quarta-feira, 31 de março de 2021

Finalmente, já há pastéis de nata em Goa

De vez em quando chegam-nos notícias que mostram como a língua e a cultura portuguesa resistem ao tempo, às geografias, às políticas e à indiferença histórica de muitos responsáveis. 
Desta vez a notícia chega de Goa, onde durante alguns anos me deliciei com bebincas, bolos sans rival e dedos de ama, mas onde via com mágoa que a doçaria goesa ignorava o arroz doce e o pastel de nata. Não conseguia compreender como numa terra onde a gastronomia portuguesa deixou algumas raízes, aqueles símbolos da doçaria lusitana não tivessem tido o acolhimento da sociedade goesa, nem das suas elites.
Pois a notícia chegou agora e informa que em Goa nasceu a Padaria Prazeres numa terra cheia de bakeries e, entre o pão e a pastelaria de diferentes origens, encontramos o nosso pastel de nata, uma guloseima emblemática da doçaria portuguesa que ainda há pouco tempo não se encontrava em Goa.
A Padaria Prazeres situa-se em Caranzalém, um bairro da cidade de Panjim, parecendo que está a ter um grande sucesso. O meu aplauso aqui fica, até que lá possa ir.

terça-feira, 30 de março de 2021

Está safo o Ever Given. O mundo respira!

Ao fim de seis dias, o gigantesco navio super-contentores Ever Given foi desencalhado e o trânsito no canal de Suez foi reaberto, devido à acção conjugada de rebocadores e de dragas e, naturalmente, com a indispensável ajuda das marés. 
O mundo, e em particular o comércio internacional, respiraram de alívio. Os prejuízos foram astronómicos para muita gente e era muito pesado o cenário que se desenhava, embora ainda estejam para vir as decisões dos tribunais quanto às indemnizações que vão ser requeridas por centenas de armadores e de exportadores por perdas e danos.
A imprensa mundial, como foi o caso do Financial Times, publicou fotografias do Ever Given desencalhado e já a navegar no canal em direcção ao Mediterrâneeo com a sua carga de cerca de vinte mil contentores. Algumas das fotografias publicadas na imprensa e as imagens televisivas que nos chegam do navio a atravessar o “deserto” são impressionantes, pois mostram como as suas dimensões são desproporcionadas relativamente às dimensões do canal. Até parece o Rossio a entrar na Rua da Betesga! 
As autoridades egípcias que ali têm a sua galinha dos ovos de ouro vão ter que equacionar estas situações que, como se viu nestes dias, lhe podem causar grandes problemas. Por agora está safo o Ever Given e o mundo respira.

sábado, 27 de março de 2021

O gigantesco Ever Given continua atascado

A fotografia obtida a partir de satélite do navio super-contentores Ever Given a bloquear a mais importante via marítima do mundo já foi publicada na imprensa internacional em muitos jornais e é um bom exemplo de que, por vezes, uma imagem vale mais que mil palavras. Por isso recorremos ao jornal espanhol ABC para aqui revelar essa esclarecedora imagem daquilo que está a acontecer no canal de Suez.
O bloqueio do canal já aconteceu noutras ocasiões. Em 1956, depois da nacionalização do canal pelo Egipto, houve uma intervenção franco-britânica na área do canal de que resultou o seu bloqueio durante algum tempo. Em 1967, durante a guerra dos Seis Dias, as forças israelitas afundaram alguns navios no canal que ficou bloqueado até 1975.
Porém, este caso é muito diferente pois teve uma origem que ainda está por esclarecer, havendo que se esperar pelas revelações da caixa negra do navio para se perceber exactamente o que sucedeu. O navio atravessado no canal e “atascado” como refere o jornal ABC, está a agitar o comércio internacional, o custo dos fretes marítimos e os grandes armadores. Há mais de duas centenas de navios impedidos de passar pelo gigantesco Ever Given e as cargas paralisadas valem muitos milhões, pelo que as consequências deste imbróglio junto das companhias seguradoras é um imprevisto que também vale muitos milhões.
A situação está a revelar-se muito complexa de ultrapassar e nem os rebocadores, nem as dragas estão a resolver o problema que já se arrasta há quatro dias. Talvez a próxima maré possa ajudar ou ter-se-ão que descarregar milhares de contentores para aliviar o navio e restituir-lhe flutuação. Há mesmo muita incerteza e muita imprevisibilidade no mundo, apesar de todos os progressos com que a Ciência e a Técnica nos vão habilitando.

sexta-feira, 26 de março de 2021

O pânico e o desespero em Cabo Delgado

De vez em quando chegam-nos notícias de Cabo Delgado, a província mais setentrional de Moçambique, onde desde há cerca de três anos se movimentam forças insurgentes ligadas ao grupo jihadista Estado Islâmico, com o aparente objectivo de estabelecer um califado na região costeira daquela província. Estima-se que já terão morrido cerca de 2.600 pessoas e que haverá cerca de 700 mil deslocados que fogem à violência e que estão sob uma grave crise humanitária já denunciada pelas Nações Unidas.
Depois de vários ataques a Mocímboa da Praia, foi agora a vez de ter sido atacada a vila de Palma que se situa na baía de Tungué, não se sabendo ainda os resultados dessa acção, pois estão cortadas as comunicações. O jornal O País escreve hoje que “os terroristas voltam a deixar pânico e desespero em Palma”.
Na península de Afungi que se situa as proximidades de Palma, a petrolífera francesa Total está a construir um complexo industrial que é o maior investimento multinacional privado do continente africano e que se destina à exploração do gás natural naquela região marítima conhecida por bacia do Rovuma, o que pode levar a uma intervenção estrangeira em apoio do governo de Moçambique e de protecção do complexo industrial em construção. Entretanto, um comunicado do Ministério da Defesa moçambicano anunciou que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) “estão a perseguir o inimigo e apelam à população para se manter vigilante e serena”.
Palma, baía de Tungué e cabo Afungi, tal como bacia do Rovuma, ilhas Tekomagi e Rongui e farol de Cabo Delgado que os portugueses construíram em 1931, são nomes que nos foram familiares há muitos anos e cuja visão permanece na nossa mente, pelo que não somos indiferentes ao desespero daquelas populações.

