sábado, 31 de março de 2018

Foi suspensa a Barcelona World Race

A Barcelona World Race é uma grande competição vélica organizada pela FNOB (Fundação da Navegação Oceânica de Barcelona) que se realiza de quatro em quatro anos, na qual as embarcações monocasco de dois tripulantes saem de Barcelona e dão a volta ao mundo passando pelos três cabos – cabo da Boa Esperança, cabo Leeuwin e cabo Horn, terminando a prova em Barcelona.
Nas três primeiras edições da prova realizadas em 2007/2008, 2011 e 2015 os vencedores demoraram respectivamente 92, 93 e 84 dias a completar a volta ao mundo.
A 4ª edição desta corrida estava previsto ser iniciada no dia 12 de Janeiro de 2019 e tinha como novidade uma paragem obrigatória em Sydney, o que significava um primeiro troço de corrida desde Barcelona até Sydney (13.500 milhas) e um segundo troço de Sydney até Barcelona (12.500 milhas).
Porém, em face das dificuldades políticas e institucionais por que passa a Catalunha, não apareceram os patrocinadores privados necessários para garantir o financiamento de uma prova desta natureza, pelo que a FNOB decidiu suspender a corrida de 2019. No entanto, a FNOB já está em negociações com a IMOCA (International Monohull Open Classes Association), a associação que agrega os interesses de velejadores, construtores e organizadores, para preparar a edição de 2023 desta prova, por se tratar de um importante evento do calendário mundial dos monocascos de 60 pés e, também, pela sua importância para o turismo e para a imagem de Barcelona.
Alguns jornais espanhóis, nomeadamente o conservador ABC, aproveitaram para responsabilizar o independentismo por esta decisão, mas o facto é que a suspensão desta prova serviu de argumento tanto para os constitucionalistas como para os independentistas.

Goa tem o estatuto de “Europa da Índia”

O jornal hindustan times tem a sua sede em Nova Deli, é o segundo maior jornal da Índia e tem uma circulação superior a um milhão de exemplares.
A sua primeira página costuma ser vendida como suporte de publicidade e foi isso que aconteceu na sua edição de hoje, em que uma empresa denominada Provident Housing, uma subsidiária do grupo Puravankara que se considera como uma das maiores imobiliárias da Índia, comprou esse espaço para dizer aos seus leitores Go home to Goa ou, dito em português, vá para casa em Goa. O anúncio refere-se ao pré-lançamento de um grande empreendimento de apartamentos em condomínio que vai ser construído em Goa, junto a Chicalim e próximo do aeroporto de Dabolim e do porto de Mormugão. O anúncio foi ilustrado com uma fotografia de uma jovem ocidental na praia, deixando subliminarmente a ideia de que “Goa é a Europa da Índia” o que, de resto, é uma ideia que prevalece naquele país.
O empreendimento foi baptizado com o sugestivo nome de  Adora de Goa e, este nome, tal como a fotografia da jovem com vestes ocidentais, visam estimular o interesse dos indianos das classes médias emergentes para a aquisição de um apartamento em Goa, cuja descrição evoca a permanência dos portugueses durante 451 anos.
A curiosidade deste anúncio está apenas no facto da herança cultural portuguesa, visível em muitos aspectos do quotidiano goês, desde o património à língua e passando por muitas práticas culturais, estar a ser usada para atrair os pequenos investidores e o turismo interno indianos para a ocidentalidade, para as praias e para os monumentos de Goa.

As mentiras, o histerismo e a prudência

Eu não me esqueço do dia 16 de Março de 2003 quando George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar e Durão Barroso se encontraram na Cimeira das Lajes e do início da intervenção militar americana no Iraque, que começou quatro dias depois. O pretexto foi acabar com Saddam Hussein e com as armas de destruição maciça que afinal não existiam, mas este caso serviu para a criação de uma versão mais actualizada sobre o poder da mentira, na linha de pensamento de Joseph Goebbels, a quem se atribui a frase que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Outros casos semelhantes têm acontecido desde então, quer no plano interno, quer no plano internacional, em que a mentira tem sido utilizada para enviezar a realidade, manipular a opinião pública e para produzir determinados efeitos.
O mais recente caso deste tipo de actuação é a expulsão de 23 diplomatas russos pelo presumível envolvimento do Kremlin de Moscovo no envenenamento em território britânico de um ex-espião russo e da sua filha, sem que ainda haja prova dessa acusação. O governo de Theresa May invocou a alta probabilidade das autoridades russas estarem envolvidas nesse caso e, dessa forma, desviou a atenção interna e internacional dos problemas que tem entre mãos. Donald Trump, que acabara de felicitar Putin pela sua reeleição, esqueceu o seu slogan “America first” e decidiu expulsar seis dezenas de diplomatas russos, porque viu estar aí uma forma de perturbar o crescente poder de Vladimir Putin e dar ânimo aos falcões americanos. Depois seguiram-se duas dezenas de países que, simbolicamente e numa solidariedade misturada com hipocrisia, expulsaram alguns diplomatas, casos por exemplo da Alemanha, França e Canadá (quatro cada), Espanha, Itália, Holanda e Dinamarca (dois cada) e Bélgica, Finlândia, Suécia, Hungria, Irlanda e Roménia, entre outros (um cada).
Portugal usou da prudência e foi solidário com os seus parceiros da NATO e da UE, mas não alinhou no histerismo daqueles que confundem a Rússia com a União Soviética e que apostam numa nova guerra fria para alimentar as suas indústrias de armamento. Tudo está por provar e não podem ser as políticas erráticas de Theresa May e de Donald Trump a condicionar a diplomacia portuguesa e a boa relação que o nosso país quer manter com a Rússia e com todos os povos do mundo. Significativamente, o importante Washington Post apenas dedicou uma pequena coluna a este assunto que, certamente, considerou um fait-divers da política internacional para desviar as atenções de outras situações.

