sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Promiscuidade entre política e negócios

A edição desta semana da revista Visão inclui uma alargada reportagem sobre os negócios em que estão envolvidos alguns políticos e pergunta “o que juntará Luís Filipe Menezes (ex-autarca e líder do PSD), Martins da Cruz (ex-conselheiro diplomático de Cavaco e antigo MNE) e Jorge Costa (ex-secretário de Estado das Obras Públicas de Durão Barroso) numa desconhecida empresa do ramo imobiliário, com fortes laços em Angola”. Na realidade, de acordo com essa reportagem, a política, a diplomacia e os negócios constituem um triângulo que passa por Vila Nova de Gaia e tem importantes ramificações em Luanda. Tanto quanto parece, não está em causa qualquer ilegalidade, mas apenas um grave atropelo à ética republicana com o uso da política para satisfazer gananciosos e promíscuos interesses pessoais. Foi assim com Loureiros e Varas, com Limas, Mouras, Coelhos e com muitos outros, isto é, com gente que, impunemente, usou os conhecimentos e as influências que adquiriram na actividade política para fazer negócios especulativos ou ocupar posições de topo. Antes da política pouco valiam, mas com ela tornaram-se iluminados e ricos.
É uma triste sina lusitana haver tanta gente que se serve da política para “subir na vida” e para exercer actividades altamente lucrativas, que nunca na vida conseguiriam sem a bengala da política. Neste caso, os novos empresários têm um denominador comum que é terem exercido funções na Câmara Municipal de Gaia, que é a segunda mais endividada do país e parece estar em risco de falência com uma dívida próxima dos 300 milhões de euros. Pois é esta gente que agora se dedica a negócios imobiliários.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

R.I.P. Paco de Lucia

Aos 66 anos de idade faleceu vitimado por doença súbita na cidade mexicana de Cancun, onde residia, o cidadão espanhol Francisco Sánchez Goméz. Tinha nascido em Algeciras no ano de 1947 e era filho de Lúcia Gomes, uma portuguesa de Castro Marim, sendo mundialmente conhecido pelo nome artístico de Paco de Lucia. O seu nome artístico nasceu da tradição andaluza dos rapazes serem reconhecidos com uma referência ao nome da mãe. Quando o jovem e talentoso guitarrista teve necessidade de adoptar um nome artístico decidiu adoptar exactamente o nome por que era conhecido no seu bairro e assim ficou Paco de Lucia.
Nas últimas quatro décadas transformou-se num dos principais embaixadores da música espanhola, com concertos em dezenas de países entre os quais Portugal, onde actuou pelo menos duas vezes. A sua carreira simbolizou muitas vezes o melhor da cultura espanhola ao universalizar o flamenco. Em 2004 foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias galardoando "um músico que transcendeu fronteiras e estilos". Toda a imprensa espanhola, especialmente a andaluza, prestaram hoje homenagem a Paco de Lucia – o Deus do flamenco e o mestre universal da guitarra – publicando a sua fotografia na primeira página das suas edições e considerando a sua morte uma “perda irreparável para o mundo da cultura e para a Andaluzia". Um desses jornais é exactamente o EuropaSur, o diário da terra natal de Paco de Lucia, que escreve na sua primeira página que "Algeciras chora o seu filho mais universal".

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Os anúncios mentirosos do fim de crise

O diário espanhol El País destaca na sua edição de hoje o debate parlamentar em que “Rajoy da por acabada la crisis”, enquanto Alfredo Rubalcaba, o líder da oposição, lhe perguntou “en qué país vive, presidente”. De facto, em 2013 a Espanha teve quatro trimestres com crescimento negativo, a sua dívida pública aumentou 14,3% e o desemprego situou-se nos 25,8%, pelo que o anúncio do fim da crise é uma mentira e um exercício de propaganda.  Porém, não é só no país vizinho que, de repente e sem que haja sinais de recuperação consistentes, alguns mentirosos têm “decretado” o fim da crise. É o caso de Durão Barroso que, recentemente, afirmou que a crise está ultrapassada e que “a União Europeia está a emergir da recessão”. Porém, em Portugal essa  mentira já vem de longe. O primeiro mentiroso terá sido o ministro Álvaro que, com a economia portuguesa então em queda descontrolada, em finais de 2011 garantia que “2012 seria o ano do fim da crise”.
Porém, o nosso primeiro Passos tem sido o campeão do anúncio do fim da crise, confundindo o sonho e a realidade. Em Setembro de 2011 anunciou em Castelo de Vide que o ano de 2012 era "o ano do princípio do fim da emergência nacional". Em Agosto de 2012 afirmou na Quarteira que 2013 seria “um ano de inversão na situação da actividade económica em Portugal". Em Janeiro de 2013 disse que "o ciclo recessivo deve abrandar em 2013, dando início a um ciclo de expansão económica" e em Dezembro foi peremptório: “estamos a vencer a crise”. Em Janeiro de 2014 afirmou em Cáceres que os sinais de saída da crise chegam “de todas as partes”.
Estas são apenas algumas das muitas vezes em que o nosso primeiro Passos, que é conhecido por não cumprir nenhuma das suas promessas eleitorais, tem anunciado a saída da crise. Deve ser apenas para convencer os mais distraídos ou, então, não vive em Portugal.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Vamos continuar a ouvir falar da Ucrânia

A situação ucraniana tem evoluido de forma muito rápida e, aparentemente, tende a entrar na normalidade, depois de três meses de grande contestação e de algumas dezenas de mortes resultantes dos violentos confrontos ocorridos em Kiev. As barricadas da Praça da Liberdade foram levantadas e deram lugar às homenagens aos mortos, enquanto o Presidente Viktor Yanukovych abandonou as suas sumptuosas residências e está desaparecido. Os grandes jornais internacionais têm acompanhado a situação, mostrando as barricadas, os incêndios e os feridos, ao mesmo tempo que anunciam “o fim da ditadura” e a “primavera ucraniana”. Da mesma forma, também os jornais ucranianos acompanham a situação, como acontece  com o Vecherniye Vesti (Вечерние Вести), um importante  jornal de língua russa que se publica em Kiev, que foi crítico em relação ao poder de Yanukovych e que se diz ser controlado pela antiga primeira-ministra Yulia Tymoshenko. A capa da sua última edição mostra a homenagem aos mortos com as flores e as lágrimas, mas também a polícia, uma estátua derrubada de Lenine e, naturalmente, as duas figuras mais mediáticas desta crise: Viktor Yanukovych e Yulia Tymoshenko.
O poder mudou de mãos em Kiev, mas a queda do ditador Yanukovych não foi o fim do autoritarismo nem da crise, porque a aliança das forças oposicionistas foi conjuntural e não é consistente. A Europa rejubila com a mudança, mas a Rússia ameaça não reconhecer a nova situação. Naturalmente, como sempre acontece nestas mudanças revolucionárias, nos próximos tempos haverá avanços e recuos. Os riscos de desintegração da Ucrânia continuam a ser muito elevados, não só pelas diferenças culturais e línguísticas entre a parte oriental pró-russa e a parte ocidental pró-europeia, mas também pela atitude da Crimeia, uma república autónoma que é maioritariamente russófona, onde se localiza a base de Sebastopol e a frota russa do Mar Negro. A guerra civil ou a desintegração não sairam da agenda das preocupações e, assim, vamos continuar a ouvir falar da Ucrânia.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O divertido regresso de Miguel Relvas