quinta-feira, 25 de março de 2021

O embaraçoso bloqueio do canal de Suez

No passado dia 23, que era terça-feira, o porta-contentores Ever Given que desloca 224.000 toneladas e tem 400 metros de comprimento e 59 metros de largura, navegava no canal do Suez em viagem do porto chinês de Yantian para o porto de Roterdão. O navio é operado pela Evergreen Marine, uma empresa de transportes de Taiwan e arvora bandeira de conveniência do Panamá, tendo encalhado pela sete horas da manhã num local em que o canal tem 260 metros de largura e ficou a bloquear o canal do Suez, por onde passam cerca de cinquenta navios por dia.
O canal do Suez liga o mar Vermelho ao mar Mediterrâneo, tem uma extensão de 193 quilómetros e foi inaugurado em 1869. É uma das maiores obras realizadas pelo Homem e, actualmente, garante cerca de 12% do comércio mundial, incluindo uma boa parte do movimento mundial do petróleo.
Não foram dadas até agora quaisquer explicações sobre as causas do acidente, para além de ter ocorrido um vento anormal com rajadas de 40 nós de velocidade e uma tempestade de areia que afectaram a navegação do navio, o que é insuficiente. Nem a Autoridade do Canal de Suez, nem os seus Serviços de Pilotagem, adiantaram explicações adicionais sobre este acidente. A alternativa ao canal do Suez é a Rota do Cabo, que tem mais nove mil quilómetros de extensão e consome mais dez dias de viagem. Os navios bloqueados pelo gigantesco porta-contentores Ever Given começam a atingir muitas dezenas em ambas as pontas do canal e o impacto na economia mundial deste engarrafamento de efeitos globais ainda é, neste momento, imprevisível, embora já estejam a aparecer algumas consequências no comércio internacional e no preço do petróleo.
Muitos jornais publicaram fotografias captadas por drones em que se pode observar o impressionante bloqueio que um navio de 400 metros de comprimento está a provocar num canal com 260 metros de largura. Porém, a fotografia publicada pelo Finantial Times é, talvez, mais sugestiva pela desproporção que mostra entre a proa do navio que transporta 20 mil contentores e uma máquina escavadora.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Uma imagem vale mais que mil palavras

No dia em que a imprensa brasileira anuncia o impressionante número de 3.251 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas e em que se escreve que o Brasil é o país do mundo onde mais se morre devido à pandemia, a revista veja classifica o país como doente e mais pobre.
Embora essa possa ser a realidade brasileira, não se pode ignorar que essa é também a situação que se verifica em quase todo o mundo, pois a pandemia chegou a todo o lado, matou muitos milhares de pessoas, tem feito grandes estragos nas economias e tem feito aumentar a fome e a pobreza. Porém, os brasileiros não estão insatisfeitos apenas com o número de mortes causados por uma pandemia que o próprio Presidente da República ridiculariza e com a contínua desvalorização do real em relação ao dólar, a denunciar a grave deterioração de uma economia onde não há investimento, em que aumenta o desemprego e em que há sérias quebras na produção e nas exportações. 
Os brasileiros sentem que este quadro de crise se agrava com a generalizada sensação de descontrolo das instituições brasileiras, nomeadamente as instâncias políticas e judiciais, como veio mostrar a recente decisão do Supremo Tribunal Federal ao declarar que o Juiz Sérgio Moro não foi imparcial no julgamento de um antigo Presidente da República e que, depois, foi premiado por Jair Bolsonaro com o cargo de Ministro da Justiça. Esse triste episódio da história recente do Brasil mostra que o país está mesmo muito doente e à deriva, como insinua a ilustração da capa da revista veja que mostra uma esfarrapada bandeira nacional brasileira. É seguramente um caso de comunicação em que uma imagem, aquela imagem, vale mais que mil palavras.

O inominável e cretino Jair Bolsonaro

A situação sanitária no Brasil continua a agravar-se e, cada vez mais, os brasileiros acusam Jair Bolsonaro pela forma irresponsável, incompetente e mentirosa como tem gerido a crise pandémica. Até há pouco tempo ele ainda suscitava o apoio de boa parte da sociedade brasileira e até era o favorito para as próximas eleições presidenciais de 2022, mas o agravamento da pandemia fez cair os seus índices de popularidade e, segundo as sondagens conhecidas, já são 56% os brasileiros que o consideram incapaz de liderar o país e são 54% os que consideram a sua actuação em relação ao controlo da pandemia foi muito má. A bandeira contra a corrupção, que ergueu durante a campanha eleitoral, há muito que foi esquecida e a distribuição de cargos entre familiares e amigos parece ter atingido níveis impensáveis. Além disso, o cenário do regresso de Lula da Silva à vida social e, possivelmente à vida política, desfavorece e enfraquece Bolsonaro, que está com a sua liderança ameaçada e a perder a sua sustentação política. 
Neste quadro desolador, o número de óbitos continua a aumentar e o Brasil tornou-se o centro global do covid-19, enquanto meio mundo impede a entrada de brasileiros tratados como factores de contágio. É o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil, mas Jair Bolsonaro continua a apoiar aqueles que lutam contra o confinamento, a negar as evidências científicas e a fazer declarações absurdas. A opinião pública e a imprensa ridicularizam Bolsonaro e tratam-no como cretino, ignóbil, repugnante, canalha, deplorável, patife, ordinário, mesquinho, reles, pulha, velhaco, abominável, detestável, infame, bandalho, ignorante, vil, cafajeste, inculto, boçal, estúpido, rude, maldito, desgraçado, burro, incapaz, idiota, desumano, malfeitor, parvo e muito mais. Isso não teria qualquer importância se ele não fosse o presidente de um grande país que é a República Federativa do Brasil.

