sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Um futuro de incerteza na ‘small island’


Dentro de poucas horas vai concretizar-se a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o tal Brexit de que se falou durante tanto tempo e que metade dos britânicos queria, mas que a outra metade não queria. 
Alguma imprensa internacional destaca hoje esse assunto e aborda-o de muito diferentes maneiras, desde uma quase indiferença traduzida por um bye, bye ou um l’adieu, até a um bem afirmativo acordo com um triunfante yes, we did it, passando por situações intermédias que parecem prever ou desejar um regresso em tempo não muito longo, com frases como see you later ou, ainda, farewell, not goodbye.
Esta decisão, como foi repetidamente afirmado, é má para a Grã-Bretanha e é má para a Europa, podendo criar situações muito difíceis para as duas partes, apesar de ambos jurarem que vão ficar amigos para lá deste divórcio. Porém, parece evidente que os britânicos vão ser mais penalizados, não só porque se transformaram na small island a que se refere a edição de hoje do The Guardian, mas também porque correm o risco de se desintegrarem e acabarem com o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, que existe desde 1801. Os mentores deste divórcio sempre contaram com o amigo americano, mas esquecem-se que as solidariedades anglo-americanas de há setenta anos têm sido cada vez mais substituídas por interesses.
Os tempos que aí vêm são de muita incerteza. Os britânicos que apoiaram este divórcio, depois de 47 anos de união com a Europa, não estão alinhados com os sinais dos tempos e parece quererem reactivar o seu orgulhoso passado vitoriano e imperial, mas serão  esses mesmos sinais dos tempos que lhes vão mostrar que sem a Europa não passarão de uma small island.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Calatrava e a arquitectura de Valência

Santiago Calatrava é um arquitecto e engenheiro espanhol que nasceu em 1951 na cidade de Valência e que é, actualmente, um símbolo maior da arquitectura mundial, pelo seu carácter inovador nas formas e nos materiais que utiliza, em especial o vidro e o aço, mas também pelo arrojo com que estuda as suas soluções a partir de métodos matemáticos e informáticos.
As obras de Santiago Calatrava integram-se na chamada “arquitectura-espectáculo” e, por vezes, parecem desafiar as leis da Física, mas estão hoje espalhadas por muitos países europeus, pelos Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil, destacando-se mais de quarenta pontes que são classificadas como verdadeiras obras de arte. Em Portugal, Santiago Calatrava deixou a sua marca em 1998 na monumental Gare do Oriente, em Lisboa, cuja cobertura de vidro está equilibrada sobre colunas que se assemelham a um enorme palmar.
Na sua cidade natal de Valência, o arquitecto Santiago Calatrava ergueu a Cidade das Artes e das Ciências, um impressionante complexo arquitectónico formado por oito gigantescas construções, entre elas o Planetário em formato de olho humano adornado com gigantescas pálpebras de aço, um Oceanário e o Palácio das Artes Rainha Sofia.
Hoje o jornal valenciano Las Provincias destaca na sua primeira página a fotografia de Pedro Luis Ajuriaguerra, o fotógrafo espanhol que venceu o Art of Building, um concurso anualmente organizado pelo Chartered Institute of Building do Reino Unido. Ajuriaguerra fotografou o Museu da Ciência, um dos edifícios integrado na Cidade das Artes e das Ciências utilizando o reflexo do edifício para dar a aparência de um estranho tipo de peixe, pelo que deu o título Fish à sua fotografia. É uma fotografia realmente espectacular, bem ao nível da criatividade de Santiago Calatrava.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Kobe Bryant e o mundo do desporto


A notícia apareceu ontem com grande destaque no Los Angeles Times e em muitos outros jornais americanos, canadianos, ingleses, espanhóis, italianos, belgas, brasileiros, australianos e de muitos mais países, anunciando que Kobe Bryant tinha morrido num acidente de helicóptero. 
Eu não sabia quem era Kobe Bryant porque não acompanho a NBA, nem o basquetebol americano, mas com a extensão desta homenagem fiquei realmente convencido da minha ignorância, pelo menos no que respeita ao basquetebol internacional. Os títulos dos jornais chamam-lhe lenda, eterno e imortal, enquanto a fotografia de Kobe ocupa a primeira página de inúmeros jornais de referência e vem mostrar que o desporto e os seus protagonistas têm mais peso nas opiniões públicas do que os políticos, os cientistas ou os grandes empresários. Hoje, se Winston Churchill, Wernher von Braun ou Henri Ford fossem vivos, teriam menos notoriedade que os Federer, os Ronaldos e os Kobe. 
Há que reconhecer que, depois de se ter transformado numa poderosa indústria e num campo em que os homens e os grupos mostram as suas rivalidades, o desporto está catapultado agora para um nível demasiado alto da vida das comunidades. Este caso do respeitável basquetebolista Kobe Bryant é tão significativo como as longas horas que as televisões dedicam ao futebol, isto é, a comunicação social esqueceu o lema básico do desporto - mens sana in corpore sano – para tratar da indústria e do espectáculo, bem como dos seus agentes e das suas gentes.
Como escreveu Camões, "todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades".

