segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Eleições americanas: incerteza até ao fim

A menos de dois dias das eleições presidenciais americanas, muitos jornais apresentam nas suas capas as fotografias dos dois candidatos, enquanto as sondagens indicam que estão empatados, o que significa uma grande incerteza para os Estados Unidos e para o mundo. A disputa entre Donald Trump e Kamala Harris tem sido centrada nas suas características pessoais e nas questões do aborto, da imigração, da economia, dos impostos, da inflação, do combate ao crime e das alterações climáticas. Esses são os temas que mais interessam os 244 milhões de eleitores anericanos, dos quais 75 milhões já votaram antecipadamente. 
Porém, para aqueles que no mundo acompanham as eleições americanas, as crises no Médio Oriente e na Ucrânia são, certamente, os temas mais importantes e sobre eles, ambos os candidatos têm sido muito cautelosos, tanto em relação ao eleitorado judeu, como em relação ao eleitorado árabe e palestiniano.
Na Europa, que tem sido politicamente irrelevante nestes conflitos e que tem lidado muito mal com eles, a personalidade truculenta, grosseira e inculta de Donald Trump é uma coisa que preocupa e assusta, pelo que Kamala Harris tem a preferência dos europeus, embora muitos critiquem o seu alinhamento umbilical com Israel e com a política prosseguida por Joe Biden, que continua a fornecer armamento ao regime brutal de Netanyahu e, implicitamente, a apoiar o gernocídio em Gaza e a destruição na Cisjordânia e no Líbano. 
Como escreve hoje o novaiorquino Daily News é uma fateful choice, mas se eu fosse americano, certamente que nunca daria o meu voto ao Donald, nem às suas boçalidades.

sábado, 2 de novembro de 2024

Cultura e tradição lusitana na Califórnia

houve um desfile, uma tourada, apresentação de folclore, várias missas católicas, procissões e uma ampla oportunidade de partilhar a comida, a língua e a cultura da comunidade portuguesa, que é “muito poderosa” e que “vive escondida nas terras agrícolas da Califórnia” e, em especial, no seu Vale Central. Curiosamente, a reportagem é ilustrada com uma fotografia de uma tourada em que intervém o matador mexicano Israel Tellez, embora o texto também refira a actuação de um grupo de forcados.
Na actual conjuntura política americana, os votos da comunidade portuguesa da Califórnia valem muito – são um pouco mais de 350 mil portugueses e lusodescendentes, de acordo com o censo dos Estados Unidos de 2020. Por isso, os deputados John Duarte, David Valadao e Jim Costa não faltam às festas portuguesas e recordam ao povo as suas raízes familiares lusitanas, sobretudo açorianas,

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A inquietação global e “le défi chinois”

O jornal Global Times é um tablóide publicado sob a orientação do Partido Comunista Chinês e que, no Ocidente, é considerado como um instrumento da propaganda chinesa. Na sua última edição, o jornal destaca a fotografia de uma força naval do Exército de Libertação Popular da China (Chinese People’s Liberation Army ou PLA), em que se destacam os porta-aviões Liaoning e Shandong.
Segundo refere o jornal, estas unidades encontraram-se em Outubro pela primeira vez num exercício de treino conjunto realizado no Mar Amarelo, no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional, salientando que “a capacidade de combate de um grupo de dois porta-aviões é maior do que a simples soma de dois porta-aviões”. A fotografia publicada mostra que a força naval incluia pelo menos 11 unidades navais de escolta, designadamente contratorpedeiros, fragatas e navios de reabastecimento, para além de caças multifuncionais Shenyang J-15 embarcados nos porta-aviões, que a fotografia mostra a voarem em formação sobre a força naval.
Na actual conjuntura mundial, em que a Ocidente e a Oriente se acumulam fricções e declarações que inquietam o mundo, com os Estados Unidos a viver sob uma grande incógnita eleitoral, com a Europa desunida e em contínua desagregação e com os BRICS a levantarem a sua voz a reclamar uma nova ordem mundial, esta “reportagem encomendada” do Global Times pretende mostrar ao mundo o crescente poderio militar da República Popular da China.
Em 1967 o jornalista francês Jean-Jacques Servan-Schreiber publicou o livro “Le défi américan”, que foi um best-seller desse tempo com milhões de exemplares vendidos. Se fosse vivo, 57 anos depois, talvez Servan-Schreiber escrevesse agora o ”Le défi chinois”…  

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Valência sob anomalias meteorológicas