quinta-feira, 29 de março de 2018

O sacrifício da vida pela comunidade

A França comoveu-se quando o Presidente Emmanuel Macron prestou homenagem ao tenente-coronel Arnaud Beltrame, que foi morto por um extremista islâmico depois de se ter voluntariado para substituir uma refém que aquele retinha sob ameaça num supermercado de Trèbes, no sul de França.
Vários factores convergiram para que a França se comovesse, mas um deles terá sido a surpresa com que assistiu a um acto de coragem protagonizado por alguém que, certamente, havia jurado defender a comunidade “mesmo com o sacrifício da própria vida”. Essa ideia de defender a pátria ou de defender a comunidade parece cada vez mais uma coisa do passado porque, tanto os soldados como os polícias, se tornaram funcionários, provavelmente com mais deveres e menos direitos do que os outros funcionários. A generalidade dos políticos também se tornaram funcionários e não lutam por causas nem por valores, mas apenas por interesses, mas o mesmo acontece com muitas outras profissões que deveriam servir o interesse público.
Os tempos e as escalas de valores estão a mudar muito rapidamente por toda a parte e o egoismo está a dominar as sociedades, prevalecendo o interesse pessoal ou de grupo sobre o interesse colectivo, como bem se vê nas desigualdades que existem entre os homens e entre as nações. Em muitos aspectos, parece que o mundo já está dominado mais pelo capital tecnológico e pela robótica, do que pela sensibilidade e pela inteligência humanas. É por isso que a corajosa acção do tenente-coronel Arnaud Beltrame surpreendeu e comoveu a França.
A comoção dos franceses extravou as suas fronteiras e sensibilizou alguma imprensa mundial que também ficou surpreendida com este gesto cada vez mais singular de alguém que leva até ao fim o seu juramento de defender a comunidade “mesmo com o sacrifício da própria vida”. The Wall Street Journal foi apenas um dos jornais internacionais que publicou a fotografia do presidente francês junto da urna do malogrado oficial.

Symphony of the seas: a cidade flutuante

Chama-se Symphony of the seas, foi construido nos estaleiros franceses de St. Nazaire e é o maior navio de cruzeiros do mundo. É o 26º navio da Royal Caribbean International, tem 362 metros de comprimento, desloca 228 mil toneladas e pode transportar 6360 passageiros.
É uma cidade flutuante onde existe tudo o que é possível imaginar-se. Para além das suas colossais dimensões, o navio destaca-se pela diversidade de experiências que oferece aos seus passageiros, que incluem 19 piscinas com diferentes actividades lúdicas, pista de patinagem no gelo, simuladores de surf, teatro para 1380 pessoas, 20 restaurantes e lojas das mais prestigiadas marcas internacionais.
A sua viagem inaugural está marcada para o próximo dia 7 de Abril com saída de Barcelona, escalas em Palma de Maiorca, Provence, Florença/Pisa, Roma e Nápoles e regresso a Barcelona. Depois repetirá este circuito mediterrânico durante várias semanas e, no segundo semestre do ano, atravessará o Atlântico para fazer cruzeiros pelas Caraíbas a partir de Miami.
Na passada terça-feira o navio foi apresentado em Málaga e, aparentemente, a Royal Caribbean International convidou meio mundo para essa apresentação mundial, sobretudo agências de viagens e jornais, porque o evento está relatado em inúmeros jornais que divulgam  as características excepcionais do navio, embora nenhum lhe dê o destaque que foi dado pelo Málaga hoy, que dedicou a sua primeira página ao “mayor coloso del mar”.
Com tanta oferta de divertimento e com tanta gente a bordo, uma viagem no Symphony of the seas até talvez se torne numa cansativa viagem...

terça-feira, 27 de março de 2018

A publicidade institucional na Austrália

The Australian é um jornal que se publica em Sydney e que é propriedade de Rupert Murdoch, o famoso magnate da comunicação, sendo também o jornal de circulação nacional mais vendido na Austrália. Na sua edição de hoje o jornal não resistiu e cedeu a sua primeira página à Fincantieri Australia para publicar um anúncio publicitário, certamente por muito dinheiro.
A Fincantieri – Cantieri Navali Italiani S.p.A. é uma das maiores empresas mundiais de construção naval que tem sede em Trieste e que está vocacionada para a construção de navios de grande porte e de alta tecnologia, incluindo navios militares, tendo sido escolhida pelo governo australiano para conceber e construir nove novas fragatas para a Royal Australian Navy, num programa designado por SEA 5000. Por razões operacionais ou por obrigações do contrato, a empresa criou a Fincantieri Australia e instalou escritórios em Camberra e Adelaide, até porque os navios serão construidos em estaleiros australianos e com mão-de-obra maioritariamente australiana, pelo que já assinou diversos acordos com os sindicatos australianos.
Nove fragatas custam muito dinheiro e este negócio da indústria naval italiana deve ter deixado as concorrências francesa, espanhola, inglesa, alemã e outras mais, absolutamente roídas de inveja. Porém, o sucesso dos italianos neste negócio tem como contrapartida a transferência da sua tecnologia e do seu know how para a Austrália.
A importância deste negócio é tal que a Fincantieri Australia decidiu fazer uma campanha de publicidade institucional para aumentar a sua notoriedade e criar uma boa imagem junto da opinião pública, das autoridades decisoras, dos sindicatos e de outros parceiros deste negócio de muitos milhões e de muitos anos. Foi por isso que deve ter pago muito dinheiro para ocupar a primeira página do The Australian.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Os voluntários dão lição aos políticos


Foto SIC Notícias

No dia 15 de Outubro de 2017 aconteceu o grande incêndio que consumiu cerca de 80% dos 11.080 hectares do Pinhal de Leiria. Desde então, essa catástrofe bem como os outros trágicos incêndios que devastaram o país no Verão do ano passado, têm servido para revelar inúmeros “especialistas” em gestão e em incêndios florestais e, também, para procurar os principais “culpados” pelo que aconteceu, numa lógica de combate político.
Porém, enquanto os políticos e os jornalistas têm passado o tempo a discutir quem tem mais culpas ou mais responsabilidades, iludindo que o problema é muito mais complexo do que parece e esquecendo a sua função pedagógica, a sociedade civil tomou iniciativas e tem promovido acções de voluntariado que têm mobilizado alguns milhares de cidadãos que, de todo o país, se têm organizadamente empenhado em acções de reflorestação do Pinhal de Leiria.
Algumas associações ambientalistas, assim como grupos constituídos em empresas e autarquias, têm-se destacado nessas acções, mas no passado domingo houve cerca de cinco mil voluntários que plantaram 67 mil e quinhentos pinheiros bravos. É pouco, mas foi um sinal de interesse pelo bem comum e, por isso, merece muitos elogios. Nesta acção participaram muitas crianças e houve a ajuda de militares e bombeiros, o que constitui uma grande lição para todos os que falam, falam... mas não fazem nada.
É certo que são necessárias pelo menos 3 milhões de árvores para plantar, mas a iniciativa do passado domingo, bem como o envolvimento do Presidente da República e do Primeiro-Ministro em iniciativas semelhantes, é um sinal positivo para a sociedade porque contribui para a sensibilização da comunidade e para os comportamentos amigos da floresta, que muita gente parece não conhecer.
Lamentavelmente, os jornais de referência não destacaram este assunto e, por isso, é um caso de mau jornalismo, a suscitar uma simples pergunta aos seus editores: qual é a agenda por que se regem?