segunda-feira, 22 de março de 2021

A glória angolana está no Cuito Cuanavale

O Jornal de Angola assinala na sua edição de hoje a batalha de Cuito Cuanavale, que ocorreu no sul de Angola, escrevendo que essa batalha alterou a História de África. 
Decorreu entre os dias 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, isto é, durante mais de quatro meses e nela tomaram parte, de um lado, o exército angolano (FAPLA) e as forças expedicionárias cubanas (FAR) e, do outro, as forças da UNITA e o exército sul-africano. Como quase sempre acontece nestes casos, ambos os lados reclamaram vitória nesta batalha que foi a mais prolongada e dura que aconteceu no continente africano desde a 2ª Guerra Mundial. 
Tudo começou com um ataque das FAPLA às bases da UNITA situadas na Jamba e em Mavinga, feito com aviação e com o auxílio de unidades motorizadas cubanas e tanques de origem soviética. A África do Sul que ocupava o território fronteiro da Namíbia pretendeu opor-se a que as FAPLA ocupassem aquela região fronteira e desse abrigo aos nacionalistas da SWAPO. Houve avanços e recuos das duas forças em presença e, durante os quatro meses de combates, morreram alguns milhares de combatentes. Quando se verificava um impasse nos combates foram assinados os acordos de Nova Iorque entre Cuba, África do Sul e Angola, que deram origem à Resolução 435/78 do Conselho de Segurança das Nações Unidas que levou à retirada das forças estrangeiras de Angola, à independência da Namíbia, ao fim do regime de segregação racial conhecido por apartheid que vigorava na África do Sul e à libertação de Nelson Mandela que se verificou no dia 11 de Fevereiro de 1990.
Cuito Cuanavale representa, portanto, um marco na história da libertação da África Austral e as autoridades angolanas celebram a data e criaram um parque temático no Triângulo do Tumpo, para honrar a memória dos seus combatentes e servir de memória para as gerações futuras.

domingo, 21 de março de 2021

Os Pares do Reino nascidos para governar

A edição de hoje do The Sunday Times destaca uma grande reportagem sobre “a verdade sobre os Pares do Reino que nasceram para governar”, isto é, um corpo hereditário da nobreza britânica que tem assento na Câmara dos Lordes, que é a câmara alta do Parlamento britânico. De acordo com a investigação daquele respeitado jornal, há 85 duques, condes e barões que por direito de nascimento têm assento naquela câmara, sem que tenham passado por qualquer crivo eleitoral. Esses Pares do Reino têm uma média de 71 anos de idade, são todos homens e, desde 2001, reivindicaram o recebimento de 47 milhões de libras para pagamento de despesas de saúde e de viagens, sem que tivessem participado num único debate, nem tenham alguma vez falado ou feito qualquer pergunta escrita. Outra das curiosidades deste grupo é o facto de 46% deles ter frequentado o Eton College que, durante séculos, tem educado a classe dominante britânica e que é sinónimo de elite, de aristocracia e de privilégio. Mesmo no modelo muito conservador da Monarquia britânica, este sistema de nobreza hereditária está desactualizado e alguns dos seus membros entendem que deve ser abolido.
Como curiosidade regista-se que em Portugal existiu a Câmara dos Digníssimos Pares do Reino durante o tempo da Monarquia Constitucional, onde tinham assento noventa pares da mais alta nobreza nomeados pelo rei, mas sem direitos hereditários. Essa câmara foi criada pela Constituição de 1826 e foi extinta com a Revolução de 1910, mas a sua congénere britânica ainda perdura, sabe-se lá por quanto tempo.

sábado, 20 de março de 2021

A vacina da AstraZeneca é segura e eficaz

Invocando razões de precaução, aconteceu que 21 dos 27 estados-membros da União Europeia suspenderam a utilização da vacina AstraZeneca. Houve um alarme geral até que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a EMA (European Medicines Agency) vieram serenar os espíritos mais exaltados e declarar que a vacina do consórcio anglo-sueco era safe and effective, isto é, a vacina da AstraZaneca recebeu o sim das autoridades sanitárias. O que se passou começou a ser explicado e parece não ser mais do que um episódio da guerra entre as multinacionais farmacêuticas, de que resultaram desconfianças, tomada de precauções, redução da velocidade de vacinação e atrasos na imunização dos europeus.
Apesar da União Europeia ser um dos espaços que tem mais gente vacinada, temos assistido nos dois últimos dias a uma acusação contra as autoridades europeias e, em particular, contra Ursula von der Leyden, porque não terão sabido negociar as suas necessidades com a indústria farmacêutica. Porém, quando se esperava que um jornalismo sério contribuísse para devolver a confiança às populações, o que temos visto é uma repetida suspeita de tipo inquisitorial para arranjar culpados pela suspensão da AstraZeneca e pelos atrasos que sofreram os planos de vacinação. Mesmo quando esse tipo de jornalismo surge embrulhado em títulos de referência, os seus agentes não passam de figurões que preferem o sensacionalismo à verdade e ignoram os seus deveres de informar. Eles e elas não querem informar nem esclarecer, mas apenas visam enterrar alguém na praça pública. Infelizmente o nosso panorama mediático está cheio de gente dessa.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Agrava-se a crise sanitária no Brasil

A edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo escreve que o “Brasil enfrenta sua maior crise sanitária” e esse título, juntamente com a palavra colapso, perturbam e entristecem os leitores, sobretudo aqueles que estão do lado de cá do Atlântico e que consideram, pela história, pela língua e por laços familiares, que o Brasil ainda é uma espécie de Portugal dos trópicos.
Ao fim de um ano de pandemia, torna-se evidente que a gestão da crise sanitária brasileira tem sido uma sucessão de erros, como atesta o facto de ter sido empossado o 4º Ministro da Saúde do Brasil, o que parece demonstrar que os três ministros anteriores não suportaram a ignorância e a irresponsabilidade de quem os dirigia, isto é, fartaram-se do presidente Jair Bolsonaro, o tal que falou em gripezinha.
Acontece que, depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país onde ocorreram mais óbitos causados pelo covid-19. Estão contabilizados 284.775 óbitos e, nos últimos tempos, a sua média diária supera largamente os dois milhares. É uma tragédia e a imprensa brasileira utiliza as palavras agravamento, catástrofe, colapso da saúde, fora de controlo e recorde de casos, entre outras, para descrever a triste realidade de um país que não aprendeu que com as máscaras, o distanciamento social e o confinamento se podia evitar o pior. O prestígio internacional do Brasil está em jogo e, segundo o jornal paulista, há 108 países que barram a entrada a cidadãos brasileiros. 
É evidente que Jair Bolsonaro não merece respeito nenhum e que os brasileiros saberão despachar o fanfarrão-fantoche que tão mal os representa.

Síria: dez anos de guerra e de tragédia

A viagem do Papa Francisco ao Iraque produziu, entre outras consequências, o regresso da Síria e dos seus dramas à agenda de alguma imprensa internacional e o jornal L’Orient-Le Jour, que se publica na cidade libanesa de Beirute, foi um dos jornais que trouxe para a sua primeira página o drama sírio.
O presidente Bashar el-Assad sobreviveu a dez anos de guerra, mas governa um país em ruínas e partilha o seu território com quatro exércitos estrangeiros e inúmeras milícias armadas. Bashar el-Assad tem 55 anos de idade e está infectado por covid-19, tal como a sua mulher Asma, mas governa a Síria desde 2000 e, em breve, deverá ser reeleito para um quarto mandato presidencial de sete anos. Porém, o país que vencera o analfabetismo, que era auto-suficiente no plano alimentar e energético, que exportava gás, petróleo e fosfatos, já não existe. 
A guerra síria é a maior catástrofe humanitária que o mundo conheceu depois da 2ª Guerra Mundial. Metade dos seus 24 milhões de habitantes está deslocada, houve 390 mil mortos e 200 mil desaparecidos, mais de um milhão de feridos e quase seis milhões de refugiados nos países vizinhos. No terreno encontram-se quatro exércitos estrangeiros: os turcos com cerca de 15 mil soldados, que controlam uma faixa com 120 quilómetros de extensão e 30 quilómetros de profundidade na fronteira norte da Síria, bem como uma província curda no nordeste do país; os russos que ocupam a base aérea de Hmeimim e outros aerodromos, têm uma base naval em Tartous e algumas posições militares na fronteira leste do país; os americanos mantêm 800 soldados no nordeste a proteger os poços de petróleo; os Guardas da revolução iraniana, o Hezbollah libanês, as milícias xiitas e afegãs encontram-se nas proximidades das cidades mais próximas da fronteira com o Iraque; as milícias curdas, apoiadas pelos Estados Unidos e pela França, controlam um terço do território sírio à volta das cidades de Hassaké no nordeste e Raqqa no norte e a província oriental de Deir Ezzor. No sul há outras milícias e algumas células do Daesh em actividade. São demasiados actores e demasiadas tensões acumuladas. Ninguém sabe como se pode sair desta tragédia.

terça-feira, 16 de março de 2021

Precaução suspende vacina AstraZeneca

A imprensa internacional destaca nas suas edições de hoje que o uso da vacina Oxford/AstraZeneca foi suspenso na Europa, ou em grande parte dos países europeus.
Os primeiros países que suspenderam temporariamente a utilização daquela vacina após se terem verificado casos de coagulação de sangue em doentes imunizados foram a Áustria, Estónia, Lituânia, Letónia, Luxemburgo e Dinamarca. Seguiram-se a Noruega, a Islândia, a Itália, a Alemanha, a França, a Espanha e, ontem, foi a vez de Portugal.
Segundo vem sendo anunciado, a suspensão do uso da vacina é apenas uma atitude de precaução porque não se sabe se há, ou se não há, uma relação directa entre a vacina e os problemas sanguíneos que têm sido detectados. O facto é que já foram administradas 17 milhões de vacinas Oxford/AstraZeneca e apenas foram identificados quarenta casos de formação de coágulos no sangue e, por isso, tanto a OMS como as autoridades de saúde estão a sossegar as pessoas que já receberam esta vacina.
Independentemente do que vier a ser apurado nas próximas semanas, já ninguém quer a vacina da Oxford/AstraZeneca ou, por outras palavras, na grande corrida pelo sucesso comercial e pelo prestígio científico que está em curso, a Oxford/AstraZeneca (Reino Unido/Suécia) já perdeu a confiança das populações. Deve ser uma consequência da guerra entre as multinacionais farmacêuticas. Entretanto há outras oito vacinas que estão a ser usadas no mundo – Novavax, Moderna e Johnson&Johnson (Estados Unidos), SinoVac e Sinopharm (China), Sputnik V (Rússia), Bharat Biotech (Índia) e BioNTech/Pfizer (Alemanha/EUA) – cada uma delas a procurar ganhar a confiança das autoridades sanitárias.  Pois que produzam muito e que sejam realmente eficientes.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Desconfinamento requer muita prudência

