potência dominante da Europa, enquanto Gaspar é um periférico que não tem a dimensão cultural exigível a um ministro de um país com nove séculos de história. Gaspar já tirou a máscara algumas vezes, numa atitude de grande servilismo. Vimos isso em directo pela televisão e, naturalmente, ficamos espantados. 
Segundo informam os jornais, o ministro Gaspar foi a Berlim discutir com o poderoso ministro alemão “a aplicação do programa de ajustamento português”, o que significa que as políticas de austeridade são orientadas a partir de Berlim e que aqui ninguém se atreve a levantar a voz. Gaspar amocha. Gaspar treme. Gaspar revela um grau de subserviência chocante. Gaspar humilha-se mas, mais grave, humilha o povo português e confirma que já somos um protectorado alemão. Gaspar não foi eleito, nem foi escolhido pelo voto e, por exemplo, não podia ser ministro nos países anglo-saxónicos. Gaspar é um funcionário mais ligado à troika do que aos interesses nacionais. Gaspar tem uma arrogância intelectual insuportável. Gaspar não acerta. Gaspar falha.  Gaspar tem poder a mais e é, sem dúvida, o principal responsável pela nossa catástrofe económica com o seu experimentalismo. Gaspar cansa com os seus discursos monocórdicos. Que pena não termos entre nós o grande Almada Negreiros para nos oferecer um qualquer manifesto anti-gaspar.

O enorme sucesso da Padaria Portuguesa



Abriu ontem no bairro dos Olivais, em Lisboa, mais uma loja da Padaria Portuguesa e, como costuma acontecer na nossa terra com este tipo de iniciativas, correu para lá meio mundo porque, para além do pão, essas lojas estão na moda e também vendem café e servem pequenos-almoços e refeições ligeiras, ao balcão ou na sua esplanada. A Padaria Portuguesa adoptou uma decoração muito atraente que se inspira nas velhas padarias de bairro, com um toldo às riscas, uma pequena esplanada, uma velha bicicleta encostada à porta e um espaço interior povoado com cestos recheados com pão quente.
Aparentemente, a notícia da inauguração de uma nova padaria nada tem de especial e é aqui referida apenas por duas razões de natureza económica, pois estamos a passar por uma crise muito prolongada e muito severa, em que não há iniciativa, nem acção, nem investimento.
A primeira razão é porque esta iniciativa representa um prémio para a inovação e para o dinamismo empresarial, uma vez que a Padaria Portuguesa nasceu em 2010 e, em menos de três anos, já terá quase duas dezenas de lojas daquela marca que se encontram espalhadas pela cidade de Lisboa.
A segunda razão é porque no actual contexto de recessão, de falências e de desemprego crescentes, a Padaria Portuguesa é um caso raro de criação de algumas dezenas de empregos, mas também de animação de um certo tipo de vida de bairro que se contrapõe ao culto do shopping center.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Um livro sobre a nossa história recente

O 25 de Abril aconteceu há 39 anos, mas ainda há muitos episódios por contar, relativamente ao regime do Estado Novo que naquele dia foi derrubado e que, por vezes, parecem ser esquecidos e, em alguns casos, até branqueados. Um desses episódios mais marcantes foi a perseguição que a PIDE fez aos oposicionistas ao regime, aos movimentos estudantis e sindicais e, em especial, àqueles que tinham optado por acções violentas. Embora a transição de Salazar para Marcelo Caetano tivesse trazido alguns ventos de liberalização ao regime, foi sol de pouca dura e, nos anos de 1973 e 1974, várias centenas de pessoas foram presas, incluindo militantes comunistas e de movimentos de extrema-esquerda, católicos progressistas e operacionais da luta armada. As prisões de Peniche e de Caxias tornaram-se pontos simbólicos da repressão do regime e foi nessas prisões que estiveram os últimos presos do Estado Novo, que o 25 de Abril libertou.
A jornalista Joana Pereira Bastos decidiu recolher o testemunho de alguns desses presos políticos que então se encontravam no Forte de Caxias, a fim de preservar essa memória histórica de um tempo que foi doloroso para muitas pessoas e o resultado foi um livro: Os Últimos Presos do Estado Novo - tortura e desespero em vésperas do 25 de Abril".
É um trabalho de grande interesse documental que resulta de mais de uma dezena de depoimentos de antigos presos políticos - alguns deles bem conhecidos - que está muito bem contextualizado e que é de fácil leitura pois a escrita é muito fluente. É um livro a não perder por quem queira conhecer algumas das raízes do 25 de Abril ou por quem queira conservar viva a memória dos tempos da ditadura. 