Os novos episódios da questão catalã

A questão da Catalunha, a região autónoma espanhola em que metade da população quer ser independente e a outra metade não quer, teve ontem mais um episódio relevante, quando Carles Puigdemont foi detido pela polícia alemã na sequência de um pedido das autoridades judiciais espanholas.
Não se sabe se Puigdemont se distraiu ou se quis ser detido, nem se vislumbra se quer ser um líder no exílio ou um mártir na Catalunha, mas o facto é que os independentistas catalães vieram para a rua protestar e que esta detenção fez reanimar a contestação às instituições espanholas e a conflitualidade nas ruas das cidades catalãs, onde de imediato houve confrontos e se verificaram alguns feridos.
A Espanha é um estado soberano cuja Constituição diz, no seu artigo 2º, que “la Constitución se fundamenta en la indisoluble unidad de la Nación española, patria común e indivisible de todos los españoles, y reconoce y garantiza el derecho a la autonomía de las nacionalidades y regiones que la integran y la solidaridad entre todas ellas”. O que acontece é que, segundo o Tribunal Constitucional, Carles Puigdemont e alguns outros dirigentes independentistas catalães têm atentado contra a unidade da Espanha e, por isso, afrontam a lei constitucional e estão detidos ou têm sobre eles mandados de detenção.
Albert Rivera, o fundador e presidente do Ciudadanos – Partido de la Ciudadania, que é o maior partido da Catalunha, comentou a detenção de Puigdemont e disse que “se acabó la fuga del golpista”. De facto, a forma como tem sido conduzida a luta pela independência da Catalunha tem sido desastrada e, muitas vezes, tem tido contornos de golpe com que o orgulhoso poder centralista de Madrid não pactua.
O problema da Catalunha continua, portanto, bem vivo, embora os catalães comecem a estar cansados desta história. A História, porém, ensina-nos que quando os líderes de uma ideia ou de um movimento político vão para a prisão, as suas teses acabam por se impor no futuro.

O protesto americano contra a violência

Os americanos estão a protestar contra a livre venda de armas automáticas e munições no país e exigem um maior controlo dos antecedentes criminais de quem compra armas de fogo.
De vez em quando somos confrontados com a notícia de mais um adolescente que comprou uma arma, que a levou para a escola e que decidiu imitar uma qualquer cena do mais recente filme de violência que viu na televisão. A permissividade da legislação americana é total e calcula-se que nos últimos vinte anos terão morrido duas centenas de estudantes em consequência de disparos com armas de fogo dentro das escolas americanas e que mais de 187 mil jovens de cerca de 193 escolas primárias e secundárias assistiram a tiroteios dentro das suas escolas. O principal alvo das manifestações é a NRA (National Rifles Association), uma poderosa organização de 5 milhões de membros que promove e incentiva o uso e porte de armas de fogo, mas por via indirecta a manifestação também era dirigida ao Congresso e ao Presidente dos Estados Unidos que, ainda bem recentemente, sugeriu que os professores fossem armados para a escola.
O protesto foi organizado pelos estudantes da escola da Florida onde no passado mês de Fevereiro ocorreu um massacre de que resultaram 17 mortes, tendo alastrado por todo o país e mobilizado milhões de pessoas. A mobilização dos estudantes foi um sucesso e a manifestação terá sido a maior alguma vez realizada nos Estados Unidos pelo controlo de armas de fogo, havendo quem a tivesse comparado às grandiosas manifestações contra a guerra do Vietnam ou em defesa dos Direitos Civis.
Toda a imprensa americana apoiou as manifestações, caso do New York Post, o que pode conduzir a uma mais rápida alteração de uma legislação que parece incentivar o uso de armas como se os americanos ainda estivessem no século XIX e a instalar-se no Far West.

sábado, 24 de março de 2018

Azoia de Baixo e a memória de Herculano

A Azoia de Baixo fica ali para os lados de Santarém e não resistiu à reforma administrativa nacional que em 2013 agregou freguesias, pelo que perdeu esse estatuto.
Foi nessa localidade que, depois de vários dias consecutivos de chuva e de céu muito nublado, apareceu num destes dias um fim de tarde solarengo que me proporcionou uma fotografia bem curiosa, em que a sombra de uma árvore se projecta sobre uma casa rural típica daquela zona.
Esta casa fica na rua Alexandre Herculano e em frente da Escola Alexandre Herculano, uma construção do século XIX que assinala a presença e perpetua a memória do grande escritor que viveu os últimos dez anos da sua vida na sua Quinta de Vale de Lobos, que ali fica bem próxima. Na localidade ainda existe um memorial de homenagem a Alexandre Herculano e, no pátio do Centro de Cultura e Recreio Alexandre Herculano, encontra-se um busto em bronze de Alexandre Herculano.
Não há dúvida que esta pequena localidade sabe honrar a memória de um grande historiador e escritor português que hoje repousa nos Jerónimos.

Facebook – a comunicação que ameaça

A notícia já corre há alguns dias e revela que o Facebook, ou feicebuque como o meu amigo JNB gosta de escrever, tratou de fazer batota e começou a explorar o exibicionismo dos seus utilizadores e a segmentá-los ou arrumá-los por perfis etários, psicológicos, económicos, culturais e outros. Assim, construiu uma monumental base de dados com milhões de registos de grande valor o que levou o deslumbrado Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, a vender essas informações privadas a uma tal Cambridge Analytica.
Os efeitos sociais dos mass media já eram bem conhecidos desde finais da primeira metade do século XX, através dos trabalhos de Paul Lazarsfeld e do casal Lang, que estudaram os efeitos das notícias sobre os consumidores e sobre os eleitores, isto é, sobre o consumo e sobre o voto. Hitler e a sua equipa também conheceram essas teorias de manipulação das decisões das pessoas e o canadiano Marshall McLuhan veio dizer que, sob a pressão dos mass media, o mundo se tinha transformado numa aldeia, daí nascendo o conceito de aldeia global.
Com a televisão, com a internet e com as redes sociais, o problema aprofundou-se. É agora possível definir os públicos-alvo com grande precisão e ser mais directo e mais eficaz na transmissão de mensagens comerciais ou políticas, canalizando a mensagem para os alvos preferenciais, se necessário através das fake news ou as notícias produzidas expressamente para produzir certos efeitos, que são tão comuns em Portugal, sobretudo nas fugas ao segredo de justiça que condenam qualquer cidadão perante a opinião pública, antes do julgamento em tribunal.
Assim, a Facebok e a sua associada Cambridge Analytica trataram de manipular os perfis dos seus utilizadores para uso publicitário e eleitoral e, segundo parece, foi daí que resultaram as surpresas eleitorais que deram a vitória ao Brexit e a Donald Trump. O assunto é muito sério porque é um enorme perigo para a paz e para a convivência democrática, tendo sido retratado na capa da edição de hoje do Der Spiegel.
Bem pode Mark Zuckerberg pedir desculpas, mas o facto é que o nosso modo de vida está ameaçado.