Na noite de terça para quarta-feira da corrente semana, ou de 29 para 30 de Outubro, chuvas torrenciais inundaram o sul e o leste da Espanha, sobretudo na Comunidade Valenciana e na Andaluzia. Nas suas edições de hoje, os jornais espanhóis escolheram para título das suas primeiras páginas, palavras como drama, apocalipse, tragédia, dilúvio, catástrofe, hecatombe, devastação e luto, escrevendo que foi “um ano de chuva em oito horas”, que matou pelo menos 95 pessoas, embora haja dezenas de pessoas desaparecidas e outras isoladas em locais inacessíveis. De acordo com as notícias, haverá ainda 1200 pessoas presas nas estradas e cerca de cinco mil veículos bloqueados. 
O jornal Hoy de Badajoz publica a fotografia de uma rua da localidade de Picaña, na comarca de Huerta Sur, na periferia da cidade de Valência, que mostra os efeitos catastróficos das cheias. Essa fotografia “diz mais que mil palavras” e foi escolhida por quase todos os jornais espanhóis para ilustrar esta tragédia valenciana.
Caíram mais de 400 litros de chuva por metro quadrado e este fenómeno meteorológico também já tem acontecido em várias regiões de Portugal, designadamente em Novembro de 1967 na região de Lisboa, que causou cerca de 700 mortos e a destruição de cerca de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região de Lisboa desde o grande terramoto de 1755.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Bolas de ouro e troféus são para os outros

Em finais de Outubro de cada ano, o mundo do futebol reúne-se para escolher o melhor jogador do futebol masculino e feminino da última temporada, que recebem o Ballon d’Or, um troféu patrocinado pelo jornal France-Football em parceria com a UEFA.
Neste ano de 2024, na festa realizada no Théâtre du Châtelet em Paris, o futebol espanhol ganhou ambos os troféus através de Rodri Hernández que joga no Manchester City e Aitana Bonmati que joga no FC Barcelona. A Espanha está em festa, a imprensa espanhola mostrou-se eufórica e o jornal desportivo as escolheu para título de primeira página que “España es de oro”.
Os futebolistas portugueses também foram votados mas obtiveram votações bem modestas, pois nos 30 melhores só aparecem Rúben Dias do Manchester City (23º) e Vitinha do PSG (27º). Longe vão os tempos em que os vencedores foram Eusébio (1965), Figo (2000) e Cristiano Ronaldo (2008, 2013, 2014, 2026 e 2017).
Nesta gala também foram escolhidos os vencedores do Troféu Yachine e do Troféu Kopa. O Troféu Yachine é destinado ao melhor guarda-redes e coube ao argentino Emiliano Martinez, ficando o português Diogo Costa em 8º lugar; o Troféu Kopa distingue o melhor futebolista jovem e foi atribuido ao espanhol Lamine Yamal, tendo o português João Neves ficado classificado no 6º lugar dessa tabela. Ainda foi atribuido o Troféu Johan Cruyff ao melhor treinador e o escolhido foi o italiano Carlo Ancelotti, não havendo qualquer português na respectiva tabela classificativa.
Em síntese, por vezes julgamos que somos muito bons em futebol – e somos - mas parece haver outros que são bem melhores

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Um voo de Lisboa a Macau há 100 anos

O ponto final é um jornal que foi fundado em 1991 e que é um dos três jornais diários em língua portuguesa que se publicam na Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China. Na sua última edição, o jornal evoca com uma grande reportagem a primeira viagem aérea entre Portugal e Macau, que se realizou há 100 anos e, na sua primeira página, publica a fotografia do Pátria, o aeroplano no qual os aviadores Sarmento de Beires, Brito Paes e Manuel Gouveia ligaram Portugal a Macau por via aérea em 1924. Gago Coutinho e Sacadura Cabral já tinham ligado Portugal ao Brasil em 1922 e essa viagem aérea inspirou aquele trio para fazer uma viagem comparável na dimensão e no arrojo, voando para Oriente, não sobre o mar, mas sobre a terra.
O governo português não financiou a viagem e o projecto veio a ser financiado pela fortuna pessoal de Brito Paes e por subscrições públicas. Num pequeno monomotor biplano, o Breguet 16 Bn2, chamado Pátria, os aviadorers partiram da Amadora no dia 2 de Abril de 1924 e, depois, de Vila Nova de Milfontes no dia 7 de Abril. Escalaram várias cidades do norte de África, atravessaram o Líbano, chegaram ao Paquistão e depois a Jodhpur, na Índia, onde o aparelho foi destruído numa aterragem de emergência, devido ao vento. Adquiriram então um novo avião, um De Havilland 9A a que chamaram Pátria II e prosseguiram viagem. A aventura terminou com sucesso na aldeia chinesa de Shum-Chum, a poucos quilómetros de Hong Kong, no dia 20 de Junho de 1924, depois de terem voado 16.380 quilómetros em dois aviões.
Na sua desenvolvida evocação histórica, o jornal ponto final destaca ainda a calorosa recepção com que Macau recebeu os aviadores portugueses.

sábado, 26 de outubro de 2024

Don ou Harris? Americanos que escolham.