Que saia o mais depressa possível

Não é preciso perceber muito de economia, nem ler a imprensa estrangeira para perceber que o passos-gasparismo e, especialmente o monocórdico gaspar, nos estão a levar – irresponsavelmente – por desgraçados caminhos, ao utilizar a austeridade sobre a austeridade na sua governação. Andamos há dois anos a afundar-nos. O Estado e a sociedade estão em vias de desagregação. Os indicadores socio-económicos evidenciam essa realidade, mas o cidadão comum nem precisa de os conhecer pois observa a catástrofe das empresas a falir, das lojas a fechar, dos desempregados a entrar na marginalidade e dos jovens a emigrar. Há desconfiança, incerteza e até medo por todo o lado. Aumentou a pobreza e a fome. Sem sensibilidade, o passos-gasparismo ataca os mais fracos, isto é, os pensionistas, os reformados e os funcionários públicos. Muita gente denunciou este estado de coisas e esta gente, inclusive nos círculos do poder, como sucede desde há muito com Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, António Capucho ou Silva Peneda.
Agora as vozes dissonantes ainda são mais insuspeitas. António Lobo Xavier fez uma crítica radical: o apelo à troika de 2011 podia não ter existido, pois foi uma exigência dos que queriam o pote. Disse ele: “se não fosse a sofreguidão pelo pote, estaríamos como Espanha, combatendo a crise sem perder a soberania”. Também António Bagão Félix veio declarar no Diário Económico que “o papel de Vítor Gaspar está esgotado”. Então que saia o mais depressa possível.
Só me lembro do Miguel de Vasconcelos.

 

domingo, 19 de maio de 2013

Prémio europeu para o museu da Batalha

O Museu da Comunidade da Concelhia da Batalha venceu o Prémio Kenneth Hudson do Fórum Europeu dos Museus (European Museum Forum - EMF), em competição com 28 museus de 16 países, depois de no passado mês de Dezembro já ter sido distinguido pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) como o Melhor Museu Português.
A notícia é verdadeiramente surpreendente e mostra como é possível desenvolver projectos culturais de elevada qualidade fora dos grandes centros urbanos e à margem de grandes orçamentos, para além de também evidenciar a importância da iniciativa local na mobilização dos cidadãos em torno de projectos concretos. Por outro lado, numa época em que alguma europa e alguns europeus insistem numa narrativa humilhante para o nosso país, estes anúncios confirmam que no canto ocidental da europa há inteligência, vontade, capacidade e energia para promover o progresso.  
Ainda não visitei o Museu da Comunidade da Concelhia da Batalha que foi inaugurado em Fevereiro de 2011 e que conta a história do concelho, desde a pré-história até à actualidade. Por isso, apenas me posso congratular pelo prémio atribuído e preparar-me para, tão brevemente quanto possível, revisitar a Batalha e, nessa altura, aproveitar também para voltar ao excelente espaço gastronómico que é o Burro Velho.

 

sábado, 18 de maio de 2013

Dois anos de troika que nos desgraçam

Passaram ontem dois anos depois da assinatura do Memorando entre o governo português e a troika e, como diz a edição de hoje do jornal i, o fracasso é evidente. O pequeno grupo de aventureiros que tomou o poder com base numa campanha eleitoral mentirosa e caluniosa, tem revelado  grande incompetência, impreparação e insensibilidade, além de estar a conduzir o nosso país para um naufrágio. Usaram um diagnóstico mentiroso para chegar ao poder a qualquer preço, construíram um cenário cheio de falsidades, escolheram protagonistas aventureiros e arrogantes, exigiram sacrifícios tremendos à população, arruinaram a nossa economia, puseram em causa a coesão social, expulsaram do país uma geração de jovens muito qualificada e criaram uma insustentável situação depressiva que é visível por todo o país. Os grandes objectivos da governação falharam todos: défice orçamental, PIB, dívida pública, emprego, exportações e consumo privado. Nada pode esconder esta triste realidade e o “regresso aos mercados” ou a correcção do nosso “desequilíbrio externo” são vitórias demasiado pequenas para nos confortarem.
Num qualquer clube de futebol já teria havido uma chicotada psicológica, com mudança de treinador e de equipa técnica. Aqui, neste clube que é de todos nós, perante esta tragédia de resultados, vão reunir-se na segunda-feira em Belém os conselheiros de Estado. Segundo a agenda divulgada, não vão opinar sobre o estado da equipa, nem sobre a mudança de treinador ou da equipa técnica, mas apenas para preparar a época de 2014-2015, isto é, aquilo a que chamaram o pós-troika. É caso para dizer: tirem-me daqui ou valha-me Santo Ambrósio!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A recessão já chegou a França



O numeroso grupo de países europeus que está a passar por grandes dificuldades foi agora aumentado com a França, que era um dos motores da economia europeia. A França entrou tecnicamente em recessão, ou seja, o seu produto interno bruto caiu pelo segundo trimestre consecutivo e tornou-se o 11º país da zona euro a entrar em recessão, com todos os indicadores económicos a entrar no vermelho: consumo (-0,4), poder de compra (-0,9), crescimento (-0,2), produção (-2,2), investimento (-1,2) e exportações (-0,5), enquanto o desemprego se aproxima dos 11,0%. O centenário jornal francês L’Humanité dá o alarme e avisa: austerité = récession.
A zona euro está a viver a mais longa recessão da sua história, tem mais de 19 milhões de desempregados e os dados preliminares agora revelados pelo Eurostat são piores do que se previa. No caso português, a economia contraiu 3,9% em termos anuais, que é superior ao que era previsto e que é uma quebra só superada pelas da Grécia e do Chipre.
As opiniões convergem num ponto: a situação europeia é o resultado das políticas de austeridade e não são de esperar melhorias significativas nos próximos meses, devido à escassez da procura interna, ao desemprego, à diminuição das exportações e, de uma forma geral, às medidas de austeridade. O relançamento do crescimento económico e a luta contra o desemprego tornaram-se agora mais evidentes e mais urgentes para a zona euro e, naturalmente, para Portugal.