quinta-feira, 22 de março de 2018

As ameaças que pairam sobre a Itália

A Itália está a passar por uma grave crise de que pouco se fala e que foi agravada pelos resultados das últimas eleições, pois parece que não é possível formar uma maioria de governo. Depois das situações por que passaram a Bélgica, a Espanha e a Alemanha, é agora a Itália que ameaça tornar-se em mais um país europeu que não consegue formar um governo estável por não haver um partido ou uma coligação com maioria absoluta.
Neste quadro, as tensões regionais acentuam-se e a revista L’Espresso fala em fractura e publica uma ilustração da península italiana em que se evidenciam as divisões entre o Norte e o Sul.
Hoje, também o jornal Quotidiano di Sicilia faz uma análise de dez parâmetros económicos e sociais relativos à Sicília e à Lombardia, supostamente a mais pobre e a mais rica das regiões italianas, comparando os indicadores de saúde pública, despesa social, educação e empresas, entre outros, aproveitando os resultados obtidos para escolher o título da primeira página: “Sicilia - Lombardia, divide-nos o abismo!
Significa que nos últimos dias as palavras fractura e abismo estão a ser veiculadas pela imprensa italiana e isso é um facto preocupante. No tempo de incerteza e de instabilidade em que actualmente vive o mundo, a Europa precisa de mais unidade e de mais coesão, pelo que tudo o que a possa enfraquecer é preocupante, quer seja na Grã-Bretanha, na Catalunha ou na Itália.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Os ocidentais abandonaram os curdos

Na sua edição de hoje o diário francês Le Figaro dedica uma reportagem à Síria e à devastadora guerra que continua a assolar o país sem que se vislumbre uma solução e destaca, em título de primeira página, que “os curdos foram abandonados pelos ocidentais”.
Nos últimos tempos a campanha anti-Assad e anti-Putin dirigida pelas centrais de propaganda ocidentais quase atingiu o histerismo com a denúncia de bombardeamentos sobre Ghouta oriental, nos arredores de Damasco, nos quais perderam a vida várias centenas de civis. Sabe-se agora que os rebeldes sírios, que lutam contra Bashar-el-Assad e que foram lançados nessa luta por americanos, ingleses e franceses, dispararam um óbus sobre um mercado de Damasco que causou 35 mortes. Segundo refere o jornal “é o balanço mais elevado que conheceu a capital síria nos últimos meses causado pelos tiros de óbus e de roquetes lançados quotidianamente sobre Damasco pelos rebeldes, em represália pelos bombardeamentos do regime sobre os redutos rebeldes em Ghouta oriental”.
Porém, Le Figaro também anuncia que as forças turcas e os seus aliados sírios anti-Assad tomaram Afrin, que foi abandonada pelas forças curdas, talvez numa estratégia de recuar um passo para depois avançar dois. O abandono e a “traição” ocidental aos combatentes curdos, que têm sido os mais fiéis aliados do Ocidente na luta contra os jihadistas do Daesh, mostra como são as fidelidades na guerra. Porém, a propaganda das centrais ocidentais não relata quaisquer atrocidades em Afrin e até trata os curdos como rebeldes, o que mostra que a ditadura turca sabe manipular a opinião pública mundial. O jornal destaca ainda que depois da tomada de Afrin, a Turquia vai intensificar a sua ofensiva em direcção ao nordeste da Síria contra os curdos.
Esta guerra não é diferente das outras guerras e, como salienta o jornal francês, tanto Afrin como Ghouta oriental são apenas mais duas tragédias na Síria. Afinal Bashar-el-Assad e Recep Tayyip Erdoğan são demasiado parecidos mas, infelizmente, ainda há quem pense que nesta guerra há bons de um lado e maus do outro, quando nesta guerra são todos muito maus.

terça-feira, 20 de março de 2018

Um país com demasiados Felicianos

É com muita mágoa que escrevo sobre a inusitada violência que se abateu sobre um Feliciano – é esse o título escolhido pelo jornal i – pelo que aqui declaro, que não é meu propósito atacá-lo pessoalmente, nem alinhar com os seus companheiros de partido que o espremeram, embora alguns deles sejam tão Felicianos quanto o Barreiras Duarte do Bombarral.
Um Feliciano não incomoda ninguém nem tem expressão estatística, mas o facto preocupante é que temos demasiados Felicianos no nosso país, isto é, gente que desistiu de estudar e de aprender, que optou pelo facilitismo, que se encostou ao oportunismo e que se tornou parasita da vida político-partidária, tratando da sua vidinha em vez de tratar do interesse público. São um tipo especial de xico-espertos sem pudor nem vergonha, que procuram uns títulos académicos para decorar o seu nome e disfarçar a sua ignorante pequenez, que não têm outro passado que não sejam os cargos que os compadrios da política lhe trouxeram, nem outra actividade que vá para além do uso e abuso das vigarices, das mentiras e dos truques.
Os Felicianos procuram escolas de segunda ou terceira categoria para sacar um qualquer grau académico que lhes dê importância social, não frequentam aulas e desconhecem o mérito resultante do valor do trabalho metódico e da humildade da aprendizagem. Fazem exames ao domingo, requerem indevidas equivalências, escapam-se aos exames e obtém generosas licenciaturas, como se viu com aquela enorme quantidade de doutores em Protecção Civil, certificados em Castelo Branco. Apesar de tudo isso, não abdicam de ser reconhecidos como o Doutor Feliciano e não tremem nem se envergonham por isso, com tantas vezes se viu com esse Feliciano de referência que continua a ser Miguel Relvas. São demasiados os Felicianos que optaram por se comportar como verdadeiros travestis académicos, fazendo-se passar por engenheiros, catedráticos, licenciados, mestres, doutores e visiting scholars.
Almada Negreiros no seu famoso Manifesto Anti-Dantas escreveu que “uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi”. Será que podemos plagiar Almada e imaginar um Manifesto Anti-Felicianos?