Aproxima-se o dia em que os americanos vão votar para escolher o sucessor ou a sucessora de Joe Biden e a incerteza é enorme. O processo eleitoral americano é complexo e as sondagens não são credíveis, pelo que o resultado final se afigura imprevisível. Os Republicanos e os Democratas parecem estar empatados e o jogo eleitoral não permite que os candidatos – Donald Trump e Kamala Harris – digam tudo o que pensam sobre a forma como vão enfrentar os desafios com que a América e o mundo estão confrontados, nem a forma como se vão libertar dos grupos de pressão internos que tanto têm condicionado a política americana.
Porém, tanto nos Estados Unidos, como um pouco por todo o mundo, as eleições americanas são o assunto mais importante do momento, como se verifica na mais recente edição da revista Newsweek e pode afirmar-se que o próximo presidente dos Estados Unidos, vai ser decisivo para o futuro do mundo, pois as suas posições vão ser determinantes, ou não, para a construção da paz e da harmonia na comunidade internacional. É tempo de acabar com as guerras, sobretudo na Ucrânia e no Médio Oriente, que destroem e matam, que consomem recursos que fazem falta para o combate à pobreza e à fome, às alterações climáticas e ao subdesenvolvimento.
O que se espera do voto dos americanos é uma escolha presidencial que afirme os Estados Unidos como o grande defensor da paz, da concórdia e da democracia e, naturalmente, que faça com que a sua voz volte a ser respeitada no mundo, o que não tem acontecido nos últimos anos com Joe Biden e Antony Blinken, provavelmente os maiores responsáveis pela galopante queda do prestígio internacional do país de Thomas Jefferson e de George Washington.
Pela primeira vez desde 1988, o jornal The Washington Post não vai apoiar nenhum dos candidatos à Casa Branca. Eu também não.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

BRICS reclamam nova ordem mundial

A edição de hoje do jornal hojemacau exibe uma fotografia em que se reconhecem Narendra Modi, Vladimir Putin e Xi Jinping, sobre a qual se encontra o título “Olhos em Kazan”, isto é, olhos na 16ª Cimeira dos BRICS.
Esta cimeira de Kazan e estes homens recordam-nos a Cimeira de Bandung realizada em 1955, na qual se salientaram Nehru, Nasser, Tito e Sukarno, que criaram o Movimento dos Não-Alinhados e aprovaram como princípios políticos, a luta contra o colonialismo, o direito de todos os povos à autodeterminação, a luta pela independência nacional e a liberdade de escolha por cada estado dos seus próprios sistemas políticos. Com a Cimeira de Bandung o mundo mudou muito e, cerca de 69 anos depois, a Cimeira de Kazan mostra algumas analogias bem curiosas, no número de participantes, na notoriedade dos promotores, nas reivindicações explícitas ou implícitas e, naturalmente, na procura de uma nova ordem internacional, a começar pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Declaração de Kazan, ontem divulgada, consta de 134 pontos e parece ter de tudo um pouco no sentido do “fortalecimento do multilateralismo para uma ordem mundial mais justa e democrática”, mas o que sobressai é a contestação à actual ordem mundial saída da II Guerra Mundial, o desafio à actual hegemonia do chamado Ocidente Alargado e a procura do fim do subdesenvolvimento do Sul Global. A Cimeira mostrou que a Rússia não está isolada, enquanto António Guterres mostrou grande coragem em ter estado em Kazan. Curiosamente ou não, os mass media ocidentais quase ignoraram a Cimeira de Kazan, ao contrário da imprensa do ”outro lado do mundo”, como se viu com o hojemacau. É muito significativo.
Depois desta cimeira vai ser necessário pensar muito ou, o que é a mesma coisa, ter os "olhos em Kazan"…