Hoje inicia-se o processo de desconfinamento, ou como diz o jornal Público, o lento regresso à normalidade ou, ainda, o já chamado regresso a conta-gotas, sendo a face mais visível da nova situação a abertura das escolas para os mais novos, o que vai fazer com que mais de um milhão de pessoas volte à rua. Porém, este início de desconfinamento tem mesmo que ser prudente pois o vírus ainda não desapareceu, tem novas variantes e está activo em países bem próximos de nós.
O governo ouviu os especialistas e definiu um plano de desconfinamento para os próximos três meses, com indicação das medidas específicas a cumprir nas diferentes áreas de actividade, embora se mantenha o dever cívico de recolhimento domiciliário e as regras gerais de uso de máscara e de distanciamento social que têm vigorado.
Como sempre, surgiram críticas daqueles que entendem que ainda era cedo para desconfinar e daqueles que criticam a timidez das medidas tomadas. Eu confio no plano apresentado pois é equilibrado e, como qualquer outro plano, não é rígido e pode ser reapreciado a qualquer momento perante novas evidências.
A situação pandémica é muito crítica em diversos países e regiões, designadamente em alguns países da Europa, parecendo que há uma quarta onda de covid-19 que se aproxima, o que a todos obriga ao cumprimento das regras já conhecidas. 
Entretanto, em relação à vacinação da população, há muito pouca informação. É sabido que houve cortes nas remessas de vacinas que se previa serem enviadas para Portugal o que poderá ter alterado os planos de vacinação, mas também parece que há muita pressão de certas corporações para serem consideradas prioritárias e que denotam um espírito egoísta e não solidário relativamente aos grupos dos mais velhos. Há demasiada gente a reivindicar que são prioritários.
É o que parece, mas talvez seja eu que esteja a ver mal

O andebol português vai estar em Tóquio

Os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 foram adiados devido à crise pandémica e estão agora agendados para ser realizarem entre 24 de Julho e 8 de Agosto de 2021.
Sendo o mais importante acontecimento desportivo que se realiza no planeta é natural que neles se concentrem a atenção do público, dos meios de comunicação social, dos grandes patrocinadores e das autoridades desportivas de cada país porque, durante duas semanas, os Jogos são um palco em que estarão em prova os atletas, mas também o prestígio dos países que representam.
Portugal participa nos Jogos Olímpicos desde 1912 e até agora conquistou 24 medalhas olímpicas, das quais dez em atletismo, quatro em vela, três em hipismo, duas em judo e uma em tiro, canoagem, triatlo, ciclismo e esgrima. Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora são os quatro campeões olímpicos que Portugal já teve. Como sempre, a poucos meses da competição, as expectativas são relativamente altas, sobretudo no atletismo e na canoagem, mas nestas XXXII Olimpíadas há um novo elemento de interesse nacional. Ontem, em Montpellier, no torneio de qualificação olímpica, a equipa nacional de andebol venceu a França a 14 segundos do fim da partida e assegurou um dos doze lugares no torneio olímpico de andebol em que estarão presentes os seguintes países: Japão, Dinamarca, Argentina, Bahrain, Espanha, Egipto, Brasil, Noruega, França, Portugal, Alemanha e Suécia. Será a primeira vez que Portugal consegue uma presença olímpica numa modalidade de pavilhão desde 1992 em Barcelona, quando esteve presente a selecção de hóquei em patins em versão de exibição.
O jornal O Jogo destaca o comportamento da equipa portuguesa que aparece pouco tempo depois do 10º lugar no campeonato do mundo e ilustra a sua primeira página com um fotografia da festa e da homenagem que todos fizeram à memória de Alfredo Quintana, recentemente falecido 

domingo, 14 de março de 2021

R.I.P. Francisco Contente Domingues

Francisco Contente Domingues faleceu aos 62 anos de idade. Era Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e um grande especialista em História das Navegações e da Expansão Marítima.
Foi um notável académico, tendo deixado uma importante obra publicada e, também, um exemplar trabalho na formação de novos investigadores e na dinamização dos estudos relativos à história marítima portuguesa e europeia, tendo orientado 35 teses de Mestrado ou de Doutoramento na FLUL. No seu currículo constam mais de duas centenas de títulos publicados, entre livros, capítulos de livros e artigos em revistas da especialidade, destacando-se Os navios do Mar Oceano – Teoria e empiria na arquitectura naval portuguesa dos séculos XV e XVI, o Dicionário da Expansão Portuguesa, a História Militar de Portugal e Caravelas, Naus e Galeões – séculos XV e XVI. Foi responsável pela organização de inúmeras reuniões científicas relacionadas com a história marítima, foi professor convidado em duas universidades americanas e uma marroquina e foi o criador e um dos maiores entusiastas do Mestrado e do Doutoramento em História Marítima da FLUL, em associação com a Escola Naval. Era Membro Emérito da Academia de Marinha, onde exerceu o cargo de vice-presidente da Classe de História Marítima entre 2007 e 2015.
Francisco Contente Domingues era um espírito aberto mas rigoroso, tinha a humildade dos homens grandes e revelou grande coragem na sua luta contra a doença. Éramos amigos desde há mais de duas dezenas de anos. Aqui lhe presto a homenagem que lhe é devida.