segunda-feira, 19 de março de 2018

O separatismo catalão já perdeu fôlego

Desde que a Generalitat de Catalunya, ou Governo Autónomo da Catalunha, convocou um referendo para a independência já realizado no dia 1 de Outubro, que a região da Catalunha não sossega, com muita agitação, alguma desordem pública, inúmeras manifestações a favor e contra a independência e, sobretudo, com a economia a dar inquietantes sinais recessivos. Os constitucionalistas lutam por uma Catalunha integrada na Espanha e baseiam-se no facto da Constituição espanhola de 1978 não permitir votações sobre a independência de qualquer região espanhola, enquanto os soberanistas invocaram o direito à autodeterminação e independência da Catalunha para convocar o referendo, cujos resultados lhes foram favoráveis. Porém, ninguém reconheceu os resultados desse referendo emocional e o problema continua sem solução à vista.
Carles Puigdemont continua ausente ou exilado em Bruxelas, enquanto Oriol Junqueras continua na prisão. O diálogo demora, o separatismo perdeu fôlego mas ainda mostra intransigência e as maiorias silenciosas tendem a revelar-se.
Assim aconteceu no passado domingo, quando milhares de catalães convocados pela SCC (Sociedade Civil Catalã) vieram para a rua e reclamaram sensatez aos políticos catalães (seny) e um governo para todos, para recuperar a normalidade que foi perturbada pela ideia separatista.
Um dos participantes na manifestação foi o antigo primeiro-ministro francês Manuel Valls que, sendo natural da Catalunha e falando em catalão, afirmou que “a Europa precisa de uma Espanha unida” e que o separatismo, ou o procés como é conhecida a aventura catalã, já estava derrotado.
Na manifestação integraram-se bandeiras de Espanha, da Catalunha e da União Europeia e muitos militantes dos principais partidos políticos, destacando-se algumas palavras de ordem como “Estamos fartos”, ou “Somos Catalunha, somos Espanha”, ou “Puigdemont para a prisão”.
O jornal conservador ABC descreveu esta manifestação (em castelhano), tal como o ara ou o El Punt Avui descreverão as manifestações soberanistas (em catalão).

O reforçado poder de Vladimir Putin

Vladimir Putin foi reeleito presidente da Rússia e terá um novo mandato de seis anos, o que significa que vai estar no poder até 2024. No ano de 2000 tinha sucedido a Boris Yeltsin, o primeiro presidente eleito democraticamente na história da Rússia e, desde então, como presidente ou como primeiro-ministro, o Vladimir tem estado na primeira fila da política mundial e tem sido considerado como um novo czar de todas as Rússias.
A votação de domingo demorou cerca de 20 horas devido à extensão do território russo que se estende por 11 fusos horários, tendo-se verificado algumas denúncias de irregularidades eleitorais, mas Putin conseguiu 56 milhões de votos, correspondentes a 76% dos votos expressos.
O número de votos agora conseguidos superou o número de votos que obtivera nas anteriores eleições, o que parece provar que Putin consolidou o seu prestígio interno, na mesma medida em que também se tornou mais temido ou menos confiável no plano internacional. A vitória era esperada mas havia alguma expectativa quanto aos resultados, pois os eleitores russos iriam avaliar os desempenhos de Putin em relação à Ucrânia, à Crimeia e à guerra na Síria e, de uma forma mais geral, às relações da Rússia com a Europa e com os Estados Unidos, aquilo a que os comentadores dependentes costumam chamar Ocidente, apesar do chamado Ocidente já não existir como entidade homogénea, desde os anos de ouro da NATO e da guerra fria.
A resposta dos russos foi expressiva. O jornal britânico The Times anunciou-a na sua primeira página e escolheu a frase “Putin’s landslide victory... thanks to Britain”, lembrando que foi a precipitada atitude anti-russa de Theresa May e de alguns dos seus “aliados” mais reacionários, que levou o orgulho russo às urnas e à inequívoca vitória de Vladimir Putin.
Theresa May e a sua política continuam a somar derrotas e a afundar a Grã-Bretanha, enquanto Vladimir Putin está a fazer ressurgir o orgulho russo e a superar a humilhação que foi o fim da União Soviética.

sexta-feira, 16 de março de 2018

A desanimadora tensão russo-britânica

A edição de hoje do jornal inglês The Daily Telegraph destaca na sua primeira página uma fotografia do HMS Trenchant, um submarino nuclear britânico armado com mísseis de cruzeiro Tomahawk e torpedos pesados Spearfish, que está envolvido em exercícios militares no Ártico, no qual também participam os submarinos americanos USS Hartford e USS Connecticut. Estes exercícios revelam o interesse que o Ártico está a despertar no contexto da rivalidade russo-americana pelo controlo estratégico de uma tão vasta área do planeta e dos seus recursos.
Acontece que há mais de uma dezena de anos que nenhum submarino britânico frequentava a zona ártica, pelo que esta missão despertou o interesse da imprensa, numa altura em que é muito elevada a tensão entre o Reino Unido e a Rússia, depois do governo de Theresa May ter decidido expulsar 23 diplomatas russos como retaliação ao bárbaro envenenamento do espião russo Sergei Skripal e da sua filha. Assim, surgiram críticas sobre a inoportuna presença do HMS Trenchant no Ártico, que pode ser entendida como uma provocação. Essa é também a opinião do líder da oposição trabalhista Jeremy Corbyn, que já veio criticar a medida tomada por Theresa May e lembrar que é preciso evitar uma “nova guerra fria” com a Rússia, até porque a morte de Skripal, que era um agente duplo, poderá ter sido obra da máfia russa e não ter sido provocada pelas autoridades de Moscovo.
A tensão russo-britânica é desanimadora no quadro de um clima de paz e de cooperação internacional, mas do que não restam dúvidas é que os britânicos e o governo de Theresa May parecem estar a passar por alguma desorientação com os seus problemas internos, com as negociações do Brexit, sem o apoio americano que pensavam poder ser mais expressivo e, agora, com a tensão com a Rússia.

quarta-feira, 14 de março de 2018

As coisas caricatas do nosso quotidiano

O nosso pequeno Portugal tem sido palco nos últimos tempos de incontáveis situações demasiado caricatas, que passam pela política, pelo futebol, pela justiça, mas também por outros sectores, que mostram como o ridículo parece não ter limites.
Comecemos pela política. Com eleições legislativas no horizonte e com o Presidente Marcelo a revelar-se menos beijoqueiro do que o habitual, com António Costa a navegar à bolina, com Rui Rio a procurar tomar o leme ao seu partido e com os partidos da esquerda a agitar os seus eleitorados com vista às futuras eleições, apareceu uma tal de Cristas numa caricata e insensata ambição populista, a falar com uma arrogância e uma ambição desmedidas e a posicionar-se para liderar "todas as direitas" e ser a alternativa a António Costa. Foi a mais caricata e atrevida postura política que se viu ultimamente em Portugal. O que ela disse para mobilizar as suas bases é um atentado à inteligência dos portugueses, pois ninguém percebe como é possível passar de 7% das intenções de voto (sondagens de Janeiro de 2018 da Eurosondagem e da Aximage) para, como ela disse, chefiar o governo.
Também o futebol continua com aspectos caricatos, pois deixou de ser um belo espectáculo para se tornar numa indústria em que prolifera muita gente pouco recomendável, incluindo dirigentes e comentadores que, aos gritos e ameaças, ocupam o espaço televisivo e invadem os nossos domicílios.
Depois temos outro aspecto caricato da nossa vida quotidiana porque, numa lógica absurda e sem qualquer respeito pelo direito ao bom nome das pessoas, assistimos ao anúncio de inquéritos que deveriam ser confidenciais e que arrasam os cidadãos na praça pública, numa promíscua relação entre os agentes do sistema de justiça e os mais reles membros da nobre corporação dos jornalistas.
No plano dos costumes sociais também temos sido assaltados pelo ressurgimento da linha Relvas de falsos doutores, isto é, do reaparecimento de casos de abusivo e desonesto uso de qualificações académicas, como sucede com o título de catedrático que foi aceite por Passos Coelho ou com a utilização da categoria de visiting scholar por Barreiras Duarte.
São apenas algumas das situações caricatas que estão a atravessar a nossa sociedade e que mostram o poder dos media, mas também a altíssima perversidade de alguns deles.