A evocação do horror de Auschwitz


Ontem, no antigo campo de concentração de Auschwitz que simboliza como nenhum outro a vergonha do Holocausto, foi evocado o 75º aniversário da sua libertação pelas tropas soviéticas que entraram no campo no dia 27 de Janeiro de 1945.
Este campo situado no sul da Polónia foi construído pelo Terceiro Reich e foi o maior de todos quantos foram feitos pelo regime nazi para liquidar os seus inimigos, sobretudo os judeus, dispondo de vários campos-satélite, entre os quais o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, onde morreu mais de um milhão de pessoas nas câmaras de gás ou pela fome. Os horrores de Auschwitz têm sido divulgados pelos meios de comunicação e, em 1989, o chanceler Helmut Kohl declarou que “Auschwitz era o capítulo mais sombrio e mais horrível da história alemã”, mas parece que as novas gerações, nomeadamente na própria Alemanha, ignoram o que foi aquele campo de morte.
De resto, o reconhecimento internacional dos horrores de Auschwitz foram tardios, pois só em 2002 a Unesco declarou as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Património da Humanidade e só em 2005 a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a data da libertação do campo como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
Ontem, cerca de duzentos sobreviventes de Auschwitz estiveram no local de onde foram libertados no dia 27 de Janeiro de 1945 e, simbolicamente, usaram a boina listada que os identificava como prisioneiros ou como condenados à morte. Com eles estiveram muitos chefes de Estado e de Governo. Hoje, The Times, mas também The Wall Street Journal, El País e The Daily Telegraph publicam a fotografia de Igor Malckij, o prisioneiro 188.005 de Auschwitz e o que se pode dizer é, simplesmente, que uma imagem vale mais do que mil palavras.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Ceuta é uma fronteira entre dois mundos

A cidade de Ceuta foi conquistada pelos portugueses em 1415 e, quando em 1640 optou por não aderir ao movimento que restaurou a independência de Portugal, continuou a usar o escudo português e a bandeira gironada de branco e negro da cidade de Lisboa. 
Depois, em 1978, quando foi aprovada a actual Constituição espanhola, foi reconhecido à cidade a possibilidade de se constituir numa comunidade autónoma o que, juntamente com Melilla, veio a acontecer em 1995, mas a sua bandeira e o brasão de armas continuaram a ser aqueles que eram usados desde 1415. Esses símbolos não deixam indiferente qualquer cidadão português que visite Ceuta e nem sequer é um problema de saudosismo.
Apesar de estarmos em época de globalização, a pequena cidade de Ceuta é cada vez mais uma ilha, isolada do restante território peninsular espanhol e sujeita a uma pressão migratória dos territórios marroquinos. As suas autoridades afirmam que a cidade vive um momento crítico e preocupante e, nessas circunstâncias, dirigiram-se a Pedro Sanchez, o novo primeiro-ministro espanhol, pedindo-lhe que tire a cidade autónoma do abismo.
O jornal Faro de Ceuta entrevista Juan Vivas, o presidente da Ciudad Autónoma de Ceuta e que também é presidente do PP na cidade, divulgando a carta que enviou a Pedro Sanchez, onde enumera os sete pontos considerados essenciais para tirar Ceuta do abismo, entre os quais o apoio à actividade económica e à criação de emprego, a melhoria das infraestruturas e redes fronteiriças, o apoio ao tratamento da água potável e mais presença do Estado em sectores como a Saúde, a Educação e a Justiça.
O facto é que Ceuta está realmente na fronteira entre dois mundos e isso não está a proporcionar-lhe progresso e ameaça cada vez mais a sua estabilidade e modo de vida.

O coronavírus e a resposta chinesa

Na cidade de Wuhan, que é a sétima maior cidade da China, foi detectado um vírus denominado coronavírus que afecta o sistema respiratório e que, nesta altura, já causou 41 mortes e infectou 616 pessoas na cidade. Ao mesmo tempo que a cidade foi “encerrada” para evitar contágio e impedir a propagação da doença, foram detectados outros casos de coronavírus em diversos países asiáticos, mas também nos Estados Unidos e, nas últimas horas, em França e na Espanha. Apesar das declarações das autoridades sanitárias a alertar que o mundo está melhor preparado do que antes para enfrentar a situação, a preocupação está a tomar conta de muitas populações.
Vários jornais internacionais publicam hoje uma fotografia em que se vêem dezenas de escavadoras a preparar um terreno em Wuhan, no qual vai ser construído um enorme hospital para mil doentes afectados pelo coronavírus. O jornal Hoy, que se publica em Badajoz, na sua edição de hoje publicou essa fotografia em primeira página e dedicou-lhe seis colunas. O hospital deverá ser inaugurado no dia 3 de Fevereiro, o que significa que será construído em dez dias! É notável ou mesmo impensável imaginar esta capacidade que os chineses têm para preparar e executar um projecto desta dimensão e que, por mais simplificado que seja, será sempre muito complexo em estruturas, acessos, esgotos, água, electricidade, iluminação, comunicações, equipamentos e um nunca mais acabar de coisas a que é preciso dar resposta. Em dez dias!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Alterações climáticas e a depressão Gloria