No recente congresso do maior partido político português da actualidade, o respectivo presidente decidiu incluir Miguel Relvas como cabeça da sua lista para o Conselho Nacional, que é o órgão mais importante entre congressos e que é uma espécie de parlamento do partido, onde estão representadas as várias sensibilidades internas. Miguel Relvas foi eleito e, portanto, será ele a liderar o Conselho Nacional do PSD e, consequentemente, ele está de regresso à política activa, pouco tempo depois de a ter abandonado. É uma boa notícia! O anedotário nacional andava descaracterizado e pobre, pelo que o regresso de Miguel Relvas é não só um direito que lhe assiste, mas também é uma fonte de inspiração para a blogosfera e para as redes sociais.
Todos recordamos Miguel Relvas e a sua licenciatura-relâmpago na Universidade Lusófona com 32 equivalências, que o Ministério Público ficou de averiguar para lhe ser retirado ou não o grau académico conquistado sem trabalho e, eventualmente, à margem da lei. Recordamos também os cartazes exibidos na Volta à França e nos Jogos Olímpicos que o mandavam estudar e, sobretudo, lembramos o ar aterrorizado com que enfrentou a grandolada com que os estudantes o brindaram, quando há um ano esteve na cerimónia de encerramento da Conferência dos 20 Anos da TVI, que se realizou no ISCTE. Portanto, o regresso de Miguel Relvas é um golo na própria baliza de quem lhe deu a mão e um embaraço para os seus ex-colegas Crato e Poiares, mas também é uma grande alegria para quem anda deprimido e triste com esta governação mentirosa ou com a monumental farsa que é a nossa vida política. O atrevimento de Relvas é realmente uma coisa para nos divertir.

Sochi 2014: um grande espectáculo!

Terminaram ontem os Jogos Olímpicos de Inverno – Sochi 2014    e, depois de duas semanas de transmissões televisivas, algumas delas de grande espectacularidade, as cerimónias de encerramento constituiram uma notável demonstração das capacidades organizativas e artísticas russas. A aposta do Presidente Vladimir Putin para afirmar ao mundo o prestígio da Rússia e para a reposicionar no palco das grandes potências, foi ganha. Sucederam-se os elogios vindos de toda a parte e a imprensa e a televisão mundiais deram larguíssima cobertura ao acontecimento.
No campo desportivo, as medalhas olímpicas foram conquistadas por atletas de 26 países, tendo havido campeões olímpicos de 21 nacionalidades. A Federação Russa foi a grande vencedora não só em termos organizativos, mas também em termos desportivos, tendo os seus atletas conquistado um total de 33 medalhas das quais 13 de ouro, seguindo-se a Noruega (26/11), o Canadá (25/10) , os Estados Unidos (28/9) e a Holanda (24/8).
A cerimónia de encerramento foi um espectáculo memorável. O estádio Fisht começou por se tornar num imenso oceano por onde desfilaram todas as comitivas desportivas participantes, após o que se seguiu um espectáculo em que a Rússia mostrou as diferentes facetas da sua diversificada matriz cultural, destacando alguns dos ícones da sua pintura, literatura, música, bailado e circo. Assim, entre outros, a Rússia lembrou ao mundo Marc Chagall, Tolstoy, Chekhov, Rachmaninoff, Dostoevsky e Solzhenitsyn, entre outros, mas também o Ballet Bolshoi e o Ballet Mariinsky, reunidos para prestar homenagem aos grandes bailarinos russos. Esse desfile cultural e artístico terminou com as artes circenses e com uma verdadeira tenda de circo montada no interior do estádio. Entretanto, começou imediatamente a contagem decrescente para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, que se realizarão em Pyeongchang, na Coreia do Sul.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O Exótico nunca está em casa?

Está patente no Museu Nacional do Azulejo (MNAz) e tem por título "O Exótico nunca está em casa? A China na faiança e no azulejo portugueses (séculos XVII-XVIII)”, uma exposição que evoca a primeira viagem de Jorge Álvares ao sul da China e que assinala os 500 anos dos contactos luso-chineses. Essa pioneira viagem de um ocidental à China foi realizada em 1513 a bordo de um junco chinês saido de Malaca, que tinha sido conquistada em Agosto de 1511 por Afonso de Albuquerque. Ainda antes da fixação dos portugueses em Macau foram estabelecidas relações comerciais muito intensas entre os chineses e os portugueses. Os portugueses passaram a comprar a porcelana, o chá e os têxteis chineses que trouxeram para a Europa e Portugal tornou-se a porta de entrada preferencial desses produtos exóticos que da China chegavam à Europa. Mais tarde, o interesse pelos produtos chineses deu origem ao fenómeno da chinoiserie que se estendeu por toda a Europa e se tornou uma moda e que resultou na criação de uma série de objectos – cerâmicas, azulejos, pinturas, têxteis, mobiliário – que pretendiam retratar um quotidiano longínquo.
A exposição apresenta um conjunto de 75 peças provenientes do acervo do MNAz, de outras instituições museológicas e de colecções particulares, podendo ser visitada até ao dia 29 de Junho de 2014.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Estado e a transparência orçamental