Olinda restaura o seu património histórico

A edição de ontem do jornal Folha de Pernambuco publica uma fotografia do Mosteiro de São Bento, na cidade de Olinda do estado brasileiro de Pernambuco, destacando a informação de que vai ser objecto de restauro. A fotografia é apresentada a toda a largura da primeira página do jornal e desperta o interesse daqueles que defendem o valor histórico e cultural do património arquitectónico de origem portuguesa que se conserva em várias regiões do mundo, designadamente no Brasil.
O centro histórico de Olinda foi inscrito em 1982 na Lista do Património Histórico da Humanidade da Unesco e inclui cerca de duas dezenas de conventos e igrejas barrocas, incluindo o Mosteiro de São Bento, cuja igreja foi elevada à dignidade de Basílica Menor pelo Papa Joáo Paulo II.
O mosteiro foi construído pelos Beneditinos e ficou concluído em 1599, constituindo actualmente um dos mais importantes complexos arquitectónicos barrocos do Brasil e um pólo turístico muito procurado pelo turismo no estado de Pernambuco. Por isso, o governo e a governadora Raquel Lyra avançaram com um projecto de restauro orçamentado em 15,3 milhóes de reais e que ficará concluído em Maio de 2027. O projeto prevê que todos os bens artísticos decorativos que integram a nave, a sacristia, o coro, a capela-mor, a capela do santíssimo, a capela abacial e a sala capitular da Igreja do Mosteiro de São Bento passem por serviços de restauração e conservação. 
A governadora Raquel Lyra afirmou que “estamos trabalhando de maneira muito intensa para devolver a Pernambuco o que representa a sua identidade, buscando fortalecer o nosso turismo, mas também podendo garantir a perpetuação da sua história”. Naturalmente, aqui fica registado o nosso aplauso pela iniciativa do governo de Pernambuco.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A voz dos povos do “outro lado do mundo”

Está a decorrer na cidade russa de Kazan a 16ª Cimeira Anual dos BRICS, na qual participam os países do núcleo inicial – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – assim como os novos membros – Arábia Saudita, Egipto, Etiópia, Irão e Emirados Árabes Unidos, mas também outros países candidatos, ou convidados a assistir à Cimeira. Estão em Kazan mais de 20 chefes de Estado e de Governo dos chamados países emergentes, representando cerca de 45% da população mundial e cerca de 35% da economia global.
O anfitrião é Vladimir Putin, que receberá Xi Jinping, Narendra Modi e Cyril Ramaphosa, já que Lula da Silva estará ausente por razões de saúde. Todo o comentariado assinala que o potencial económico dos BRICS já ultrapassa o G7 e que a sua influência geopolítica é cada vez maior, referindo também que esta Cimeira está a servir para Putin mostrar que a Rússia não está isolada e que tem amigos, ao contrário do que afirma repetidamente a propaganda ocidental.
Os BRICS e as suas Cimeiras estão a tornar-se um desafio às políticas dos países ocidentais, marcadas por muita arrogância de que “o outro lado do mundo não gosta nem aceita”, porque lhes recorda os tempos de humilhação colonial. A decisão geopolítica ocidental de levar a NATO a entrar profundamente em território russo e para além da longitude de Moscovo, tal como os apoios expressos ou implícitos à crueldade israelita contra os seus vizinhos, são sinais de que “o outro lado do mundo não gosta nem aceita”. Por isso, a Cimeira dos BRICS também é um aviso para alguns líderes ocidentais que, manifestamente, parecem não conhecer a mentalidade dos povos do outro lado do mundo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

As nossas televisões são demasiado tóxicas

A edição de hoje do diário australiano Daily Telegraph, que se publica em Sydney desde 1879, destacou alguns segredos das estações australianas de televisão e escolheu como título a frase Toxic TV.
Este título despertou-me a atenção, pois desde há algum tempo que sinto que os canais televisivos portugueses, embora em grau diferenciado, nos intoxicam diariamente, sobretudo através de pivots e de comentadores, a maioria dos quais sem escrúpulos e sem outras preocupações que não sejam a propaganda das suas ideias e das suas teses. Os diferentes  canais televisivos dão cobertura a comentários e a comentadores nada honestos e sem amor à verdade, quase como se fossem espaços publicitários. Não são espaços informativos ou de comentário livre, pois são meros espaços de propaganda. 
O caso da guerra no Médio Oriente é apenas um exemplo entre muitos, pois existe um discurso expresso ou subjectivo, que tende a justificar toda a violência e a brutalidade israelita, assim como o efectivo genocídio do povo palestiniano, como se todo ele pertencesse ao Hamas. Recordo, por exemplo, que enquanto o mundo vem condenando a brutalidade israelita, a destruição do património, os massacres e o genocídio sobre os povos palestiniano e libanês, assistimos nas nossas televisões à presença de comentadores/as que continuam a considerar justificada a violência do regime de Netanyahu e a chamar terroristas a todos os vizinhos de Israel. Alguma dessa gente, que pomposamente usa o título de “especialista em Relações Internacionais”, não sabe o que são direitos humanos, nem o que é o sofrimento da guerra. E quando meio mundo elogia e apoia o nosso compatriota António Guterres  na sua procura de um cessar-fogo e da paz, vemos alguns desses comentadores a alinharem com o extremismo israelita e a criticarem  o secretário-geral das Nações Unidas. Essa gente é uma vergonha e a sua presença nas televisões é um escândalo e um atentado à inteligência dos portugueses.
Dando abrigo a essa gente, as televisões portuguesas, tal como as televisões australianas, estão a ficar demasiado tóxicas.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Amália e o fado são saudade em Macau