domingo, 11 de março de 2018

A caravela-portuguesa veio dos trópicos

O título da edição de hoje do diário Faro de Ceuta até pode assustar os ceitis porque lhes pode lembrar o dia 21 de Agosto de 1415, quando chegaram à baía de Ceuta cerca de 212 embarcações, incluindo naus, caravelas, galés e outras embarcações menores, onde iam embarcados 20 mil homens comandados pelo rei D. João I para conquistar a cidade. De facto, a notícia de que a caravela portuguesa [está] em Ceuta, bem poderia referir-se ao episódio da chegada das caravelas e de outros navios portugueses à baía de Ceuta, acontecido há 602 anos.
Porém, a caravela-portuguesa referida na notícia é a physalia physalis que, segundo o meu amigo Google, é um organismo pluricelular ou uma colónia de organismos geneticamente idênticos e altamente especializados que aparentam ser uma única criatura e cuja principal toxina é a physaliatoxina. Têm cores diversas, tentáculos com células urticantes que podem atingir 30 metros de comprimento e vivem na superfície do mar das regiões tropicais, flutuando graças a um flutuador cilíndrico cheio de gás.
Provavelmente, devido a condições oceanográficas desconhecidas, a Portuguese man o’war que é parecida com uma alforreca, foi deslocada pelo vento desde as regiões tropicais até ao sul da península Ibérica. Apareceu nas praias de Ceuta onde causou alarme e foi notícia de primeira página no Faro de Ceuta, mas também nas praias da Manta Rota e Monte Gordo, no sotavento algarvio, o que levou a autoridade marítima a difundir conselhos às populações marítimas devido ao seu elevado poder urticante e elevada perigosidade. Para quem ande no mar ou vá à praia, há que ter muito cuidado, mas não deixa de ser curioso o nome deste organismo inspirado na aventura marítima portuguesa dos séculos XV e XVI.

Amoco Cadiz: o naufágio de má memória

O jornal bretão Le Télégramme dedica a sua edição de hoje ao encalhe do Amoco Cadiz, porventura o mais simbólico dos grandes acidentes marítimos acontecidos com super-petroleiros ou VLCC (Very Large Crude Carrier).
O histórico naufrágio sucedeu no dia 16 de Março de 1978 na costa da Bretanha e o navio de 334 metros de comprimento e 51 metros de boca partiu-se em dois, tendo provocado o derramamento de muitas toneladas de petróleo numa mancha principal que media 16 quilómetros de largura por 72 quilómetros de comprimento, o que foi um dos maiores desastres ambientais até então ocorridos no planeta.
Infelizmente para o meio ambiente, as tragédias com petroleiros têm continuado e os desastres do Exxon Valdez em 1989 no Alasca, do Erika em 1999 na baía da Biscaia e do Prestige em 2002 nas costas da Galiza, são apenas alguns exemplos dos desastres ambientais provocados pelos super-petroleiros. Porém, o caso do Amoco Cadiz continua a ser o exemplo mais clássico e mais lembrado de entre todos. Na Bretanha e um pouco por toda a França, milhares de voluntários mobilizaram-se durante vários meses para limpar as praias, onde foi muito profundo o impacto ecológico dessa catástrofe sobre o litoral, a sua fauna e a sua flora. O naufrágio do Amoco Cadiz marcou uma enorme mudança em relação às preocupações quanto à segurança marítima e foi um alerta para a sensibilização das autoridades e das opiniões públicas.
“O dia mais negro”, pelo seu significado, foi oportunamente evocado pelo Le Télégramme quando se perfazem 40 anos sobre esse naufrágio de má memória.

sábado, 10 de março de 2018

Paris e a manutenção da Torre Eiffel

A Torre Eiffel é o monumento mais emblemático da cidade de Paris e também da França, tendo sido inaugurado em 1889, o que significa que vai celebrar 130 anos de idade em 2019.
Desde que Gustave Eiffel terminou a sua obra até à actualidade, a torre de 300 metros de altura já foi visitada por mais de 300 milhões de pessoas. O seu simbolismo civilizacional e a necessidade da sua preservação implicam que, de sete em sete anos, o monumento seja objecto de trabalhos de manutenção, incluindo a pintura para manter o seu bom aspecto e para prevenir a sua corrosão. Assim acontecerá a partir do próximo mês de Outubro, numa operação que demorará três anos, que custará 40 milhões de euros e que consumirá 60 toneladas de tinta. O jornal Le Parisien destaca essa "incroyable" operação que se  afigura mais complexa do que as 19 operações de pintura realizadas desde a sua inauguração, pois foram encontradas corrosões em muitas juntas, o que requer a sua eliminação. Além disso, a tinta de chumbo que foi usada nas anteriores pinturas terá que ser substituída por razões ambientais, o que vai implicar a decapagem de cerca de 25 mil metros quadrados da estrutura.
Nesta intervenção destaca-se uma novidade que é a colocação de um inovador muro de vidro com 3,24 metros de altura e com 65 milímetros de espessura, a envolver exteriormente a base do monumento, para o proteger e para minimizar o risco de atentados terroristas.
Esta operação de manutenção da Torre Eiffel sugere que sejam estudadas e intervencionadas as estruturas metálicas que foram construídas em Portugal desde finais do século XIX, sobretudo pontes, para assegurar a sua segurança.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Donald e Kim ou o encontro não esperado

A notícia surgiu há poucas horas e foi veiculada por muitos jornais, incluindo o New York Post: os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte vão encontrar-se no próximo mês de Maio, em lugar ainda não divulgado, para discutir a desnuclearização da Coreia do Norte e o fim dos testes de mísseis nucleares. O convite partiu de Kim Jong-un e foi aceite por Donald Trump, que já confirmou a aceitação do convite para esse encontro que poderá ser histórico, embora tenha garantido que se mantêm as sanções contra o regime de Pyongyang enquanto não houver um acordo sobre desnuclearização. Segundo foi divulgado, esta iniciativa de Kim Jong-un surgiu na sequência dos encontros entre as duas Coreias que se seguiu aos Jogos Olímpicos de Inverno realizados na Coreia do Sul, tendo o convite sido entregue pessoalmente pelo líder norte-coreano à delegação sul-coreana para que fosse entregue na Casa Branca.
O anúncio do encontro entre os dois polémicos dirigentes tem sido comentado como uma iniciativa muito positiva, embora haja inúmeras divergências a separar os Estados Unidos e a Coreia do Norte. No entanto, este encontro bem poderá ser um ponto de partida para o desanuviamento de uma tensão que ameaça a paz mundial. É difícil conciliar posições tão extremadas e, além disso, houve demasiadas provocações entre os dois dirigentes, mas o encontro não pode deixar de suscitar muitas esperanças num novo caminho que, curiosamente, nasceu com base no desporto e não na diplomacia. 
Quem sabe se o Donald e o Kim, que parece terem tantos pontos de excentricidade em comum, não acabam por se tornar amigos e acabam por dar algum sossego ao mundo?