O governo acaba de disponibilizar na sua plataforma eletrónica o Orçamento Cidadão, uma versão simplificada do Orçamento do Estado para 2014 que, de forma pedagógica, resume os seus pontos essenciais em 31 páginas, permitindo saber onde é que o Estado vai buscar as suas receitas e onde é que vai aplicar o nosso dinheiro. O documento começa por explicar o que é um orçamento, como se prepara, como se aprova, quais os documentos que o compõem, como se monitorizam as receitas e as despesas ao longo do ano, define os critérios ou cenários utilizados para prever receitas e para fixar despesas e explica as principais medidas de consolidação orçamental.
O montante global da despesa do Estado para 2014 é de 75.860 milhões de euros, dos quais cerca de 2/3 representam gastos com transferências correntes (43,8%), despesas com pessoal (15,1%), juros e encargos associados (9,9%), compra de bens e serviços na saúde (9,4%) e outras, enquanto cerca de 1/3 representam gastos nas actividades do Estado, nomeadamente Educação, Saúde e Justiça. Uma das análises do documento refere-se às pensões e ao seu peso na despesa pública: as pensões pagas pela CGA e pela Segurança Social ascendem a 19.240 milhões de euros num total de 2.408.881 pensionistas, que recebem uma pensão média mensal de 666 euros. Porém, cerca de 80% recebem uma pensão média de 364 euros, enquanto há 56 pensionistas que recebem uma pensão média de 16.785 euros.
Outro aspecto tratado no Orçamento Cidadão respeita à dívida do Estado no final de 2013 que é de 211 mil milhões de euros (127,8% do PIB) e às necessidades de financiamento para 2014 que, entre necessidades correntes e dívidas a vencer em 2014, totalizam 52.502 milhões de euros. Dá que pensar e dá para nos interrogarmos sobre como resolver este imbróglio !
Embora não seja um documento perfeito e ainda deixe muita coisa por explicar, não há dúvida de que se trata de uma boa iniciativa que contribui para a transparência orçamental e que vai permitir que muita gente aprenda, a começar por muitos deputados e comentadores que mostram ser tão ignorantes destas matérias.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Exportações, porta-aviões e... aldrabões

Nas últimas semanas o discurso da propaganda e do triunfalismo tem-se acentuado na política portuguesa e, por vezes, o nosso primeiro e o nosso vice-primeiro parecem disputar entre si o principal papel no elenco do optimismo lusitano, cada qual a tentar passar a ideia que foi mais importante do que o outro no andamento da nossa vida pública e da nossa economia. É uma questão entre o Pedro e o Paulo.
O caso do Paulo é, porventura, mais interessante. O Paulo é um jurista e não tem formação económica, nem estudou Econometria nem Finanças Públicas, mas teve um entusiasmo tardio pelas questões económicas e aprendeu que o investimento e as exportações são importantes, mas esqueceu-se que o consumo ainda é mais importante ou que as pessoas são o objecto da economia. O recente artigo do Financial Times ajudou-o com aquela história do “herói-surpresa da Zona Euro” e, com isso, ele foi buscar um acrescido entusiasmo para destacar o sucesso das exportações portuguesas nos últimos anos e o mérito das “nossas empresas”. Esta semana veio dizer-nos que "as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação do país".
- “Bela frase, Paulo”, terão dito os seus amigos do governo, do parlamento e das mil e muitas assessorias e tacharias.
O Paulo é o irrevogável, aquele que me enganou ao definir uma fronteira que não podia deixar passar... e deixou, ou aquele que não permitiria uma sociedade que descartasse os mais velhos... e permitiu. Que se esqueceu da reforma do Estado. Andava tão entretido “naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”, como dizia Camões, quando veio o FMI arrefecer-lhe os ânimos ao dar-lhe um tiro no porta-aviões e dizer-lhe que o milagre das exportações só existe na cabeça dele, pois resulta da nossa dependência face às refinarias da Galp e da anormal quebra das importações devido à crise doméstica, não sendo um sinal inequívoco de que a economia está a mudar para melhor em termos estruturais, gerando crescimento e emprego. Afinal, o Paulo ainda precisa de aprender muita coisa e não alinhar nesta aldrabice que é vender-nos a ideia de que as exportações tudo resolvem, quando o FMI vem dizer exactamente o contrário.

Um português ao volante do grupo PSA

Estava anunciado desde há alguns meses que o português Carlos Tavares, o ex-número dois da Renault, iria assumir a presidência executiva da PSA Peugeot Citroën, o maior construtor francês de automóveis e o oitavo a nível mundial e, conforme revela a  edição do diário económico francês La Tribune, foi hoje que iniciou essas funções ou, como titula o jornal “se instalou ao volante da PSA.
Carlos Tavares nasceu em Lisboa e tem 55 anos de idade, tendo feito os seus estudos superiores em França. Em 1981 entrou na Renault como engenheiro de ensaios e teve uma carreira diversificada e bem sucedida, mas em 2013 decidiu deixar o grupo Renault, vindo a ser convidado para exercer o comando operacional do grupo PSA Peugeot Citroën, que tem 15 fábricas em diversos países do mundo, incluindo a fábrica de Mangualde que foi inaugurada em 1964, além de dar trabalho a mais de 200 mil trabalhadores. O grupo está presente em 160 países e em 2013 vendeu 2.819.000 veículos e facturou 55,4 mil milhões de euros.
A responsabilidade agora assumida pelo gestor português acontece num momento histórico para a vida do grupo, atingido há dois anos por uma profunda crise devido à sua forte dependência do mercado europeu, de que resultaram prejuízos líquidos de 5 mil e 2,3 mil milhões de euros, respectivamente em 2012 e 2013, o que levou a que a estrutura familiar do grupo que era dominada pela família Peugeot se tivesse alterado com a entrada de dois novos accionistas, casos do Estado francês e do grupo Dongfeng, o segundo maior fabricante de automóveis chinês.
O desafio assumido por Carlos Tavares é de enorme responsabilidade e mostra a confiança que nele foi depositada, além de ser um motivo de orgulho para os milhares de portugueses que trabalham para o grupo PSA Peugeot Citroën, não só em Mangualde, como também nas cinco fábricas francesas do grupo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A luta política na sua forma mais cruel

No passado dia 29 de Janeiro escrevemos que “a Ucrânia está em pé de guerra” e citamos Leonid Kravchuk, o primeiro presidente do país desde a independência conquistada à URSS em 1991, que afirmou que a Ucrânia está “à beira de uma guerra civil”, em consequência do confronto entre as autoridades e os opositores ao regime do Presidente Victor Yanukovich.
De facto, após várias semanas de calma, a cidade de Kiev voltou ontem a ser palco de violentos confrontos entre os oposicionistas e as forças de segurança, tendo estas acabado por recorrer a blindados e canhões de água contra os manifestantes concentrados na Praça da Independência, enquanto os oposicionistas ripostaram com cocktails molotov e petardos. Leonid Kravchuk parece que tinha toda a razão, como agora se vê nas trágicas imagens de violência e de destruição que nos chegam de Kiev, ao mesmo tempo que são anunciadas 26 mortes e mais de quatro centenas de feridos. A generalidade dos jornais europeus inserem fotografias dos confrontos e dos incêndios a mostrar a luta política na sua forma mais cruel mas, provavelmente, a mais eloquente de todas as fotografias é aquela que é hoje publicada pelo diário espanhol ABC.
A comunidade internacional e em especial a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia, têm lançado repetidos apelos à trégua e ao diálogo para que seja travada a onda de violência que se instalou no país e para que haja negociações, mas o cenário de uma guerra civil às portas da Europa é uma realidade, a fazer lembrar o que se passou na antiga Jugoslávia ou o que está a acontecer na Síria.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Se a esmola é grande, o pobre desconfia…