O Instituto Português do Oriente (IPOR) e o Teatro D. Pedro V de Macau decidiram homenagear Amália Rodrigues, a voz maior do Fado, por ocasião do 25º aniversário da sua morte, acontecida no dia 6 de Outubro de 1999. O jornal macauhoje deu o devido destaque a este acontecimento ao publicar a fotografia de Amália na capa da sua edição de ontem, em que anunciou o espectáculo promovido em sua homenagem.
O espectáculo apresentado em Macau intitula-se Fado Nosso e nasceu em Lisboa no ano de 2003, por iniciativa da companhia de dança portuguesa Amálgama, tendo sido concebido para ser apresentado quotidianamente no Panteão Nacional, junto do túmulo de Amália. Dizem as crónicas que esse espectáculo, que combina a dança e o canto na voz da Amália, foi um grande sucesso que veio a ser interrompido devido à pandemia de covid 19.
A oportunidade de apresentar o Fado Nosso em Macau resultou das ligações e influências orientais que a direcção do grupo mantém com o território de Macau desde há muitos anos.
O facto é que nenhum português fica indiferente quando vê Amália destacada na capa de um jornal de Macau...

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Viva António Guterres, lutador pela paz

António Guterres é um portuguêrs muito ilustre que, por escolha da comunidade internacional, vem desempenhando desde 2017 as funções de Secretário-Geral das Nações Unidas. Costuma dizer-se que “grande nau, grande tormenta” e, na verdade, a assembleia onde se reúnem todos os países do mundo é uma grande nau, na qual se reflectem as grandes tormentas do mundo.
Na actual conjuntura mundial, António Guterres tem sido um defensor das grandes causas e, em primeiro lugar, da causa da paz, mas também das causas do apoio aos refugiados, do combate à fome e à pobreza, da defesa dos oceanos e das alterações climáticas, entre outras. Na actual situação do Médio Oriente em que os israelitas começaram por ser vítimas do terror do Hamas, o governo extremista de Netanyahu respondeu com uma desproporcionada violência que parece ter visado a destruição de Gaza e o extermínio do povo palestiniano. Depois, com um espírito vingativo inaceitável, atirou-se ao Líbano com brutalidade e com o pretexto de aniquilar o Hezbollah, perante o silêncio cúmplice dos Estados Unidos e da União Europeia, que lhe fornecem as armas que utiliza. 
António Guterres tem sido o homem da coragem e do bom senso, ao apelar ao cessar-fogo e à paz, denunciando os crimes do Hamas, mas também o terror israelita, que também já foi condenado pelo TPI e que foi tipificado como uma sucessão de crimes de guerra. Na sua loucura destruidora, o extremismo de Netanyahu levou as suas tropas a atacar a UNIFIL, a força das Nações Unidas de manutenção da paz no Líbano e a exigir a sua retirada.
António Guterres reagiu com coragem e os israelitas logo o consideraram “persona non grata”, proibindo-o também de entrar em Israel, mas 105 países, incluindo os Estados Unidos, a União Europeia, o Brasil. a Alemanha e a França,  solidarizaram-se com ele. Cabe destacar as declarações de Josep Borrell, o vice-presidente da Comissão Europeia, que pediu a Israel para parar de culpar Guterres pela missão no Líbano, pois ela resulta de uma decisão do Conselho de Segurança”.
Em síntese, abaixo o extremista Netanyahu! Viva o grande António Guterres!