quinta-feira, 8 de março de 2018

O triste fim do navio "Mestre Simão"

O acidente aconteceu no passado dia 6 de Janeiro quando o navio Mestre Simão, de 40 metros de comprimento, fazia a sua entrada no porto da Madalena.
O Mestre Simão, tal como o seu irmão Gilberto Mariano, era o orgulho dos passageiros do canal, ainda a cheirar a novo, bem equipado, moderno e confortável, mas o mar pregou-lhe uma partida. Havia mau tempo no canal e o navio, que fazia a ligação entre a ilha do Faial e a ilha do Pico, terá sido apanhado por uma onda desencontrada que o atravessou e fez perder o governo, sendo atirado para as rochas que orlam a margem sul da bacia de manobra do porto da Madalena. Os setenta passageiros foram retirados sem quaisquer problemas e não houve feridos, mas o navio ficou preso às rochas, provavelmente muito aguçadas.
A autoridade marítima, a seguradora do navio e o armador Atlânticoline, desenvolveram esforços para esclarecer o que de facto se passou e para tentar o salvamento do navio. Os dias passaram e todos os esforços para o salvar foram infrutíferos, pelo que o governo dos Açores já anunciou que o Mestre Simão sofreu danos irreparáveis e foi considerado perdido, pelo que foi iniciado o processo de aquisição de um navio semelhante, ao mesmo tempo que foi aberto um concurso internacional para o seu desmantelamento e remoção.
Fui fotografar o navio e senti uma enorme mágoa ao ver aquele símbolo do progresso na ligação entre as ilhas do grupo central açoriano e que me transportou algumas vezes no canal do Faial, ali solitário e moribundo. É mesmo muito doloroso porque, como Fernando Pessoa escreveu na Ode Marítima, um navio tem personalidade e, por isso, não merecia um fim tão triste e tão inglório.

terça-feira, 6 de março de 2018

O enorme imbroglio político da Itália

As eleições legislativas italianas realizaram-se no passado domingo e os resultados foram considerados um cataclismo eleitoral, pois o cenário é muito incerto e poderá dar origem a uma situação de ingovernabilidade, para além de deixar a Europa em sobressalto. Le Télégramme, um jornal francês de Lorient, diz hoje que a Itália está em pleno imbroglio político.
Aconteceu que a coligação de centro-direita liderada por Matteo Salvini e que agrega a Liga do Norte, a Forza Italia de Silvio Berlusconi e outros partidos eurocépticos e populistas, obteve 37% dos votos, enquanto a coligação de centro-esquerda do ex-Primeiro Ministro Matteo Renzi, que é dominada pelo Partido Democrático e tem cariz social democrata, se ficou pelos 22,85% de votos. Entre estas duas coligações, mas com o melhor resultado em termos individuais, aparece o Movimento Cinco Estrelas, liderado pelo jovem Luigi di Maio de 31 anos de idade, eurocéptico, populista e adepto da democracia directa, que foi a força mais votada com 32,68% dos votos.
Ninguém conseguiu os 40% que garantem a maioria absoluta para governar e Matteo Renzi já se demitiu da chefia do seu partido. No meio de tantos partidos e tantas coligações, é mesmo muito difícil antever o que irá acontecer.
Certo é que a Itália está agora dominada por eurocépticos e populistas, uns da anti-política e da democracia directa que não são da direita nem da esquerda tradicionais, outros que estão muito próximos da extrema-direita. Um país fundador da União Europeia parece ter-se unido contra o poder de Bruxelas e estar a alinhar-se com as tendências direitistas e xenófobas da Hungria e da Polónia ou, como alguém escreveu, “é estranho imaginar o governo de Roma mais próximo de Budapeste ou Varsóvia, do que de Paris, Berlim ou Bruxelas”. Os italianos votaram contra as políticas internas de apoio aos emigrantes, mas também contra as medidas impostas por Bruxelas que têm empobrecido o país, havendo muita gente que, por toda a Europa, teme um Brexit italiano, que a acontecer seria certamente mais grave do que aquele que foi decidido em Londres.

segunda-feira, 5 de março de 2018

A nova pátria catalã chama-se Tabarnia

Muitos jornais espanhóis, sobretudo os mais conservadores como o ABC, noticiam hoje com grande destaque as manifestações havidas ontem em Barcelona a favor da independência da Tabarnia.
A Tabarnia é um neologismo criado a partir das palavras Tarragona e Barcelona, cujo território corresponde a uma parte do litoral da região autónoma da Catalunha e que agrega várias comarcas das províncias de Tarragona e de Barcelona, que maioritariamente não são independentistas e querem continuar a ser espanholas. Esse território seria constituído pela Alta Tabarnia ou área de influência de Barcelona e pela Baixa Tabarnia ou área de influência de Tarragona.
Para uns, este movimento que defende a independência da Tabarnia pretende “recuperar a soberania do antigo Condado de Barcelona” mas, para outros, apenas pretende opor-se aos movimentos soberanistas e ridicularizá-los. Os milhares de pessoas que ontem se manifestaram nas ruas de Barcelona contra o procés independentista, em boa verdade estavam a defender que a Catalunha continue a ser uma comunidade autónoma de Espanha e, repetidamente, afirmaram que os independentistas estavam a conduzir a Catalunha para um desastre e que as suas intenções são uma loucura.
Os partidos constitucionalistas espanhóis não apoiam este movimento a favor da Tabarnia, mas o facto é que ele até tem bandeira e que vem ganhando adeptos. A sua manifestação foi diferente das habituais manifestações e procurou ridicularizar os independentistas e a desconcertante conjuntura política que vive a Catalunha. Foi a favor de uma Espanha unida e parece ter sido apenas isso, mas muitos cidadãos tomaram-na a sério. O futuro dirá se a Tabarnia é, ou não é, uma coisa a considerar.

