Para além das
preocupações com a escalada da tensão irano-americana, da impressionante
calamidade que são os incêndios na Austrália, da continuação da guerra de
contestação ao plano das reformas em França e de outros temas que têm ocupado
os mass media, a instabilidade na
Venezuela parece ter reentrado no noticiário internacional. Depois de muitos
meses em que acompanhamos diariamente a imprensa venezuelana e em que parecia
que a normalidade tinha regressado ao país, pois não se ouvia falar de Maduro
nem de Guaidó, a Venezuela regressou hoje às primeiras páginas dos jornais da
América do Sul e pelas razões do costume, isto é, a luta política entre o
regime chavista no poder e a oposição venezuelana encabeçada por Guaidó, mas que está muito fragmentada e fragilizada pela
corrupção.
Acontece que, de
acordo com a lei venezuelana, deveria realizar-se ontem a eleição da junta
directiva da Assembleia Nacional para o período anual de sessões ordinárias
correspondente ao ano legislativo de 2020-2021. Porém, sucedeu mais uma
“inovação política” neste confronto, pois os deputados da oposição ao regime
chavista, incluindo Juan Guaidó, foram impedidos de entrar no edifício do
Palácio Legislativo pelas forças policiais chavistas. Resultou daí que os
deputados afectos a Maduro que se encontravam no interior desse edifício,
escolheram o deputado Luís Parra para presidir à Assembleia Nacional através de
um simulacro de votação, enquanto os deputados afectos a Juan Guaidó se
reuniram nas instalações de um jornal da oposição e lhe reiteraram o seu apoio.
A Venezuela ficou, assim, com um Parlamento e dois presidentes, cada qual com
os apoios e os aliados do costume mas, provavelmente, sem a legitimidade que o
cargo exige, isto é, continua o grande imbróglio na Venezuela. A imprensa venezuelana
ficou calada, provavelmente à espera de ver como as coisas vão correr, mas os jornais dos países vizinhos como El Tiempo, que é o maior
jornal da Colômbia e que se publica em Bogotá, destacaram essa notícia.
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