domingo, 13 de outubro de 2024

O futebol para nos distrair das guerras

Razões pessoais diversas fizeram com que estivesse ausente deste espaço durante alguns dias, embora não estivesse indiferente ao que se passava à minha volta e no mundo, sobretudo em relação à crueldade israelita sobre os seus vizinhos palestinianos e libaneses. O mundo e os grandes poderes ocidentais têm assistido à brutalidade e à desumanidade com que os israelitas têm destruído Gaza e o Líbano, sem quaisquer considerações de natureza humanitária. Finalmente, depois de uma cumplicidade que choca os amantes da paz e do progresso, alguns desses poderes, nomedamente a França, a Itália e a Espanha, levantaram as suas vozes para exigir a Israel que pare imediatamente com os bombardeamentos e suspenda o morticínio que instalou no Médio Oriente. No entanto, as nossas televisões continuam cheias de comentadores ao serviço de Netanyahu e de apoio à sua vingança desproporcionada, o que é verdadeiramente lamentável e chocante.
A condenação de Israel pelo mundo civilizado já começou e o futuro é, de facto, cada vez mais incerto. Nesse contexto de grande preocupação, mas também de condenação da brutalidade israelita, temos que nos distrair e saudar a vitória da selecção nacional de futebol, que ontem bateu a Polónia por 3-1, depois de já ter batido a Escócia e a Croácia, ambas por 2-1.
Portugal “soma e segue” na Liga das Nações e como hoje diz o jornal desportivo Record, esses resultados são uma grande alegria para o povo, que bem precisa de alegrias que nos distraiam das guerras.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

O ano que destruiu o Médio Oriente

A prestigiada revista The Economist que se publica em Londres, dedicou uma edição especial ao conflito em curso no Médio Oriente e escolheu como título “Irão, Israel e os Palestinianos - o ano que destruiu o Médio Oriente”. Num subtítulo em destaque pode ler-se “matar ou ser morto é a nova lógica da região” ou, ainda, “a dissuasão e a diplomacia seriam melhores”.
Muitos, sobretudo gente escolhida para o efeito, recordam que Israel tem o direito de se defender e é verdade. Porém, o que temos visto não é o exercício do direito de defesa, mas tão só uma desproporcionada onda de vingança, de violência e de brutalidade israelita contra instalações e pessoas, muitas delas inocentes, num quadro de genocídio generalizado dos povos palestiniano e libanês. Não há respeito por civis, por mulheres e crianças, ou por direitos humanos. O ditador Benjamin Netanyahu já foi condenado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, mas não se ouvem as vozes que podiam travar ou moderar a brutalidade das suas tropas, como por exemplo Joe Biden, o pequeno Macron, ou Ursula von der Leyen, que se comportam como verdadeiros aliados de Israel e não como agentes diplomáticos que procuram a paz no Médio Oriente.
As televisões mostram-nos imagens aterradoras das destruições provocadas pelos bombardeamentos israelitas, não só em Gaza, mas também no Líbano e noutras regiões, embora a mensagem passada pelas televisões ocidentais alinhadas com Israel, como sucede com a CNN, seja diferente da mensagem passada pela Al Jazeera.
Ninguém compreende esta caminhada louca de ataques e de retaliações que provocam a morte e a destruição, que levam muitos milhares de pessoas a fugir e a procurar refúgio. Neste ano que já destruiu o Médio Oriente, há uma séria ameaça à paz mundial e Portugal continua a assobiar para o lado.

O mundo olha para o Líbano horrorizado

O conflito que começou há quase um ano no Médio Oriente com a violenta resposta israelita à acção terrorista do Hamas do dia 7 de Outubro na Faixa de Gaza, tem sido brutal, destruidora e desumana, pois é dirigida a todo o povo palestiniano. O governo extremista de Israel tem aproveitado a actual conjuntura para provocar sérios danos humanitários e patrimoniais aos seus vizinhos, de que já resultaram milhares de mortos e deslocados e daí que muitas organizações acusem o governo israelita de genocídio. Depois da destruição da Faixa de Gaza e de outras acções na Cisjordânia, as forças israelitas atiraram-se agora ao Hezbollah e invadiram o Líbano. 
As imagens que nos chegam dos bombardeamentos israelistas em território libanês, sobretudo na área de Beirute, sáo aterradoras e devem deixar envergonhados aqueles que, em vários países, continuam a fornecer armamento aos israelitas e a apoiar os seus desmandos. Nos edifícios bombardeados pelos aviões israelitas com bombas fornecidas por vários países, viviam pessoas inocentes que viram as suas vidas destruídas pelo terror israelita. 
O jornal The Independent mostrou uma fotografia dos efeitos da loucura israelita e chamou a atenção para a escalada que representa a invasão de Israel e a retaliação do Irão, que são coisas a que o mundo assiste horrorizado. Se os Estados Unidos andam distraídos com a sua campanha eleitoral, não se compreende o silêncio da União Europeia e das suas principais potências.