A depressão Gloria passou perto de nós e os seus efeitos sentiram-se sobretudo no distrito de Coimbra, onde o vento provocou a queda de centena e meia de árvores, arrancou telhados e destruiu algumas estruturas.
Porém, em Espanha o problema foi mais grave, sobretudo na costa mediterrânica e em especial na Comunidade Valenciana e na Catalunha, bem como nas ilhas Baleares, porque se registaram ventos ciclónicos que atingiram os 130 km por hora, muita chuva que em certas áres acumulou 400 mm e fez transbordar rios e ribeiras e abundante queda de neve, que obrigaram ao encerramento de escolas e a cortes no tráfego rodoviário e ferroviário, mas também ao encerramento do aeroporto de Alicante na Comunidade Valenciana. As ilhas Baleares foram afectadas por ondas gigantes que atingiram alguns prédios, tendo sido observada uma onda de 14,42 metros de altura, a maior onda de sempre naquela área mediterrânica.
Como resultado da passagem da depressão Gloria registaram-se nove mortos e elevados prejuízos materiais, enquanto dezasseis províncias estavam ontem em estado de alerta. A imprensa catalã, nomeadamente o jornal el Periódico destaca na sua edição de hoje a passagem da depressão Gloria e escolheu para título da sua primeira página a palavra devastación. Da sua leitura do noticiário regional pode concluir-se que as consequências da passagem da Gloria foram muito duras em termos humanos e materiais e que não eram habituais pelo que, certamente, serão mais um sinal das alterações climáticas que se estão a verificar no nosso planeta.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Para que a Líbia não seja uma nova Síria

Realizou-se ontem em Berlim uma grande cimeira com a presença de vários dirigentes mundiais com o propósito de parar os combates entre grupos rivais e procurar uma solução para a Líbia, que ameaça tornar-se numa nova Síria. Depois da queda de Kadafi instalou-se um vazio de poder que, tal como no Iraque, na Síria e no Iémen, transformou o país em mais um campo de batalha na guerra silenciosa entre as grandes potências. Alguma imprensa publica hoje um mapa editado pela Agência Reuters, a maior agência de notícias do mundo com sede em Londres, que mostra as posições no terreno das forças que disputam o controlo do território da Líbia, parecendo um caleidoscópio em que estão misturadas as cores que identificam as forças do governo chefiado por Fayez al-Sarraj que é reconhecido pela ONU, as forças do general Khalifa Haftar ou Exército Nacional Líbio, as forças tribais tuaregues, os combatentes tubus e até o Daesh, cada um deles com os seus aliados. Uma perfeita confusão. Os combates já duram há nove meses e o conflito já se internacionalizou. O general Haftar tem o apoio da Rússia, do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos e a simpatia da França, enquanto o governo de Fayez al-Sarraj é reconhecido pela ONU, tem o apoio da Turquia, que já tem tropas no terreno, bem como a simpatia da vizinha Itália. Há muitos mercenários no terreno e o armamento não deixa de chegar aos dois lados.
Ontem as potências com interesses na guerra líbia conseguiram um acordo de cessar-fogo, apesar de continuar paralisada a produção petrolífera no Leste do país por acção de Haftar, o que afecta as receitas governamentais. Apesar da pressão internacional e dos chefes das facções em luta na Síria terem estado em Berlim, não se encontraram pessoalmente. Pelo contrário, Putin e Erdogan que são os principais intervenientes na Líbia, encontraram-se mais uma vez e é natural que não estejam interessados em levar para a Líbia os problemas que ambos têm enfrentado na Síria. A Líbia foi uma colónia italiana até 1951 e, por isso, a trégua agora acordada tem particular interesse para a Itália e para a sua opinião pública.

domingo, 19 de janeiro de 2020

A saída de navios para o mar… é notícia

O jornal The San Diego Union-Tribune destacou na sua edição de hoje uma fotografia do super porta-aviões de propulsão nuclear USS Theodore Roosevelt  (CVN-71), largando do porto de San Diego para o Pacífico ocidental.
Este super navio de 117 mil toneladas de deslocamento e 332,8 metros de comprimento tem a sua base em San Diego e vai partir para uma comissão de sete meses no Pacífico ocidental, levando consigo um grupo de ataque constituído por seis navios de superfície e cerca de noventa aeronaves embarcadas. A bordo destas unidades estarão cerca de seis mil homens e mulheres.
Este movimento faz parte da rotina operacional da Marinha dos Estados Unidos e o USS Theodore Roosevelt  vai integrar-se no United States Indo-Pacific Command (USINDOPACOM), que é o mais antigo e maior dos comandos de combate unificados, responsável por todas as operações militares americanas numa área equivalente a 52% da superfície da Terra. Para além da bela imagem que mostra o navio a sair de San Diego - que é um excelente exemplo de fotojornalismo - o interessante desta notícia é apenas o contraste entre os destaques que a imprensa dá às missões das suas Marinhas de Guerra: na imprensa americana é destacada a missão de um navio que larga para uma comissão de sete meses do outro lado do Pacífico, mas na imprensa portuguesa não consta que qualquer missão naval seja notícia, mesmo quando um navio larga para uma volta ao mundo.