A edição online do Financial Times publicou há dois dias uma notícia assinada por Peter Wise, o seu correspondente em Lisboa, segundo a qual “Portugal é o herói-surpresa do crescimento da Zona Euro no que toca à recuperação económica”. Em Portugal rejubilou-se e com razão, porque se trata de uma notícia de enorme impacto, que não só valoriza a imagem externa do país, como vem acrescentar confiança aos potenciais investidores estrangeiros de que tanto carece a economia portuguesa.
Simbolicamente, o artigo centra-se no aeroporto de Lisboa onde, simultaneamente, se regista a saída diária de 200 jovens licenciados em busca de emprego no estrangeiro e, não muito longe, se vêem as lojas do aeroporto cheias de turistas e as exportações a sair pelos terminais de carga. O retrato escolhido é feliz, pois traduz a realidade portuguesa que é o êxodo resultante dos efeitos da recessão e da austeridade, mas também as consequências do aumento da competitividade da economia portuguesa. O elemento chave da notícia é o crescimento homólogo de 1,6% da economia portuguesa que se verificou no último trimestre de 2013, que ultrapassou o de todos os outros membros da Zona Euro, incluindo a Alemanha, mas também a modernização do tecido empresarial e o crescimento das exportações que, em quatro anos, aumentaram 24,2%. Porém, a notícia não trata de uma dívida pública de quase 130% do PIB, nem de um défice que, mesmo com medidas estraordinárias, será de cerca de 5%, nem de um desemprego de quase 16%, nem do empobrecimento do país, nem das ameaças à coesão social. A notícia é tão laudatória para Portugal, uma coisa rara nas páginas do Financial Times, que até ficamos desconfiados porque, como diz o povo, quando a esmola é grande o pobre desconfia. Apesar disso, Peter Wise termina o seu artigo a afirmar que, quando em fins de Junho terminar o programa de ajustamento, ficará para trás um rasto devastador de dezenas de milhar de pequenas empresas encerradas, de salários e pensões espremidas, de desigualdades agravadas, de vidas destruídas pelo desemprego de longa duração e, com a propósito, questiona-se se terá valido a pena.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Um salto com vara a 6,16 metros. Notável!

O atleta francês Renaud Lavillenie conseguiu ontem um notável resultado desportivo, ao bater o record do mundo do salto à vara com um salto de 6,16 metros, no meeting de pista cobertao Pole Vault Stars  realizado na cidade ucraniana de Donetsk. Renaud Lavillenie tem 27 anos de idade e em 2012 já fora campeão olímpico nos Jogos de Londres.
A generalidade dos jornais franceses destacaram o feito de Lavillenie com o seu habitual orgulho nacional e com muito entusiasmo, pois tratou-se de um caso de grande simbolismo no atletismo mundial, não só porque tinha sido exactamente nesse estádio que, há cerca de 21 anos, o atleta ucraniano Serguei Bubka batera o seu record mundial de 6,15 metros, mas também porque o próprio Bubka se encontrava presente no estádio e foi um dos primeiros a felicitar o novo recordista mundial.
Para quem gosta de atletismo, até havia quem pensasse que Serguei Bubka tinha atingido pela primeira vez o limite das possibilidades humanas. Afinal, este atleta francês, que até era bem pouco conhecido, mostrou que no desporto, tal como na ciência, na tecnologia e em outras áreas da actividade humana, parece não haver limites.

Uma Justiça que é cega e não funciona

A edição de hoje do jornal ABC afirma que em Espanha “a justiça não funciona” e o facto é que em Portugal, também ouvimos esta frase muitas vezes e até parece que, nesta matéria, ainda estamos pior que os nossos vizinhos.
Há poucos dias foi anunciada uma nova organização do sistema judiciário, que vai levar à extinção de 20 tribunais e à transformação de 29 que vão ser convertidos em secções de proximidade, isto é, meros balcões locais de atendimento. A Ordem dos Advogados já veio repudiar “a grave desqualificação” resultante da redução de comarcas que passam a ter a sua sede nas capitais de distrito, bem como o encerramento de tribunais e todas as medidas que põem em causa os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e o princípio basilar do acesso à Justiça. É evidente que a nova medida governamental apenas pretende reduzir custos e nada tem a ver com o funcionamento ou com rapidez da Justiça, nem com o respeito dos direitos dos cidadãos. Segundo tem sido dito, as novas medidas não vão produzir efeitos na melhoria do funcionamento do sistema judicial, nem vão melhorar as relações da Justiça com a Cidadania e a Economia, como seria desejável.
Recorde-se que o último relatório da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (CEPEJ) divulgado há menos de um ano, mostrava que no ano de 2010, um caso cível a correr nos tribunais portugueses demorava em média 1096 dias a ser resolvido, isto é, quatro vezes mais do que a média da União Europeia. Por isso, também por cá podemos dizer que a Justiça não funciona, pois é incompreensível a sua morosidade sobretudo em casos graves – e tantos são – que se traduzem na perplexidade do cidadão comum face à demora e ao conteúdo de algumas decisões judiciais.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O negócio dos vistos ‘gold’

No ano passado foram criados os vistos gold, um regime que permite aos cidadãos de países que não pertençam à União Europeia, ou não integrem o Acordo de Schengen, obter uma autorização de residência em Portugal para desenvolverem actividades de investimento. Essas actividades devem decorrer por um período mínimo de cinco anos, prevendo-se opções como a transferência de capital num montante igual ou superior a um milhão de euros, a criação de pelo menos dez postos de trabalho ou a compra de imóveis num valor mínimo de 500 mil euros.
O irrevogável ministro Portas foi o grande impulsionador desses vistos. No ano passado, segundo foi divulgado “foram concedidos 471 vistos gold que se traduziram num volume de investimento de 306,7 milhões de euros no país”, de que beneficiaram sobretudo cidadãos da China, Rússia, Angola e Brasil. Ora a compra de imóveis de luxo dificilmente pode ser classificada como investimento e, provavelmente, não foi criado nenhum posto de trabalho, o que significa que a ideia original de atrair investimento e criar emprego foi adulterada e se transformou num simples negócio imobiliário. Não é mau, mas não é investimento! Para o corrente ano, o irrevogável ministro Portas espera que “sejam atingidos 500 milhões de euros de investimento”, mas provavelmente o que vai acontecer, mais uma vez, não serão acções de investimento para criar riqueza, nem a criação de postos de trabalho. Assim, a opção governamental de vender vistos a quem aparecer, independentemente da origem e da cor do seu dinheiro, é muito discutível e nem se percebe porque traz tanta gente eufórica e leva o irrevogável ministro a exibir aquela sua caracterítica cara de auto-satisfação. É certo que este negócio chegou a muitos outros países europeus que têm dificuldades financeiras como as nossas e que até está a gerar concorrência entre Estados-membros mas, ao menos, esses não chamam investimento ao que por cá se tem revelado apenas como um negócio imobiliário. Porém, o irrevogável chama-lhe investimento apenas por ambição e porque no futuro lhe interessa estar ligado a essa palavra para a cobrar ao eleitorado.
 