sexta-feira, 12 de março de 2021

A guerra da Síria ou a tragédia esquecida

No próximo dia 15 de Março perfazem-se dez anos sobre o início da guerra civil na Síria. Tudo começou em Janeiro de 2011 com manifestações populares contra o regime de Bashar al-Assad, no contexto da chamada Primavera Árabe, tendo havido violentos confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança do regime. No dia 15 de Março de 2011 uma parte do Exército sírio revoltou-se e juntou-se à oposição para destituir Bashar al-Assad, formando o Exército Livre da Síria (ELS), enquanto o regime e os seus fiéis passaram a tratar a oposição armada como terroristas. Porém, o objectivo da luta depressa deixou de ser a tomada do poder pela oposição, pois formaram-se diversos grupos de cariz religioso em que a rivalidade entre xiitas e sunitas prevaleceu. O conflito passou a opor uma maioria sunita apoiada pelos estados do Golfo às forças xiitas leais a Bashar al-Assad, apoiadas pelo Irão e pela Rússia. Entretanto, a partir de 2014 entrou em grande actividade ao lado da oposição o autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL ou Daesh) que depois passou a actuar de forma autónoma. Destas várias situações resultou a internacionalização do conflito com a entrada em cena do Líbano e do Iraque, dos estados do Golfo, da Turquia e do Irão, da Rússia e dos Estados Unidos. Em Março de 2019 o Daesh foi finalmente derrotado, depois de ter chegado a controlar mais de 200 mil quilómetros quadrados de território na Síria e no Iraque. Nessa altura, com o apoio russo o regime sírio controlava quase todo o território, mas a Turquia ameaçava a província síria do Curdistão. Então a guerra civil na Síria saíu da agenda dos mass media internacionais e pouco se sabe sobre o que se passa, isto é, se ainda há guerra, se há conversações, que potências estrangeiras estão no terreno ou se a reconstrução do país começou.
Agora, na passagem do décimo aniversário do início da guerra e por ocasião da visita papal ao Iraque, o jornal L’Osservatore Romano, que é o órgão oficial do Vaticano veio lembrar que há uma geração de sírios que foi devastada pela guerra e “o terrível impacto da guerra nas crianças sírias e nas suas famílias”, salientando que, de acordo com a Unicef, houve cerca de 12.000 crianças que foram mortas ou feridas e que mais de 5.700 menores foram recrutados como combatentes.
Entretanto, sobre o curso actual do conflito não há notícia.

quinta-feira, 11 de março de 2021

O Brasil, a pandemia e o regresso de Lula

Por razões históricas e culturais o Brasil está sempre presente na memória colectiva portuguesa e, por isso, os portugueses acompanham tudo o que vai acontecendo no maior país da América so Sul. Assim, na edição de hoje do jornal O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, encontramos dois temas de destaque: a pandemia do covid-19 e a nova vida política do ex-presidente Lula da Silva.
O jornal anuncia que a pandemia está descontrolada e que o país é o epicentro de uma tragédia que, nas últimas 24 horas, provocou 2.349 mortes e revelou 80.955 novos casos - os números mais altos que se registaram até agora - evidenciando como tem sido errada a política sanitária de Jair Bolsonaro, ao não compreender a intensidade da pandemia a que um dia chamou uma gripezinha. No que respeita à vacinação, o jornal informa que cerca de nove milhões de brasileiros já tomaram a primeira vacina (4,26% da população) e que cerca de três milhões já receberam a segunda vacina (1,50% da população), mas a vastidão territorial do Brasil vai tornar muito complexa essa tarefa.
O outro tema em destaque na edição de hoje do jornal O Globo é o aparecimento público do ex-presidente Lula da Silva e as suas declarações de ataque a Jair Bolsonaro e à forma como tem sido conduzido o combate à pandemia mas, sobretudo, a sua declaração de ter sido vítima da maior manipulação jurídica que aconteceu no Brasil nos últimos 500 anos e que o juiz Sérgio Moro é um mentiroso. Lula da Silva não revelou as suas intenções quanto ao futuro, limitando-se a dizer que vai percorrer o país e reencontrar-se com os seus amigos e apoiantes, o que parece significar o início de uma caminhada que o leve de novo ao Palácio da Alvorada em Brasília, que ocupou entre 2003 e 2011. 
A pandemia derrotou Donald Trump. Será que a pandemia vai derrotar Bolsonaro?

terça-feira, 9 de março de 2021

Macau e a sua moderna Biblioteca Central

As edições dos três jornais macaenses que se publicam em português destacam hoje na sua primeira página uma fotografia da maquete do edifício da futura Biblioteca Central de Macau.
A intenção de construir uma biblioteca moderna já era antiga e o primeiro concurso para o projecto de arquitectura foi lançado em 2008, mas acabou por ser suspenso. Depois houve avanços e recuos que se arrastaram por muito tempo, mas parece que finalmente o projecto vai arrancar. No passado mês de Setembro foi anunciado que a nova Biblioteca Central seria construída na Praça do Tap Seac, no centro da cidade e no local onde se localizou o antigo Hotel Estoril, estando já escolhidas as quatro equipas de projectistas que integravam a short list – uma holandesa, uma finlandesa, uma suiça e outra irlandesa.
Agora, o governo de Macau anunciou que o atelier holandês Mecanno foi escolhido para desenvolver o projecto que apresentou. No seu portfólio a Mecanno conta com diversos projectos de referência como a Biblioteca de Birmingham, a renovação da Biblioteca Central Pública de Nova Iorque e a Biblioteca Dr. Martin Luther King em Washington. A escolha da Mecanno baseou-se na sua experiência neste tipo de projectos e no moderno design que apresentou, mas também foram analisados outras variáveis como o custo global, a dificuldade de construção, a concepção energética, a disposição funcional e os custos de design, entre outros. Os conceitos nucleares do projecto assentam na imagem de um livro, de estantes e lombadas e de uma página que se abre no centro da cidade.
As autoridades esperam que, mais do que um edifício onde se guardam livros, o novo edifício se torne num ex-libris da modernidade de Macau e um centro cultural de referência. A obra terá um custo estimado de 500 milhões de patacas (cerca de 52 milhões de euros) e espera-se que fique concluída em 2025.

Luiz Inácio Lula da Silva está de volta?

Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil entre 2003 e 2011, tendo sido um dos mais populares presidentes da história brasileira, tanto interna como externamente. Os seus governos foram marcados pelas políticas sociais como o Bolsa Família e o Fome Zero, que foram reconhecidos pelas Nações Unidas e se tornaram referenciais na luta contra a pobreza para muitos países.
Em 2013, dez anos depois do início desses programas, a FAO anunciava que o Brasil tinha conseguido reduzir a pobreza extrema em 75% e que, em termos globais, a pobreza tinha sido reduzida em 65%. Era a consagração das políticas sociais dos governos de Lula, pelo que foi reconhecido à escala mundial e foi distinguido com dezenas de condecorações e com 36 doutoramentos honoris causa.
A partir de 2016 surgiram acusações, designadamente de lavagem de dinheiro e de ocultação de património e, dois anos depois, foi condenado com pena de prisão pelo controverso juiz Sérgio Moro mas, após 580 dias na prisão, veio a ser libertado em Novembro de 2019. Muitos consideraram que o processo e a sentença foram viciados com intenções políticas, até porque Lula foi impedido de se candidatar à Presidência da República quando as sondagens lhe davam o favoritismo.
Ontem, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações ditadas pela Vara Federal de Curitiba e pelo juiz Moro, pelo que o antigo Presidente recuperou todos os seus direitos políticos.
Luiz Inácio Lula da Silva tem 75 anos de idade e poderá estar de volta como hoje titula o jornal O Dia que se publica no Rio de Janeiro. Lula já estará a equacionar a hipótese de se recandidatar às eleições presidenciais de 2022, mas também já estará a estudar a forma de pedir contas pelos danos políticos e morais que sofreu, devido à manipulação dos processos judiciais em que foi envolvido. Independentemente de se recandidatar ou não, o regresso de Lula da Silva à vida política anima milhões de brasileiros e vai ter consequências.

segunda-feira, 8 de março de 2021

As três medalhas de ouro para Portugal

Realizaram-se na cidade polaca de Torun durante quatro dias, os Campeonatos Europeus de Atletisno em pista coberta e a participação portuguesa destacou-se ao obter três medalhas de ouro, o que nunca acontecera, mesmo nos tempos de Carlos Lopes, de Rosa Mota e de outros grandes atletas que conhecemos. 
Com surpresa, as medalhas não foram conquistadas nas corridas de fundo como era habitual, mas em disciplinas ditas técnicas, como o lançamento do peso e o triplo salto. A consulta do medalheiro do European Athletics Campionship (indoor) mostra uma situação inédita, com Portugal no segundo lugar, apenas atrás da Holanda, mas bem à frente de todos os outros países participantes. Na sexta-feira tinha sido Auriol Dongmo a vencer a prova do lançamento do peso feminino e, ontem, foram Pedro Pichardo e Patrícia Mamona que venceram a prova do triplo salto. A bandeira portuguesa foi hasteada três vezes no Arena Torun e todos pudemos ver como cada um dos novos campeões europeus, mesmo com máscara, cantou A Portuguesa, o que não costuma acontecer com os futebolistas.
Os jornais desportivos portugueses renderam-se a estes resultados e, por uma vez, esqueceram o futebol e dedicaram a sua primeira página aos novos campeões europeus.
De facto, a indústria do futebol arrasa todo o espaço mediático desportivo, mas desta vez o jornal A Bola e os outros jornais desportivos portugueses, não conseguiram ignorar estes resultados.
Aqui fica o meu aplauso pelas performances desportivas destes três atletas, esperando-se que se mantenham em forma para os Jogos Olímpicos de Tóquio.

sábado, 6 de março de 2021

O Papa Francisco está em visita ao Iraque

Depois de vinte e quatro anos no poder, o ditador Saddam Hussein foi derrotado pelas tropas de uma coligação liderada pelos Estados Unidos que, no dia 20 de Março de 2003, invadiu o território do Iraque e o veio a ocupar militarmente.
A República do Iraque tinha sido criada na sequência da dissolução do Império Otomano a seguir à Grande Guerra de 1914-18, tornando-se num estado independente em 1919, mas a sua história mostra que nunca foi conseguida a unidade nacional, sobretudo devido às rivalidades religiosas entre xiitas, sunitas e curdos. Daí que os iraquianos tivessem vivido muito tempo com guerras e golpes de estado, tendo sido por essa mesma via que Saddam Hussein ocupou o poder em 1979 e o manteve até 2003.
Saddam Hussein era acusado de possuir armas de destruição em massa e essa foi a justificação para que a coligação invadisse o país à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas essa acusação era falsa. Ele perdeu essa segunda Guerra do Golfo e foi capturado pelas tropas americanas. Seguiram-se os esforços da comunidade internacional patrocinados pelas Nações Unidas para pacificar o país e dar-lhe uma estrutura governativa estável. Porém a guerra abriu uma caixa de Pandora e, desde então, o país tem estado em guerra interna provocada por diferentes facções e sob ameaça externa, bastando recordar duas recentíssimas ocorrências: uma emboscada ocorrida a norte de Bagdad, em que morreram 11 soldados iraquianos e o duplo ataque suicida acontecido no centro de Bagdad, em que houve 32 mortos e 110 feridos. É nesse contexto de instabilidade nacional e de recrudescimento das actividades terroristas e do reaparecimento dos jihadistas do Estado Islâmico, que se está a realizar a viagem do Papa Francisco ao Iraque, em defesa da paz e da tolerância religiosa, mas também em apoio aos cristãos iraquianos. É um grande acontecimento no caminho da paz entre os iraquianos, mas também é um acto de grande coragem do Papa, tendo sido noticiado com destaque na imprensa internacional, designadamente pelo The Wall Street Journal.
O Papa Francisco chegou ontem a Bagdad e as primeiras notícias que nos chegam são promissoras, porque o encontro que já manteve com o ayattollah Ali al Sistani, a máxima autoridade religiosa dos xiitas, se traduziu num pacto de amizade sem precedentes entre cristãos e xiitas, de que resultará a protecção da minoria cristã no Iraque e em outros países do Médio Oriente.