Necessidades ilimitadas, recursos escassos


Quando da sua campanha eleitoral em 2017 o candidato Emmanuel Macron defendeu a transformação de mais de quatro dezenas de regimes de pensões existentes em França num único sistema “universal” por pontos, em que um euro descontado ao trabalhador passe a conferir exactamente os mesmos direitos a todos. Tendo ganho as eleições, o presidente Macron deu andamento à “réforme des retraites”, mesmo sem tocar nos pontos mais sensíveis que são a idade da reforma e o nível das pensões. Naturalmente, o projecto era explosivo por envolver sindicatos, organizações patronais, seguradoras e outras entidades, até porque pretendia resolver uma questão que já tinha sido tentada várias vezes e sempre tinha dado origem a grande contestação social.
Porém, esta tentativa de reforma patrocinada por Macron avançou num período de grande instabilidade e agitação sociais provocados pelo movimento inorgânico dos coletes amarelos, a que se seguiu o movimento orgânico dos sindicatos e das suas confederações. Nos primeiros dias de Dezembro iniciou-se um alargado movimento grevista apoiado pelas cinco confederações sindicais reconhecidas pelo Estado, com destaque para a CGT-Confédération Générale du Travail contra a “réforme des retraites” e contra o próprio presidente Emmanuel Macron. Actualmente, já estão acumuladas seis semanas consecutivas de protesto, com efeitos catastróficos em sectores como os transportes, o comércio, a hotelaria, a restauração e as actividades culturais. Serão necessárias várias semanas para contabilizar o prejuízo total gerado por uma das greves mais longas da história da França, mas o balanço já começou a ser feito: a companhia ferroviária SNCF já perdeu 850 milhões de euros, a Ópera de Paris perdeu 12 milhões de euros e o circo Bouglione um milhão. Provavelmente, muitos empregos serão perdidos nas pequenas e médias empresas que não resistirão a esta crise.
O problema é muito complexo. A revista Le Point trata deste assunto que, segundo diz, está a arruinar uma França que rejeita reformas e que esquece a velha máxima de que “as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos".

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Não esqueçamos o povo irmão de Timor

As relações entre Macau e Timor tornaram-se íntimas desde que em 1844 ambos foram desligados do Estado da Índia e das autoridades de Goa, tendo passado a constituir a província de Macau, Solor e Timor, com um governador residente em Macau e um governador subalterno em Timor, dele dependente. Depois, ainda houve algumas alterações deste quadro político, mas em 1863 o território de Timor foi declarado como província ultramarina de Portugal, tendo a vila de Dili sido elevada à categoria de cidade.
A distância de Lisboa foi apenas uma das razões porque Timor nunca se desenvolveu, embora existam alguns edifícios que  testemunham alguma coisa do que foi feito pelas autoridades portuguesas e pelas missões católicas. Um deles, construído em 1932 e actualmente em ruinas, é o belo edifício escolar do reino de Kelicai, no distrito de Baucau e nas proximidades do famoso monte Matebian que tem 2316 metros de altitude, que parece ter sobrevivido à ocupação japonesa (1942-1945) e indonésia (1975-1999). A escola funcionou até 1942 e só voltou a funcionar em 2014, mas em condições muito precárias, com as salas cobertas com folhas de zinco, bambu e folhas de palmeira. O jornal macaense ponto final veio agora divulgar que foi constituída uma Associação de Reabilitação do Edifício Escolar do Reino de Kelicai–Timor Leste (AREESK-TL) para recuperar e salvaguardar aquele edifício histórico e com ele preservar a cultura portuguesa em Timor Leste. O presidente não executivo desta associação é o bispo D. Ximenes Belo, prémio Nobel da Paz em 1996. Nesta altura estão reunidos 25 mil euros dos 360 mil que são necessários para reabilitar a escola onde 200 alunos do ensino secundário, entre outras coisa, poderão aprender o português.
Tanto quanto sei, há várias associações de amizade Portugal–Timor Leste registadas. Então, se existem, que façam alguma coisa de útil e que, ao menos uma delas, se interesse por este desafio que é a reabilitação da escola de Kelicai.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Anúncios de mau tempo na Grã-Bretanha