World Press Photo 2013

Intitula-se apenas  Signal a fotografia que venceu o 57º World Press Photo - a World Press Photo of the Year 2013 - na qual se pode ver um grupo de emigrantes africanos de telemóveis erguidos para o céu e à luz da lua que, a partir da costa do Djibouti, tentam encontrar a rede somali que é mais barata, para poderem falar com os seus familiares. A fotografia foi obtida no dia 23 de Fevereiro de 2013 pelo fotojornalista americano John Stanmeyer nas proximidades da cidade de Djibouti, que é o principal ponto de paragem dos emigrantes da Somália, Etiópia e Eritreia que procuram uma vida melhor na Europa e no Médio Oriente, tendo sido publicada pelo National Geographic Magazine.
Nesta edição do World Press Photo concorreram 5.754 fotojornalistas oriundos de 132 países que submeteram a concurso 98.671 fotografias, que foram apreciadas por um júri de 19 profissionais do fotojornalismo e do documentário. Foram premiadas 56 fotografias nas nove categorias em apreciação, tendo cabido a maior parte dos prémios a fotojornalistas americanos e europeus, enquanto nenhum prémio foi atribuido a fotojornalistas portugueses ou brasileiros.
Tal como acontece anualmente, as fotografias premiadas vão integrar uma exposição itinerante que provavelmente será apresentada em Portugal, tal como tem acontecido todos os anos em Lisboa.
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma mulher inconseguida

Confesso que andei distraido e que foi preciso que alguém do outro lado do Atlântico me chamasse a atenção para o sucesso que está a ter o discurso de uma mulher  inconseguida, isto é, uma mulher que afirma que “o meu medo é o do inconseguimento”. Fui ao YouTube e lá estava a esdrúxula entrevista a declarar “o inconseguimento frustracional do soft power sagrado” e a sua afirmação de ter medo “do egoísmo que nos deixa de certo modo castrados em termos pessoais e nos deixa castrados em termos colectivos”.
Pois a ideia do inconseguimento é da autoria de uma senhora licenciada em Direito que, com esse diploma e o cartão do seu partido, tem levado uma vida de conforto à nossa custa e que vai muito para além dos seus eventuais méritos. Desde muito cedo militou nos comícios transmontanos de certeza de bandeirinha na mão. Muito jovem chegou a deputada e depois foi indicada pelo seu partido para juíza do Tribunal Constitucional, onde esteve até 1998. Aí se reformou com 42 anos de idade! Mas não parou e andou pelo Conselho da Europa e pelo Parlamento Europeu. Chegou a Presidente da Assembleia da República mas, pasme-se, não tem salário pois optou por continuar com a choruda reforma que vence desde há quase vinte anos. Que exemplo para quem trabalha ou para quem trabalhou! Pois é esta mulher que, de vez em quando, se destaca pelos ridículos disparates que diz e que são cada vez mais frequentes, a provocar a gargalhada geral e a envergonhar-nos enquanto segunda figura do Estado. Aqui há tempos inventariou os custos da eventual transladação de Eusébio para o Panteão Nacional e, agora, tomou posição sobre as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, ao lançar a ideia de abrir a porta ao mecenato para as custear. A senhora tem medo de inconseguimentos, mas o verdadeiro inconseguimento é ter esta senhora no lugar onde está, a falar desta maneira e a mostrar-se como se fosse assessora da troika ou das finanças. Que ridícula. Só nos faltava esta!

Carvalho, um português de sucesso

O Miami Herald é um importante diário que se publica em Miami desde 1903 e que tem no seu historial a atribuição de 20 Prémios Pulitzer, o maior galardão do jornalismo americano. Na sua edição de hoje, o jornal destaca em primeira página o seguinte título:
Carvalho named U.S.’ best schools leader.
O nome Carvalho chamou-me a atenção porque se devia tratar de um português e como estamos habituados a ver apenas o nome de Cristiano Ronaldo impresso nos jornais internacionais, não só li a notícia como também procurei saber mais sobre esse nosso compatriota.
Trata-se de Alberto M. Carvalho, um português nascido no Bairro Alto em Lisboa, que emigrou para os Estados Unidos em 1982, depois de completar os seus estudos secundários. Uma vez nos Estados Unidos começou por trabalhar em restaurantes e na construção civil mas estudou sempre, tendo obtido o grau de B.S. em Biology/Biomedical Sciences na Barry University e o grau de Master of Educational Leadership na Nova Southeastern University. Depois, foi professor numa escola secundária durante três anos, dando aulas de Física, Química e Biologia, mas rapidamente foi promovido a assistente de director de uma escola. Desempenhou outros cargos e em 2008 foi escolhido para o cargo de Superintendente das Escolas de Miami-Dade, o quarto maior sistema de educação dos Estados Unidos, gerindo 392 escolas com 350 mil estudantes que falam 56 línguas diferentes, além de 40 mil professores e outros profissionais. Em Dezembro de 2013 foi declarado o Florida’s 2014 Superintendent of the Year e, agora, foi eleito o 2014 National Superintendent of the Year entre os 49 superintendentes estaduais do país. O Miami Herald destacou Alberto Carvalho na sua primeira página, um português bem sucedido de 49 anos de idade!
Talvez o crato queira aprender com ele.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O sucesso do A380