sexta-feira, 5 de março de 2021

A pandemia e o Jair desesperam o Brasil

Com um sentido inverso do que se passa em Portugal, o Brasil está a atravessar um momento muito difícil devido à crise pandémica, verificando-se que o número de óbitos se aproxima dos dois mil registos diários, enquanto o número de novos infectados ultrapassa os setenta mil casos por dia. Esta situação é muito preocupante porque já estão contabilizados 260.970 óbitos desde o início da pandemia, um valor que no mundo só é superado pelos Estados Unidos. 
Embora seja difícil perceber as razões da actual subida de casos e de óbitos, verifica-se que a imprensa brasileira atribui uma boa parte dessa responsabilidade ao próprio presidente da República, recordando o mau exemplo que constituem as palavras que utiliza quando fala para a imprensa: “E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro" e "país de maricas" foram algumas das formas utilizadas pelo presidente da República  para desvalorizar ou mesmo desdenhar publicamente uma situação que continua a alastrar e que já infectou mais de dez milhões de brasileiros.
Neste contexto, o presidente Jair Bolsonaro interveio e ontem fez uma declaração pública em Goiás, em que afirmou: "Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?".
O jornal Estado de Minas, que se publica na cidade de Belo Horizonte, foi um dos jornais que não gostou da frescura, nem do mimimi, tendo criticado severamente as declarações do Jair, lembrando-lhe que o país real está desesperado. Outros jornais criticaram o Jair e lembraram a carência de vacinas e um confinamento pouco eficaz, a par de uma enorme quebra na economia. A OMS classificou a situação por que passa o Brasil como uma tragédia.
O Brasil bem precisava de um outro presidente, porque quando isto acabar vai ser necessário reconstruir o Brasil.

terça-feira, 2 de março de 2021

Um ano de covid-19 em Portugal

Perfaz-se hoje um ano sobre o dia 2 de Março de 2020 em que foram detectados os dois primeiros casos de covid-19 em Portugal e, desde então, verificaram-se 804 956 casos positivos dos quais cerca de 89,5% já recuperaram, tendo ocorrido 16 351 óbitos. Este número é dramático e supera o número de mortos havidos durante os treze anos de guerra colonial, mas esconde o drama de muitas famílias e uma realidade inesperada: o mundo mudou e nunca mais vai voltar a ser o que era, na política e na economia, na educação e na saúde, no desporto e na vida cultural. As facemasks e o take away, as conversas remotas via zoom e as compras online entraram nas nossas vidas e, durante o ano que passou, pudemos assistir a uma multidão de oportunistas que, disfarçados de especialistas, tomaram de assalto os espaços televisivos. Porém, a mediocridade da televisão portuguesa foi mais longe e entregou os seus noticiários a estagiários que, em vez de informarem e esclarecerem, apenas procuram saber o que não correu bem e arranjar responsáveis para serem queimados na praça pública. Tem sido um ano televisivamente lamentável.
Naturalmente que nem tudo tem corrido bem, até porque tudo está a passar-se num quadro que não se conhecia. No entanto, tem havido a humildade de reconhecer erros e tem havido o generoso contributo de muitos profissionais que, por detrás desta cortina que é a televisão e muitos dos seus patetas, trabalha dedicadamente nos hospitais e nos serviços de apoio à rede hospitalar. Por isso, aqui fica a minha gratidão e o meu aplauso à tenacidade e à dedicação com que a Ministra da Saúde, a Directora Geral da Saúde e as suas equipas têm enfrentado não só a pandemia, mas também o histerismo de comentadores, de estagiários de jornalismo e das ordens profissionais, tão apostadas andam na promoção pessoal dos seus bastonários.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Jair Bolsonaro: autoritário e populista

Embora sejamos confrontados com diferentes narrativas em relação à evolução da pandemia e haja notícias animadoras nas últimas semanas, ainda ninguém avança com previsões seguras quanto ao futuro, que continua dominado pela incerteza. No entanto há algumas excepções que contrariam o alívio que se sente um pouco por todo o mundo e a mais notória acontece no Brasil, que parece atravessar o seu pior momento em relação a novas infecções e ao número de óbitos, para além de se anunciar que em algumas cidades brasileiras os sistemas de saúde estão a entrar em colapso. O controlo da pandemia no Brasil tem dificuldades específicas devido à vastidão do território e à descentralização estadual, mas também devido à forma como os mais altos responsáveis do país quiseram tratar esta “gripezinha”, como se lhe referiu o próprio Presidente da República.
De facto, Jair Bolsonaro sempre desvalorizou a pandemia, ao mesmo tempo que sempre procurou reforçar o seu projecto de poder populista e autoritário, com que ultrapassa a lei, os princípios democráticos e o bom senso. O homem parece delirar e procura inspiração no rei Luis XIV que, em finais do século XVII, afirmou que “L´Etat c´est moi”. Pois Bolsonaro já no ano passado, imitando o Rei Sol, gritou que “eu sou a Constituição”. Agora, num novo registo de autoritarismo, decidiu interferir na Petrobras para servir a sua clientela, quebrando a confiança dos agentes económicos e descredibilizando o país junto dos mercados internacionais. O ridículo cobriu-o completamente quando gritou: “Eu sou o Estado”.
Na sua mais recente edição a revista paulista IstoÉ apresenta Bolsonaro como um vulgar rambo, denunciando o seu comportamento e os seus propósitos para concretizar um projecto de poder pessoal autoritário. Porém, a gravidade da crise sanitária, não parece levantar qualquer tipo de preocupação ao Jair.