Apesar do possível vendaval que se aproxima das ilhas Britânicas trazido pelo Brexit, a imprensa britânica não tem tratado desse assunto e vem dando um enorme destaque à recente decisão do príncipe Harry e da sua mulher Meghan Markle, que anunciaram pretender deixar de ser membros séniores da Família Real, passar a ter uma vida normal e a dividir o seu tempo entre a América do Norte e o Reino Unido. Segundo parece, esta decisão do jovem casal está relacionada com o excessivo escrutínio a que está sujeito, tal como a generalidade da Família Real, bem como à forma como os media britânicos tratam os seus comportamentos, recorrendo frequentemente ao sensacionalismo e à mentira.
Na tradição inglesa este caso é sério e a Rainha tratou de convocar uma reunião de emergência que foi chamada a "Sandringham summit", na qual participou o príncipe Carlos, que é o herdeiro da Coroa, bem como os seus dois filhos William e Harry. Através de um comunicado, a Rainha afirmou apoiar a vontade de Harry e de Meghan e de ter ficado acordado um período de transição, pois há muita coisa para acertar em termos de direitos e obrigações.
Porém, alguns periódicos britânicos, como hoje faz o The Independent, preferem seguir uma prátical editorial britânica e publicar fotografias do mau tempo, em vez de falar do Boris, do Harry, da Meghan e de outros figurões, até porque não parecem trazer bom tempo às Ilhas Britânicas. 
A fotografia mostra a fúria do mar ontem em Porthcawl, uma localidade situada a sul de Gales, onde o vento atingiu 90 mph, isto é, cerca de 160 km/hora. É um bom exemplo de fotojornalismo.

domingo, 12 de janeiro de 2020

O grave erro humano e a tragédia do Irão

No passado dia 3 de Janeiro foi assassinado em Bagdade o general iraniano Qassem Soleimani vitimado pelo disparo de um drone americano e, na noite de 7 para 8 de Janeiro, os iranianos retaliaram com 22 mísseis contra duas bases militares americanas no Iraque. 
Quase em simultâneo, um Boeing 737 da Ukrainian International Airlines que fazia o voo comercial PS 572 e que levantara do aeroporto de Teerão há poucos minutos despenhou-se e provocou 176 vítimas, sendo 82 iranianos, 57 canadianos, 11 ucranianos e três britânicos. Houve quem suspeitasse da coincidência temporal entre a retaliação iraniana e o colapso do avião ucraniano, mas as autoridades iranianas negaram qualquer ligação entre estes dois acontecimentos.
Porém, começaram a ouvir-se vozes, sobretudo do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, afirmando haver indícios de que o avião ucraniano fora derrubado por projécteis iranianos. Durante três dias foi negada a intervenção do Irão nesta tragédia, até que ontem, dia 11 de Janeiro, o presidente Hassan Rouhani anunciou que a investigação interna levada a cabo pelos militares iranianos concluiu que “mísseis disparados devido a erro humano causaram o horroroso desastre do avião ucraniano”. Hoje, no jornal Tehran Times os militares iranianos assumem responsabilidades pela tragédia, acontecida num ambiente de grande tensão criado pelas circunstâncias e pelas ameaças dos últimos dias, em que o avião terá sido confundido com um míssil hostil pelo que foi abatido.
As forças armadas iranianas já prometeram melhorar os seus sistemas para evitar uma repetição do que sucedeu e as autoridades já afirmaram aceitar a entrada de investigadores internacionais, incluindo peritos da Boeing, tendo disponibilizado as caixas negras do avião aos peritos.
No meio desta tragédia, a atitude de abertura e de assunção de responsabilidades por parte do Irão deve ser destacada e até pode servir de trampolim para algum apaziguamento regional. Por outro lado, aqueles que na rua gritaram "morte à América", agora gritam "abaixo os ayatollahs".

sábado, 11 de janeiro de 2020

Um brilharete do andebol português

O Campeonato da Europa de Andebol ou 2020 European Men's Handball Championship que se disputa em três países (Suécia, Áustria e Noruega) e em seis cidades (Estocolmo, Malmö, Gotemburgo, Viena, Graz e Trondheim), iniciou-se no dia 9 de Janeiro e terá a sua final no dia 26 de Janeiro em Estocolmo. É a 14ª edição desta prova.
A selecção nacional portuguesa participou em cinco das treze edições já realizadas, a última das quais em 2006 e, cerca de catorze anos depois, volta a estar presente numa fase final, o que só por si é um acontecimento relevante no nosso panorama desportivo. Os 24 participantes nesta fase final estão divididos em seis grupos e Portugal ficou colocado no Grupo D, juntamente com a Noruega que joga “em casa” e se classificou em segundo lugar nos dois últimos Mundiais, com a França que venceu esta prova por três vezes, já foi campeã do mundo por seis vezes e ficou em terceiro lugar no último Mundial e, ainda, com a Bosnia Herzegovina. Em termos de lógica desportiva e de peso curricular, os dois apurados deste grupo para passarem à fase seguinte serão a França e a Noruega, dois verdadeiros tubarões do andebol mundial. 
Porém, ontem em Trondheim a equipa portuguesa bateu a selecção francesa por 28-25 e esse resultado vai ficar na história do andebol português, mesmo que os próximos resultados sejam desfavoráveis. O jogo foi transmitido em directo pela televisão e foi realmente um grande espectáculo desportivo, pelo que aqui exprimo o meu aplauso ao andebol português, de que fui um modesto praticante.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Iranianos e americanos vão moderar-se?