O consórcio europeu Airbus, que tem a sua sede em Toulouse, anunciou uma encomenda de 20 aviões A380 pela Amedeo, uma plataforma de compra e aluguer de aviões baseada na Irlanda, numa operação avaliada em cerca de 6 mil milhões de euros e, com esta encomenda, o objectivo de vender anualmente três dezenas destes aviões está próximo de ser atingido em 2014, conforme noticia hoje o diário económico parisiense La Tribune.
O A380 é conhecido por superjumbo e é o maior avião comercial de todos os tempos. Entrou ao serviço em 2007 e, desde então, já foram feitas 123 entregas a dez companhias aéreas com destaque para a Emirates Airlines (44), a Singapore Airlines (19), a Qantas (12), a Lufthansa (10) e a Air France (9).  Entretanto, estão actualmente encomendados 309 novos aviões por 19 companhias, quase todas asiáticas e, entre estes, há 140 unidades que se destinam à Emirates, a companhia do Dubai. Porém, estes números escondem alguma preocupação no seio do fabricante, porque em 2012 apenas foram encomendados 9 aviões e, no ano seguinte, houve apenas um contrato que só foi confirmado no dia 23 de Dezembro pela Emirates, com uma encomenda de 50 aviões. A imprensa francesa dizia então que a Emirates era le Père Noël de l’Airbus A380, ao assegurar um negócio de 20 mil milhões de dólares. Como ainda não apareceu nenhum concorrente do A380, lançado pela Boeing ou por outro construtor, é evidente a excessiva dependência e até mesmo a vulnerabilidade económica da Airbus em relação a um só cliente, quase a configurar uma situação de monopsónio, uma vez que nos próximos quatro anos a Emirates Airlines vai assegurar por si só, a produção anual de 30 aviões, que é a normal capacidade de resposta do construtor. Nesse aspecto, a encomenda de 20 aviões pela Amedeo foi uma excelente notícia para a Airbus e, embora tenda a esconder os tempos difíceis por que passa o mercado aeronáutico, mostra que o A380 é um caso de sucesso tecnológico do construtor europeu, mas que também é um caso de sucesso comercial.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Moçambicanos escolhem o treino italiano

Segundo anuncia hoje a edição do diário moçambicano O País, os “italianos treinam a Marinha de Guerra moçambicana” através do trigésimo grupo da sua marinha, que compreende o porta-aviões Cavour, a fragata Bergamini, o navio-patrulha Comandante Borsini e o navio reabastecedor Etna. Este importante grupo naval, que embarca mais de mil homens e mulheres, deixou a Itália no dia 13 de Novembro para fazer uma viagem de circum-navegação do continente africano e chegou a Maputo no dia 27 de Janeiro, para materializar o acordo de colaboração técnica assinado recentemente, que estabelece actividades de cooperação naval durante dois meses e inclui acções de formação, operações de segurança marítima, diplomacia naval, assistência humanitária e a promoção da indústria italiana.
Dadas as relações históricas e culturais entre Portugal e Moçambique e, ao mesmo tempo, o seu comum empenhamento na CPLP, estranha-se e lamenta-se que o treino da Marinha moçambicana deixasse de ser feito pela Marinha Portuguesa. São conhecidas as situações de aperto por que estão a passar os países do sul da Europa, incluindo a Itália e Portugal, com elevadas dívidas externas, enormes défices públicos e altas taxas de desemprego. Apesar disto, a Itália não hesita em investir numa acção de promoção de grande envergadura, onde expressamente inclui a promoção da indústria italiana, enquanto Portugal parece nada fazer para se manter com influência junto da Marinha de Moçambique. O advogado Aguiar-Branco sabe desfazer hospitais e estaleiros, mas parece nada fazer para nos manter na linha da frente da cooperação com Moçambique, talvez porque não conheça essa dimensão simbólica e essa vocação da nossa Marinha. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A bizarra ideia da “Fatura da Sorte”

Toda a gente sabe da existência da economia paralela, da fuga ao fisco e da concorrência desleal, mas ao consultarmos os estudos divulgados por entidades internacionais credíveis, verificamos que a dimensão desses males no nosso país não é muito diferente da que se verifica na Suécia, na Noruega ou na Alemanha, além de ser menor do que aquilo que se verifica em alguns países da União Europeia. Portanto, coloquemo-nos no nosso devido lugar e sem complexos, embora deva ser estimulado o cumprimento  dos nossos deveres cívicos para minorar esses males da sociedade. Nesse sentido, o governo decidiu-se por uma verdadeira cruzada no combate à economia paralela e teve a bizarra ideia de criar a Fatura da Sorte.
A Fatura da Sorte é um concurso que premiará os consumidores que exijam as facturas correspondentes aos seus consumos de bens e serviços, quando tomam cafés, engraxam sapatos, compram um jornal ou usam alguns WC. Tal como acontece com as promoções do tipo “Poupa mais”, “quantas mais facturas forem emitidas a cada contribuinte” mais cupões vão a concurso, segundo disse o porta-voz da iniciativa. O concurso terá direito a transmissão televisiva, que provavelmente vai ser tão animada como “O preço certo” e, semanalmente, vai sortear automóveis que “em princípio” serão viaturas novas “de gama elevada”. Tudo conta e todos podem ganhar um automóvel, pelo que é de esperar algum sucesso desta bizarra iniciativa. É a estratégia da cenoura!
A dignidade e a autoridade do Estado, assim como a responsabilidade fiscal dos contribuintes ficam, desta maneira, colocadas ao nível dos concursos televisivos e das promoções das grandes superfícies. Que mais nos irá acontecer?

O novo-riquismo de São Bento

O governo faz tudo para ir ao bolso dos pensionistas e dos funcionários públicos com o argumento que é preciso cortar na despesa pública e diminuir o défice público e, depois, vai dando exemplos de um brutal despesismo e de ausência de economicidade nas suas decisões, o que para além de ser insensato, é passível de ser classificado como ilegalidade. É mais uma das poucas vergonhas a que vamos assistindo, porque o dinheiro que o gabinete do primeiro-ministro gasta é meu e de quem paga os impostos, que ele, o seu governo e os seus deputados nos impõem.
O caso é divulgado hoje pelo jornal i, que informa que o gabinete do primeiro-ministro contratou uma empresa em regime de outsourcing para atender telefones em São Bento por 25,1 mil euros, apesar de ter no seu gabinete de São Bento nada menos do que dez secretárias pessoais, nove auxiliares e doze pessoas a prestar apoio técnico-administrativo. O contrato foi assinado com a empresa We Promote – Outsourcing e Serviços, Limitada e já é o terceiro que é celebrado por adjudicação directa entre esta empresa e o gabinete do primeiro-ministro, porque este tem "ausência de recursos próprios". No entanto, com tão elevado número de secretárias/assistentes será mesmo necessária esta despesa? E porque não foram recrutados alguns funcionários no grupo da mobilidade especial, evitando-se assim o recurso a uma empresa externa? É o novo-riquismo de São Bento!
Quando, no intervalo da consulta da sua conta bancária que cresce, cresce, cresce, o amigo Catroga souber disto, não só vai discordar deste contrato, como vai poder dizer que são estas as gorduras do Estado a que se referia quando em 2011 afirmava que seria tudo fácil.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A gente sem vergonha que nos governa