sábado, 28 de setembro de 2024

Crueldade do Benjamin chegou ao Líbano

Benjamin Netanyahu foi às Nações Unidas enquanto os seus aviões bombardeavam o Líbano, com brutalidade e sem qualquer respeito pela lei internacional, nem pelos direitos humanos e sem qualquer piedade para com o povo libanês, com o pretexto de anular o líder do Hezbollah. Houve muitos apupos e Netanyahu foi vaiado no edifício das Nações Unidas por muitas delegações, verificando-se o extraordinário caso de um homem que tendo um mandato de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra, se pavoneou com ameaças perante a assembleia do mundo. Como se dizia antigamente: "ao q'isto chegou".
O seu discurso foi agressivo e de uma arrogância intolerável, ignorando os apelos de meio mundo para que se contivesse e ameaçando todos os seus vizinhos, incluindo a Turquia que é membro da NATO e, naturalmente, o Irão. O jornal El País publicou hoje uma fotografia de Netanyahu a discursar em Nova Iorque, em que se pode observar a sua agressividade verbal e o seu ar ameaçador.
Há cerca de dois meses Netanyahu tinha sido ovacionado no Congresso dos Estados Unidos, onde agradeceu o apoio de Joe Biden e afirmou que “as mãos do Estado judaico nunca serão algemadas”. Agora voltou a encostar-se ao apoio americano, falando como se estivesse em casa, o que é um atropelo às boas normas das relações internacionais. A desfaçatez e a brutalidade do fanático ditador israelita impressionam e mostram como a liderança americana do mundo já não é o que era, pois Washington está dominada por falcões e não consegue moderar a crueldade de Netanyahu nesta guerra e lhe continua a fornecer o armamento, as munições, os aviões, a tecnologia e todo o apoio de que carece.
Este mundo é realmente complexo e, mais do que o conflito russo-ucraniano que parece uma guerra civil, o Médio Oriente é cada vez mais um barril de pólvora alimentado pela cegueira dos políticos e pelas indústrias do armamento.
Cada dia é mais difícil ser-se optimista em relação ao futuro. 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Brutalidade do Benjamin continua impune

Sem que houvesse qualquer acontecimento de natureza terrorista como aquele que aconteceu por iniciativa do Hamas no dia 7 de Outubro do ano passado, o regime ultradireitista de Benjamin Netanyahu decidiu atacar o Hezbollah. Foi ontem que “un diluvio di bombe” foi lançado sobre Beirute e o sul do Líbano, como titulava esta manhã o Corriere della Sera, enquanto o jornal Irish Independent destacava que os bombardeamentos israelitas no Líbano mataram centenas de pessoas. O mundo deveria repudiar a matança violenta que os israelitas vêm realizando junto dos seus vizinhos, enquanto a Europa deveria condenar o regime extremista sem quaisquer hesitações, isolando-o logisticamente, sobretudo no que respeita ao fornecimento de material bélico. Porém, tanto os Estados Unidos como a Europa, apoiam objectivamente a violência israelita, sem quaisquer críticas substantivas e essa postura é uma vergonha para todos nós, mas também para todos os que defendem a paz no mundo.
A leitura da imprensa europeia e americana de hoje mostra que a brutalidade israelita e as centenas de mortes de inocentes palestinianos e libaneses que provoca, não parecem ser assunto de interesse, porque são muito poucos os jornais que noticiam a violência e a desumanidade dos bombardeamentos israelitas no Líbano, sendo ainda muito menos os que os condenam.
Entretanto, nas televisões portuguesas, prolifera a desinformação e as notícias tendenciosas que justificam a brutalidade israelita, juntamente com comentadores que não se cansam de justificar os crimes do regime de Benjamin Netanyahu. Não se imaginava tamanha vergonha na nossa terra, cuja Constituição afirma que Portugal se deve reger nas relações internacionais pela "solução pacífica dos conflitos internacionais".