Ontem, na sua cidade natal de Kerman, realizaram-se as cerimónias fúnebres do general Qassem Soleimani, nas quais participaram milhares de pessoas vestidas de preto, empunhando cartazes com a fotografia do mártir iraniano e exigindo vingança com os americanos. Porém, devido a um acidente resultante da debandada incontrolada de gente que participava naquelas cerimónias, morreram 56 pessoas e 213 ficaram feridas. Perante esta tragédia o funeral acabou por ser adiado, mas o Irão não perdeu tempo e “satisfez” o desejo de vingança dos iranianos. Poucas horas depois, o Irão atacou com mísseis as bases americanas de Ain Al-Asad e Erbil, no oeste do Iraque, como retaliação pelo assassinato do seu “mártir” Soleimani.
Entretanto a guerra mediática já começou e, enquanto a televisão estatal iraniana avançou que morreram pelo menos 80 “terroristas americanos” no ataque iraniano, o presidente dos Estados Unidos limitou-se a dizer que “até agora, tudo bem”. Entre estas duas peças da guerra mediática, o exército iraquiano que aparentemente é neutral neste conflito, informou que foram disparados 22 mísseis, dos quais 17 para a base de Ain Al-Asad (dos quais dois não deflagraram) e cinco mísseis para a base de Erbil, onde estão instalados militares dos EUA e seus aliados, que atingiram o alvo.
O jornal americano La Opinión que se publica em espanhol na cidade de Los Angeles, destaca na sua primeira página que se iniciaram as hostilidades, mas poderá não ser assim. Todos sabem como uma escalada de conflitualidade naquela região pode ter consequências impensáveis e são demasiados os países neutrais e outros que pedem moderação e contenção às partes. Num eventual conflito naquela área só haverá derrotados e vítimas inocentes. Os americanos eliminaram o seu “inimigo” Soleimani e os iranianos poderão considerar que já se vingaram pois bombardearam duas bases americanas, uma coisa que parece nunca terem feito antes. Pode acontecer que "baixe a temperatura" e que as hostilidades se fiquem por aqui e que um dia destes possamos ver Donald Trump a abraçar Hassan Rohani ou Ali Khamenei, tal como o vimos a abraçar Kim Jong-un, depois de tudo o que dele disse. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A Sagres partiu. Que a viagem seja feliz!

No passado domingo, dia 5 de Janeiro, o navio-escola Sagres largou de Lisboa para a sua quarta viagem de circum-navegação que se prevê demorar 371 dias e que está associada às comemorações do 5º Centenário da Viagem de Fernão de Magalhães.
O navio tem uma guarnição permanente de 142 tripulantes, a que se juntarão em diferentes fases da viagem os cadetes do 2º e 3º anos da Escola Naval para cumprirem as suas curriculares viagens de instrução e, durante a longa viagem, o navio visitará 22 portos em 19 países, percorrendo cerca de 41 mil milhas.
A viagem cumpre diversos objectivos, quase numa lógica de economias de escala, pois associa-se às comemorações do feito histórico de Magalhães e Elcano, marca presença em alguns espaços simbólicos da diáspora portuguesa, divulga a imagem de Portugal nos países visitados e assegura a instrução dos cadetes da Escola Naval. Embora seja muito repetida a afirmação de que o navio-escola Sagres é uma grande embaixada de Portugal ou um ex-libris do nosso país, por ser verdadeira e exacta, tem que ser aqui reafirmada. Serão, como sempre, muitos milhares de visitantes que serão recebidos a bordo do navio português e as suas fotografias correrão mundo através das redes sociais e da imprensa. É, por isso, uma grande jornada de promoção de Portugal no mundo.
Como nota dissonante deste importante evento deve ser salientado que nenhum jornal português destacou a notícia da largada do navio-escola Sagres, ao menos com uma fotografia de primeira página, o que mostra a gritante mediocridade da generalidade da nossa imprensa. Se a partida para uma volta ao mundo tão simbólica não é notícia, então também se espera que, quando o Presidente da República visitar o navio, eventualmente no Japão, não convide para a sua comitiva os jornais e os jornalistas que ignoraram a partida do navio-escola Sagres e escolheram o jogo Sporting-Porto ou a falta de pediatras em Torres Vedras como notícias do dia. A viagem vai ser dura, mas vai ser muito gratificante. Que seja uma viagem feliz!