São cada vez mais as vozes de todos os quadrantes políticos e sociais que, com legítima indignação, se levantam contra o fanatismo ideológico do governo, contra a arrogância e a mentira, contra as promessas eleitorais não cumpridas e contra a violação dos direitos das pessoas, sobretudo dos pensionistas e dos funcionários públicos.
A voz de António Bagão Félix é apenas uma delas e na edição de hoje do jornal i, aquele antigo ministro das Finanças afirma que “para o governo tudo é matemática orçamental e as pessoas não contam”, recordando ao mesmo tempo aquilo que está escrito em todos os livros de Economia, isto é, que a Economia deve estar ao serviço das pessoas e não o contrário. O que se tem verificado em Portugal sob a direcção de um governo cheio de gente sem vergonha e sem pudor, mas com o apoio de Belém e das bancadas de São Bento, é o sistemático confisco das pensões, levando a pobreza e a insegurança aos seus beneficiários, sem que daí tenham resultado quaisquer efeitos significativos sobre a dívida e o défice.
Em Espanha, que passa por uma crise muito semelhante à nossa, o governo de Mariano Rajoy tem mostrado uma atitude bem diferente perante os pensionistas e escreveu-lhes recentemente uma carta personalizada na qual informa que, desde o dia 1 de Janeiro, as pensões foram aumentadas em 0,25% e que em 2013, apesar da difícil conjuntura económica, as pensões subiram entre 1 e 2%. A carta subscrita pela Ministra de Empleo y Seguridad Social garante aos pensionistas “que las pensiones subirán todos los años sea cual sea la situación económica y que nunca podrán ser congeladas".
O exemplo espanhol mostra a gravidade do que se passa por cá e mostra que, lamentavelmente, continuamos sujeitos à arrogância, à ignorância e à mediocridade desta gente sem vergonha que nos governa.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Os temporais que não nos dão tréguas

O mau tempo continua a assolar a costa ocidental da Europa e a afectar a vida das pessoas e das suas actividades. Num tempo em que cada vez mais se fala das alterações climáticas como a maior ameaça ambiental da actualidade, as televisões e os jornais têm dado o devido relevo a este fenómeno e mostram as imagens de nevões, inundações, quedas de árvores, desabamentos de terras e destruição de infraestruturas, mas também de muitos dramas humanos que lhes estão associados.
Porém, nos países situados na orla marítima atlântica, nos últimos dias tem sido retratada a violência da agitação marítima, com ondas superiores a 10 metros e com ventos a atingirem velocidades superiores a 130 km por hora, sobretudo nas costas atlânticas francesa e espanhola. Muitas barras têm sido encerradas e a actividade da pesca paralizou. Há destruição um pouco por toda a parte, desde o sudoeste da Inglaterra até à Costa da Caparica. Nesse contexto meteorológico, quando ontem entrava a barra do porto francês de Bayonne, o cargueiro espanhol Ludo não resistiu ao temporal e naufragou, obrigando ao resgate dos seus 12 tripulantes por helicóptero. Vários jornais franceses, como o Aujourd’hui en France, mas também diversos jornais espanhóis, ilustraram as suas edições com fotografias do naufrágio do Ludo, mas também salientaram a persistência dos temporais que não nos dão tréguas como possível consequência das alterações climáticas e como uma ameaça ambiental muito séria. A juntar ao que já se passou, a previsão meteorológica indica algum agravamento para os próximos dias.

A Rússia e o triunfo de Vladimir Putin

Realiza-se amanhã a cerimónia de abertura oficial dos Jogos da XXII Olímpíada de Inverno, que terão como sede principal a cidade de Sochi, na costa russa do mar Negro e nos quais o nosso país vai estar representado por dois atletas que não falam português: Camille Dias e Arthur Hanse. Depois de ter recebido os Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, a Rússia receberá pela segunda vez as Olimpíadas e, como sempre acontece nos países que acolhem estes grandes eventos internacionais, também a Rússia está a viver momentos de grande euforia.
Na sua última edição, a revista The Economist procurou analisar a actual situação russa e salienta que “os sucessos no exterior e os Jogos Olímpicos de Inverno parecem mostrar uma Rússia forte mas, no que é essencial, é fraca”. O Presidente Vladimir Putin tem governado a Rússia desde a resignação de Boris Iéltsin, como primeiro-ministro (1999-2000), como presidente (2000-2008) e, desde então, como primeiro-ministro. A escolha de Sochi foi uma vitória de Putin e o investimento de 50 mil milhões de dólares representa a sua vontade  em afirmar a Rússia e fazê-la respeitar na cena internacional. Na realidade ele está a viver um momento alto pois a sua aposta nos Jogos Olímpicos correu bem,  mas também porque tem feito valer as suas posições sobre a Síria e tem recebido a preferência do presidente ucraniano Viktor Yanukovych.
Porém, segundo The Economist, se Putin é um triunfador, a Rússia é “a patinadora com pés de barro”, pois a sua economia continua muito centralizada e muito dependente da exportação de petróleo e gás.  A corrupção é endémica e a sua indústria não é competitiva, com altos custos salariais e baixa produtividade. O investimento é muito baixo e o capital e os jovens quadros continuam a deixar o país. A revista conclui a sua análise  salientando que “a União Soviética não caiu só porque o povo rejeitou a sua ideologia, mas porque a sua economia desmoronou” e acrescenta que, “a menos que Putin proceda a reformas económicas, o seu regime vai seguir o mesmo caminho”.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Os horácios que nos governam

A história é muito conhecida e é contada de muitas maneiras, embora na sua forma mais comum seja apresentada como a história de “Horácio e o lobo”. A história conta-se, habitualmente, da seguinte maneira:
Era uma vez um rapaz que se chamava Horácio que era pastor e que costumava guardar as suas ovelhas na encosta de um monte situado junto à aldeia onde vivia. Horácio tinha o hábito de mentir. Um dia lembrou-se de rir à custa dos vizinhos e pôs-se a gritar muito alto: “Aí vem lobo! Aí vem lobo!” Os camponeses que o ouviram, correram para o ajudar mas não viram qualquer lobo. Voltaram para o trabalho, a pensar que o lobo se tivesse assustado e fugido, enquanto Horácio se ria dos camponeses que enganara. Na semana seguinte Horácio repetiu a brincadeira e gritou de novo: “Aí vem lobo! Aí vem lobo!” E os camponeses correram para o ajudar, embora em menor número do que da primeira vez, mas não viram qualquer lobo e sentiram-se enganados pelo mentiroso Horácio. Passado algum tempo, Horácio andava na encosta da serra a guardar as suas ovelhas, quando um enorme lobo apareceu e se lançou sobre o rebanho. Então, em desespero, Horácio gritou: “Acudam! Socorro! Lobo! Lobo!” Ninguém fez caso dele e ninguém acudiu. Horácio bem lutou com o lobo mas, apesar dos seus esforços, não conseguiu evitar que ele apanhasse uma das suas melhores ovelhas. Ferido e com a roupa rasgada, Horácio voltou a casa cansado e triste. Contou aos camponeses o que lhe tinha acontecido e censurou-os por não o terem socorrido. Então, um deles disse-lhe: “Nós bem ouvimos os teus gritos, mas pensamos que uma vez mais te querias rir de nós. És um mentiroso!”.
Esta história ocorreu-me por verificar que temos um governo com muitos horácios: o Horácio Coelho, o Horácio Portas, o Horácio-Branco, o Horácio Crato, o Horácio Maduro e o Horácio Moedas, entre vários outros horácios. Mentiram-nos tanto que, mesmo quando anunciam alguns sinais de recuperação económica e social, já poucos acreditam neles.