Políticos prevenidos valem por dois


As primeiras páginas dos jornais indianos por vezes não são ocupadas por notícias, sendo substituídas por publicidade a automóveis, a tecnologias da informação, a produtos informáticos ou a empreendimentos imobiliários. No entanto, o que aconteceu ontem nos principais jornais indianos, como por exemplo no The Times of Índia, é uma novidade: a publicação de um anúncio promocional da senhora Selvi J Jayalalithaa, a Chief Minister do governo de Tamil Nadu, no qual são enunciadas a sua dinâmica liderança e dedicação à causa pública, assim como as suas realizações em prol do bem comum e do progresso.
Jayalalithaa é uma personalidade política controversa e, como todos os políticos, tem legiões de admiradores e de adversários, mas é uma das mais famosas políticas da Índia. Nascida em 1948, foi uma popular artista cinematográfica e aos 43 anos de idade, tornou-se Chief Minister de Tamil Nadu, um dos 28 estados da Índia que tem a sua capital em Chennai. O estado tem 130 mil quilómetros quadrados de superfície e mais de 72 milhões de habitantes, ficando situado no sueste da península industânica. Desde 1991 que Jayalalithaa tem sido sucessivamente reeleita como Chief Minister (exceptuando o período 1996-2001) e actualmente está a cumprir um mandato até 2016. Assim, esta campanha publicitária nos grandes jornais indianos não é para “ganhar votos” como seria normal. Objectivamente, é uma forma de financiar e de condicionar os meios de comunicação social, evitando por antecipação que, no futuro, eles possam acolher qualquer campanha que seja hostil a quem “generosamente” os financiou. É caso para dizer que políticos prevenidos valem por dois…

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Royal Clipper: o maior veleiro do mundo

Chama-se Royal Clipper e é o maior veleiro do mundo, com 147 metros de comprimento e cinco mastros que podem armar 42 velas com uma área total de 5 mil metros quadrados. Foi construído em Gdansk em finais do século passado para a companhia Star Clipper, a partir dos planos do lendário veleiro alemão Preussen, que fora construído em 1902 e se perdera em Novembro de 1910 no canal da Mancha, por efeito combinado de colisão e temporal.
O Royal Clipper é um navio que se dedica a cruzeiros de turismo, sobretudo no Mediterrâneo, navegando com bandeira de Malta, embora a empresa proprietária tenha sede no Principado do Mónaco. O navio combina as memórias da navegação à vela com os melhores equipamentos e tecnologias do nosso tempo. Pode transportar 227 passageiros em ambiente altamente luxuoso que são servidos por 106 tripulantes e dispõe de 114 camarotes, dos quais 14 são de luxo. Para fruição dos passageiros, o navio dispõe de restaurantes, bares, três piscinas exteriores, discoteca, jacuzzis, ginásio, biblioteca e salões de beleza. Nada parece faltar a bordo.
O navio realiza diversos tipos de cruzeiro, mas os preços são realmente de outro tempo, em sintonia com o luxo que é oferecido aos passageiros. O jornal La Provence de Marselha destacou a passagem do maior veleiro do mundo pelo seu porto, até porque é um bonito navio e não se paga para ver.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O futebol goês é campeão na Índia

Terminou na Índia, no passado domingo, o campeonato nacional de futebol - a I-League - cujo vencedor foi a equipa do Churchill Brothers Sporting Club, um clube da cidade de Margão, no Estado de Goa, que é presidido por Joaquim Alemão. Na tabela classificativa final, entre as 14 equipas participantes, as outras equipas goesas classificaram-se em 5º lugar (Dempo Sports Club), 6º lugar (Sporting Club de Goa) e 7º lugar (Salgaocar Sports Club).
O campeonato nacional de futebol na Índia iniciou-se em 1996 com a NFL (National Football League) por iniciativa da All India Football Federation, mas em 2007 sucedeu-lhe a I-League, já com contornos profissionais e numa clara tentativa de colocar o futebol indiano em níveis de competitividade superior. Não deixa de ser curioso verificar que as seis edições da I-League já disputadas foram todas vencidas por equipas goesas: o Dempo Sports Club (3 vezes), o Churchill Brothers Sporting Club (2 vezes) e o Salgaocar Sports Club (uma vez). E não deixa de ser curioso, também, que a herança cultural que os portugueses deixaram em 451 anos de presença em Goa, passe desta forma tão evidente pelo futebol, num país onde o cricket é o desporto das multidões.