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Continua o imbróglio na Venezuela


Para além das preocupações com a escalada da tensão irano-americana, da impressionante calamidade que são os incêndios na Austrália, da continuação da guerra de contestação ao plano das reformas em França e de outros temas que têm ocupado os mass media, a instabilidade na Venezuela parece ter reentrado no noticiário internacional. Depois de muitos meses em que acompanhamos diariamente a imprensa venezuelana e em que parecia que a normalidade tinha regressado ao país, pois não se ouvia falar de Maduro nem de Guaidó, a Venezuela regressou hoje às primeiras páginas dos jornais da América do Sul e pelas razões do costume, isto é, a luta política entre o regime chavista no poder e a oposição venezuelana encabeçada por Guaidó, mas que está muito fragmentada e fragilizada pela corrupção.
Acontece que, de acordo com a lei venezuelana, deveria realizar-se ontem a eleição da junta directiva da Assembleia Nacional para o período anual de sessões ordinárias correspondente ao ano legislativo de 2020-2021. Porém, sucedeu mais uma “inovação política” neste confronto, pois os deputados da oposição ao regime chavista, incluindo Juan Guaidó, foram impedidos de entrar no edifício do Palácio Legislativo pelas forças policiais chavistas. Resultou daí que os deputados afectos a Maduro que se encontravam no interior desse edifício, escolheram o deputado Luís Parra para presidir à Assembleia Nacional através de um simulacro de votação, enquanto os deputados afectos a Juan Guaidó se reuniram nas instalações de um jornal da oposição e lhe reiteraram o seu apoio. A Venezuela ficou, assim, com um Parlamento e dois presidentes, cada qual com os apoios e os aliados do costume mas, provavelmente, sem a legitimidade que o cargo exige, isto é, continua o grande imbróglio na Venezuela. A imprensa venezuelana ficou calada, provavelmente à espera de ver como as coisas vão correr, mas os jornais dos países vizinhos como El Tiempo, que é o maior jornal da Colômbia e que se publica em Bogotá, destacaram essa notícia.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Qasem Soleimani e a alta tensão no Irão


O assassinato do general Qasem Soleimani tem dominado o noticiário internacional e gerou uma invulgar onda de preocupações, a par de um generalizado apelo para a contenção das partes. Da leitura da imprensa internacional há duas ideias que se destacam: do lado americano a declaração de Donald Trump de que “we took action to stop a war… not to start a war”, enquanto do outro lado se fazem duras ameaças no sentido de que seja vingado o seu herói assassinado. Ambas as ideias pretendem satisfazer as opiniões públicas internas, num caso para reeleger Donald Trump e fazer esquecer o seu processo de impeachment, enquanto no outro se trata de uma reacção à humilhação que foi o assassinato de Bagdad, para dar coesão ao actual regime.
Durante o dia de hoje puderam ouvir-se os comentários de inúmeros especialistas sobre os acontecimentos ocorridos em Bagdad e as suas opiniões quanto ao que pode acontecer nos próximos tempos, mas não se viu ninguém a ter a ousadia de fazer previsões, até porque as políticas americana e iraniana têm sido demasiado errantes naquela região.
Porém, a imagem de capa da edição de hoje do Iran Daily talvez esclareça alguma coisa, pois não é apenas uma homenagem ao general Qasem Soleimani, a quem se atribui o principal mérito pela derrota do Daesh, mas é também um elemento mediático de mobilização popular em torno da figura do mártir e de apoio à “harsh revenge” prometida pelo ayatollah Ali Khamenei. Para continuar a desafiar a América de Trump, o regime iraniano também precisava de ter o seu mártir e foi o próprio presidente dos Estados Unidos que o criou. 
Nesta incerteza, associo-me aos que estão preocupados quanto ao que possa acontecer e, como dizia o outro, previsões só depois do jogo…

Angola e o episódio da Baixa de Cassanje


O Jornal de Angola assinala hoje o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, evocando o massacre da Baixa de Cassanje que “abriu caminho para a liberdade” e “inspirou a luta de libertação nacional”.
Aconteceu há 59 anos, no dia 4 de Janeiro de 1961. Os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa de Cassanje, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho, armaram-se de catanas e canhangulos e desafiaram as autoridades portuguesas, destruindo plantações, casas e pontes, num movimento incentivado pela recente independência do ex-Congo Belga, uma vez que os povos do Congo e daquela região de Angola tinham raízes étnicas comuns e, por isso, se os povos do Congo já eram independentes, os povos de Angola também tinham essa aspiração. Os colonos portugueses foram os primeiros a reprimir o protesto, mas as tropas coloniais foram também chamadas e o terrível massacre aconteceu.
Os relatos destes acontecimentos diferem, pois enquanto o Jornal de Angola refere que “foram brutalmente mortos mais de vinte mil camponeses pelas tropas coloniais”, alguns estudos já produzidos concluem que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos”. Só o rigor da História poderá esclarecer a dimensão deste trágico acontecimento, mas é evidente que a verdade está bem longe dos números que a propaganda anti-colonial então criou e que a soberana República Popular de Angola repete, certamente para estimular os sentimentos de unidade nacional e para manter acesa “a chama gloriosa da independência nacional”.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A perigosa escalada americana no Irão