A triste trapalhada dos Mirós

O Estado Português herdou um activo constituído por 85 quadros de Joan Miró que tinham pertencido ao BPN e, lamentavelmente, decidiu vendê-los. Os quadros encontravam-se à guarda da Parvalorem,SA gerida por um tal Nogueira Leite, parecendo ser a única coisa boa que herdamos do BPN, que tanto tem custado aos contribuintes portugueses e que continua a ser um dos maiores escândalos da nossa democracia pela impunidade com que têm sido tratados os responsáveis por essa fraude. A existência desta colecção surrealista em Portugal podia contribuir para uma afirmação de modernidade e para aumentar e diversificar a nossa oferta cultural, tornando-se numa atracção museológica e num polo de atracção para o turismo.  Nessas condições não deveria ter sido decidida a sua venda, conforme propuseram os especialistas e a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), pelo menos sem que houvesse uma prévia discussão pública sobre o assunto. Porém, o Estado e o Ministério das Finanças e a Parvalorem,SA e o Secretário de Estado da Cultura embrulharam-se e, obcecados no seu fanatismo financeiro, decidiram a venda da colecção demonstrando uma total ausência de sensibilidade pela problemática cultural, tendo contratado a venda com a famosa leiloeira Christie’s.
No entanto, não foram cumpridos os procedimentos legais a que a Lei de Bases do Património Cultural obriga e a colecção viajou ilegalmente para Londres sem que a DGPC tivesse autorizado a sua saída. Alguns políticos e muitos cidadãos reagiram e interpuseram uma providência cautelar para suspender a venda da colecção. O tribunal não se opôs à venda dos quadros, mas declarou ilegal a sua saída de Portugal, uma vez que não teve a prévia autorização da DGPC. Porém, muito prudentemente, a leiloeira Christie’s decidiu suspender o leilão, devido às incertezas legais que eventualmente poderiam prejudicar os compradores. Essas incertezas legais não resultaram da opção de vender ou não vender, mas tão só pela saída ilegal das obras para o estrangeiro que as entidades responsáveis não acautelaram. Eis aqui o resultado da teimosia dos fanáticos que nos governam e que se tornou em mais um enxovalho internacional para todos nós.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Uma república demasiado gastadora

A Casa Real Espanhola apresentou ontem no Palacio de La Zarzuela o seu orçamento para o ano de 2014, isto é, divulgou a forma como vai utilizar os 7.775.040 euros que lhe foram atribuídos e que correspondem a um decréscimo de 2% em relação ao ano de 2013. Esta apresentação pública perante os jornalistas resulta da vontade do próprio Rei que, desde 2011 e por virtude das políticas de austeridade, decidiu que o orçamento da Casa Real fosse transparente e aceitou que, desde então, todos os anos fosse diminuido. A novidade deste ano foi a decisão de atribuir um salário fixo e uma verba para representação à Rainha Sofia (131.739 euros) e à Princesa das Astúrias (102.464 euros), de modo a assegurarem o cumprimento das suas apertadas agendas institucionais, enquanto as condições retribuitivas do Rei João Carlos (292.752 euros) e do Príncipe Filipe (146.376 euros) se mantém, embora todos estes valores estejam sujeitos a uma retenção na fonte que vai dos 51% aos 47%. Na detalhada notícia publicada pelo diário La Razón conclui-se que a Monarquia custa 16,6 cêntimos por ano a cada espanhol.
Inversamente, Portugal comporta-se como uma república gastadora. A divulgação dos gastos da Presidência da República é feita pela respectiva Secretaria-Geral, mas é mais opaco e sem a transparência das contas apresentadas aos jornalistas espanhóis. Assim, em 2013 o orçamento da Presidência da República foi de 15.130.000 euros, o que significa que essa entidade custa a cada português cerca de 1,5 euros, ou seja, quase dez vezes mais do que a Casa Real espanhola. Embora os dois orçamentos não possam ser comparados com total exactidão por incluirem diferentes despesas, é evidente que Portugal gasta muito mais do que a Espanha na sua representação institucional, entre outras razões porque se fazem mais viagens presidenciais com alargadas e sumptuosas comitivas, mas também porque tem ao seu dispor uma verdadeira legião de dezenas consultores e assessores. Realmente, o Palácio de Belém não quer ser uma referência de contenção despesista nem procura inspiração no exemplo de parcimónia de Manuel de Arriaga, o seu primeiro morador.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O multiculturalismo e a coesão social

A edição de hoje do The Daily Telegraph destaca que "em cada nove escolas primárias e secundárias inglesas há uma em que o inglês já não é a primeira língua", mas acrescenta mais: um milhão de alunos falam inglês como segunda língua e um em cada cinco alunos não falam inglês em casa. Essa realidade está a preocupar as autoridades inglesas, mas trata-se de um fenómeno que também está a acontecer noutros países europeus e que merece reflexão.
A notícia partiu de um inquérito realizado no Reino Unido como parte do recenseamento escolar anual, ao qual responderam 15.288 escolas primárias e secundárias com informações sobre a língua materna ou a primeira língua dos seus alunos. Verificou-se que em 1.755 escolas frequentadas por um total de 835.174 estudantes havia uma minoria de falantes de inglês e apurou-se que as línguas mais faladas pelos alunos eram urdu, bengali, punjabi, somali, polaco, hindi, gujarati, tamil, português, árabe e espanhol. A pequena cidade de Reading, situada no condado de Berkshire nos arredores de Londres, é chamada a “babel dos dialectos” pois verifica-se que as crianças da cidade falam mais de 150 línguas e dialectos nas suas casas.
O problema é conhecido na generalidade dos países europeus e resulta da atracção que a União Europeia continua a exercer sobre muitas populações, não só da sua periferia, como também do norte de África, da antiga Índia Inglesa e de outras regiões. Há que lhe dar muita atenção. Para os países receptores é necessário um esforço para proteger a diversidade cultural e assegurar a coesão social, o que implica o reconhecimento do multiculturalismo e, reciprocamente, é necessário que os emigrantes também se obriguem a um esforço de integração e que respeitem as sociedades de acolhimento e as culturas locais. Esse é um dos grandes desafios do nosso tempo a merecer debate e reflexão, pelo que a notícia do The Daily Telegraph é mais um alerta.