domingo, 4 de março de 2018

Navios naufragados = Património cultural

Realizaram-se recentemente nas águas do estreito de Sunda duas cerimónias de homenagem aos marinheiros - 353 australianos e 693 americanos - que pereceram no afundamento dos cruzadores HMAS Perth e USS Houston, que foram atacados por torpedos japoneses no dia 1 de Março de 1942.
Nessa cerimónia relatada pelo jornal The Jakarta Post, participaram as Marinhas americana, australiana e indónésia para evocar as vítimas desses afundamentos, mas a cerimónia também deu lugar a importantes declarações e compromissos no sentido de serem preservados todos os destroços de navios naufragados que estão assinalados nos mares indonésios. No caso do Perth e do Houston, tem havido incursões não autorizadas de mergulhadores que se têm dedicado ao furto de cobre, de equipamentos e de outros achados de valor histórico e arqueológico. Embora a lei indonésia estabeleça que os objectos, em terra ou no mar, com mais de cinquenta anos e com significado histórico, devam ser classificados de interesse cultural e devam ser protegidos do roubo, não tem havido a necessária acção das autoridades, não só na Indonésia, mas também um pouco por todo o mundo.
O estreito de Sunda separa as ilhas indonésias de Samatra e Java e liga o mar de Java ao oceano Índico, sendo reconhecido como um importante cemitério de navios, não só da 2ª Guerra Mundial mas também, provavelmente, do tempo em que os portugueses navegavam naqueles mares, sobretudo no século XVI, antes de serem afastados pelos holandeses da VOC. A preservação desses locais marinhos e a conservação dos destroços dos navios naufragados, não é apenas uma memória histórica e um património de interesse cultural, mas é também uma fonte essencial para os estudos de arqueologia naval.

sábado, 3 de março de 2018

Os “estranhos” navios que visitam Bilbau

A edição do jornal El Correo, que se publica em Bilbau, destaca na sua edição de hoje, uma notícia que informa que nos molhes de Santurtzi se encontram dois navios, cuja presença no porto de Bilbau classifica como “sorpreendentes estampas marineras”.
De acordo com a notícia o submarino Walrus pediu para fazer uma escala em Bilbau por razões técnicas e para descanso do pessoal. Trata-se de um dos quatro submarinos da classe Walrus da Royal Netherlands Navy, a única classe de submarinos holandeses actualmente ao serviço, cujas unidades prestaram durante muitos anos serviços à NATO em operações de vigilância das frotas russas no mar do Norte e no mar Mediterrâneo.
O outro navio que se encontra em Santurtzi é o M/Y Bob Barker, um antigo navio quebra-gelos de 52 metros de comprimento, que está registado em Roterdão. Este navio é propriedade da Sea Shepherd Conservation Society, tem a sua base no porto de Hobart, na Tasmânia, e dedica-se à luta contra os baleeiros, sobretudo japoneses, sendo conhecido em todo o mundo até pela sua camuflagem inspirada naquela que foi usada durante a 1ª Guerra Mundial.
O porto de Bilbau não figura entre os dez mais movimentados portos espanhóis e os molhes de Santurtzi não costumam ser visitados por outros navios que não sejam pesqueiros, pelo que a presença de um submarino e de um navio ecologista, ambos hasteando a bandeira holandesa, provocou muita curiosidade e gerou alguma especulação.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Putin responde a Trump e o mundo treme

Ontem, em Moscovo, o presidente Vladimir Putin fez o discurso do estado da nação perante deputados, senadores e outros dignitários russos, tendo anunciado o reforço da sua capacidade militar, a posse de novas armas sem paralelo no mundo e proclamado a actual superioridade militar da Rússia. A imprensa mundial de referência destacou hoje esse discurso e, diversos jornais internacionais, como por exemplo o espanhol El País, ilustraram a notícia com a mesma fotografia em que a imagem de Putin projectada no fundo da sala aparece sobreposta à assistência. A fotografia tem algum simbolismo a lembrar um poder semelhante ao antigo poder dos czares, porque Vladimir Putin tem dominado a política russa desde o ano de 2000 e tem conseguido reerguer o prestígio internacional da Rússia, depois da humilhação que se seguiu à queda da União Soviética. Com 65 anos de idade, Putin espera não só conseguir pela quarta vez mais um mandato de seis anos nas eleições de 18 de Março como espera, também, reforçar o seu poder pessoal ao prometer um futuro radioso para a Rússia. Durante o seu discurso, foram passados seis vídeos sobre as novas armas russas, incluindo uma nova geração de armas nucleares, um míssil de cruzeiro classificado como invencível e um torpedo nuclear que, segundo foi afirmado, pode vencer todas as defesas americanas. Para alguns observadores, o discurso de Putin teve por objectivo a agitação das paixões nacionalistas russas neste tempo pré-eleitoral, mas para outros significou um certo regresso ao passado e ao neo-keynesianismo militar do tempo da guerra fria, em que russos e americanos disputaram entre si a posse de mais e melhores aviões, fragatas, submarinos, tanques, mísseis, bombas, torpedos e ogivas nucleares.
Trump e Putin parece terem reentrado nessa antiga disputa, o que é bem preocupante.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Um português de sucesso na Florida

O diário el Nuevo Herald que se publica em Miami e que é o segundo jornal em espanhol mais lido nos Estados Unidos, destaca hoje na sua primeira página que “Carvalho se puede ir a Nueva York”.
Este homem que o jornal destaca é Alberto M. Carvalho, nascido em Lisboa e criado no Bairro Alto, que emigrou ilegalmente para a América. Chegou a Nova Iorque com 17 anos e sem saber inglês, trabalhou nas obras, lavou pratos em restaurantes e estudou. Hoje, com 53 anos de idade, é o português mais conhecido na Florida e um dos maiores especialistas em Educação nos Estados Unidos. Desde 2008 exerce a função de superintendente das Miami-Dade County Public Schools, o quarto maior distrito escolar dos Estados Unidos, ocupando um cargo que é uma espécie de Ministro da Educação de uma área onde vivem 5 milhões de pessoas, com a responsabilidade por cerca de 346 mil alunos e por 52 mil professores e funcionários.
A sua reputação é muito elevada, não só na Florida, mas também nos Estados Unidos. Já aconselhou inquilinos da Casa Branca republicanos e democratas, sobre a sua área de especialidade e, em 2014, a American Association of School Admimistrators elegeu-o, entre 15 mil superintendentes, como o National Superintendent of the Year.
Ontem foi anunciado que Alberto Carvalho foi escolhido por Bill de Blasio, o influente Mayor de Nova Iorque, para ocupar o cargo de chancellor of the New York City Department of Education, isto é, para dirigir as escolas da cidade. O jornal ainda não sabia se Carvalho tinha aceitado o convite, mas insinua que ele se prepara para partir para a Big Apple para, mais tarde, entrar na vida política e candidatar-se a um lugar no Congresso dos Estados Unidos. Com o percurso já percorrido, é bem possível.