Os jornais americanos anunciaram esta manhã que um ataque aéreo americano desencadeado ontem à noite nos arredores da cidade iraquiana de Bagdad, provocou a morte do general iraniano Qasem Soleimani. Esta acção foi de imediato interpretada como uma retaliação pelo recente ataque à Embaixada dos Estados Unidos em Bagdad, levada a cabo por manifestantes e milicianos iraquianos, mas também foi classificada como um assassinato de Estado.
Qasem Soleimani era uma importante figura do regime iraniano e era o comandante da Força Quds, uma unidade especial do Exército dos Guardas da Revolução Islâmica que tem a missão de equipar e treinar movimentos revolucionários islâmicos em países estrangeiros, dependendo directamente do líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei. Segundo informa hoje o The Washington Post o general Soleimani estava em Bagdad para desenvolver planos destinados a atacar diplomatas e militares americanos, tanto no Iraque como nas regiões vizinhas, pelo que esta acção teve o objectivo de impedir o desenvolvimento dos eventuais planos de ataque iranianos que Soleimani pudesse estar a preparar. O Irão já confirmou a morte do seu general, atribuindo-a a um “acto de terrorismo internacional” e prometeu vingança contra os Estados Unidos pelo “seu aventureirismo”.
O Iraque parece ser o local da disputa ou do confronto entre o Irão e os Estados Unidos e alguns comentadores internacionais têm afirmado que esta escalada americana e esta iniciativa de Donald Trump são perigosas e podem ser o início de uma guerra de consequências imprevisíveis, pelo que a União Europeia, a Rússia e a China já pediram contenção às duas partes. Actualmente haverá cerca de 5.000 soldados americanos no Iraque com o objectivo de combater o que resta do Daesh e para apoiar as forças de segurança iraquianas, além de algumas centenas de funcionários diplomáticos. Naturalmente, o que se espera desta grave situação é que os ânimos se acalmem.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Os incêndios catastróficos na Austrália

As notícias e as imagens que nos vão chegando da Austrália são muito alarmantes, pois há enormes áreas do continente australiano que estão a arder. É uma grande catástrofe sob todos os pontos de vista. As previsões para os próximos dias são preocupantes pois esperam-se ventos fortes, altas temperaturas e baixa humidade, o que já levou a primeira-ministra da Nova Gales do Sul a declarar que tudo será feito para prevenir o que pode ser "um sábado horrível"
Os incêndios florestais que desde Novembro têm fustigado o país, sobretudo no referido estado de Nova Gales do Sul, onde já foi declarado o estado de emergência, atingiram proporções nunca antes observadas e são, sem dúvida, mais uma expressão das alterações climáticas e do aquecimento global com que se confronta o nosso planeta. É uma catástrofe com uma dimensão por agora inimaginável porque alguns milhões de hectares já arderam, o que representa uma área maior do que a área de países como a Dinamarca ou a Holanda. Segundo revelam as notícias, cerca de 1300 casas já foram reduzidas a cinzas, havendo milhares de pessoas desalojadas e cerca de 50 mil casas estão sem electricidade, além de já terem acontecido quase duas dezenas de mortes. As consequências ambientais também estão a ser uma calamidade em relação ao mundo animal, enquanto os fumos e as cinzas tornaram irrespirável o ambiente das cidades australianas e já chegaram à Nova Zelândia.
Hoje, vários jornais ingleses, nomeadamente The Times, The Guardian, The Daily Telegraph e o Financial Times, publicaram a mesma fotografia da catástrofe australiana, em que se pode ver um canguru a fugir de um cenário de fogo absolutamente apocalíptico.
Essa expressiva fotografia “vale mais do que mil palavras”!

Airbus e Boeing: Europa vence a América

Num período em que a França tem estado sob grande tensão social, quer pela acção dos coletes amarelos, quer pelas greves patrocinadas pelos sindicatos que contestam o plano para unificar o sistema de pensões, os franceses tiveram agora uma notícia que lhe alimenta a auto-estima e o orgulho nacional: a Airbus entregou 863 aviões em 2019 e tornou-se o principal fabricante de aeronaves do mundo, muito à frente da sua rival Boeing, que está a sofrer os efeitos da crise desencadeada pelo Boeing 737MAX, que está proibido de voar e tem a sua produção interrompida. A dimensão do resultado obtido pela Airbus assume maior expressão quando comparada com a Boeing que, de Janeiro a Novembro de 2019, entregou “apenas” 345 aviões.
A produtividade da Airbus aumentou 7,9% em relação a 2018 mas, apesar do esforço feito, a construtora europeia não conseguiu atingir o seu ambicioso objectivo de fazer entre 880 e 890 entregas em 2019. Entretanto, na sua carteira de encomendas estão registados cerca de seis mil pedidos de unidades para satisfazer, o que é um recorde sem precedentes na história da indústria aeronáutica.
Porém, este sucesso da Airbus não resulta apenas da crise por que passa o seu rival mas é, também, uma consequência da sua acertada gestão que descentralizou a produção de Toulouse para Mobile nos Estados Unidos, passando por Tianjin na China e por Hamburgo na Alemanha.
O jornal La Dépêche que se publica em Toulouse, a cidade onde estão os cérebros europeus que enfrentaram (e parece terem vencido) a indústria aeronáutica americana, dedica hoje a sua primeira página a este nº1 mundial. No domínio da tecnologia aeronáutica, a Europa vence a América e, para o Donald, esta notícia deve ser aterradora, até porque é mais uma realidade que mostra que o seu slogan make America great again não está a resultar.