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Um milhão de mortos e feridos na guerra

O conflito que tem devastado a Ucrânia desde Fevereiro de 2022 tem sido uma tragédia humanitária, com muitos mortos e feridos, muitíssimos refugiados, a destruição de muitas povoações e uma enorme devastação do património construído. A propaganda dos dois lados do conflito procura esconder o seu número de baixas por razões operacionais, mas também para manter a sua capacidade combativa e para fortalecer o ânimo nacional. Os números que são divulgados são manipulados para enganar o adversário, para lhe diminuir a vontade de combater, ou para estimular os seus próprios combatentes. É certamente, um dos aspectos mais imnportantes da guerra psicológica destinada a minar o espírito combatente do adversário.
Ontem, o The Wall Street Journal destacou em notícia de primeira página que, na guerra da Ucrânia, “o número de mortos e feridos gira em torno de 1 milhão”, o que mostra a dimensão desta tragédia que os vários líderes mundiais, sobretudo os europeus, não conseguiram travar antes, nem parecem querer travar agora. Tal número de baixas parece repartir-se em partes iguais pelos dois contendores e significa que se trata de uma tragédia sociológica, tanto para a Ucrânia como para a Rússia, pois ambos já perderam muita gente e têm enfrentado a fuga massiva dos seus homens e mulheres que buscam a paz e o sossego longe dos campos de batalha.
Porém, os belicistas e os falcões portugueses, muitos dos quais têm voz activa nas televisões, em vez de falarem nesta tragédia humanitária e de pedirem a paz para ucranianos e russos, falam sobretudo do envio de mais mísseis e de mais drones para alimentar esta espiral de destruição e de morte.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Incêndios florestais: a tempestade perfeita

Vivemos uma situação climática muito angustiante em Portugal, que está sob uma “tempestade perfeita” em muitas regiões continentais, com temperaturas do ar acima dos 30 graus, humidade relativa do ar abaixo dos 30 por cento e ventos coma mais de 30 quilómetros por hora. Como destaca o jornal Público na sua edição de hoje, “em dois dias ardeu tanto como no resto do ano”. O presidente da Câmara Municipal de Aveiro, uma região muito afectada pelos incêndios, afirmou que “sobrevoei a Espanha e não vi um incêndio. Passei a fronteira e, só da janela do meu avião, vi sete”, o que nos deixa com demasiadas interrogações sobre o que se passa no nosso país, onde muita coisa se vem degradando rapidamente perante a passividade do Estado, dos seus dirigentes, dos seus servidores e da população em geral.
As condições meteorológicas são muito adversas e vão persistir durante alguns dias, com temperaturas elevadas e ventos fortes. Todos os anos, em maior ou menor escala, o problema repete-se com inúmeros incêndios, com populações ameaçadas e com milhares de hectares de floresta devorados pelas chamas. Todos os anos se conclui que se faz pouco pela prevenção, que é uma responsabilidade colectiva de que quase todos se demitem. Anuncia-se o envolvimento de meios aéreos e de milhares de bombeiros, enquanto as televisões mostram as imagens do fogo e do fumo e, sobretudo, anunciam “o número de operacionais envolvidos e o número de viaturas”, a mostrar que não é a eficiência do combate que mais interessa, mas antes a dimensão do negócio. Enquanto isto, as televisões dão cobertura a uma feira de vaidades dos que gostam de ser vistos – autarcas, bombeiros, especialistas encartados ou não, gente da protecção civil – muitos dos quais “falam, falam, mas não os vemos fazer nada”, como diria o RAP.
O quadro é muito preocupante, como se viu ontem com as declarações de um primeiro-ministro visivelmente preocupado.

domingo, 15 de setembro de 2024

A paz é cada dia mais urgente na Ucrânia

A guerra na Ucrânia iniciou-se no dia 24 de fevereiro de 2022 quando a Rússia invadiu o território ucraniano e já dura há 934 dias. É muito tempo e o balanço do conflito é trágico, como vemos diariamente através das televisões.
Embora a questão ucraniana seja muito antiga, a recente divisão dos ucranianos entre os pró-russos e os pró-europeus dera origem em 2014 à revolução da Praça Maidan, com a queda do presidente Yanukovich, os grandes combates no leste da Ucrânia envolvendo separatistas pró-russos e forças ucranianas e a anexação da península da Crimeia pelos russos. Os Acordos de Minsk de 2014 e 2015, destinados a acabar com os confrontos nas auto-proclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, não foram respeitados pelas partes. Depois, houve inúmeras tentativas diplomáticas para evitar a guerra, mas os responsáveis políticos dos dois lados não quiseram ou náo foram capazes de chegar a um acordo, devido às suas ambições políticas ou, quem sabe, à necessidade de alimentar as suas indústrias militares.
Tem sido com profunda ansiedade que, durante estes 934 dias, assistimos a discursos belicistas de políticos e de comentadores, indiferentes ao sofrimento do povo ucraniano e à destruição das suas cidades, como se houvesse solução militar para aquela guerra. Agora, através do Daily Mail e de outros mass media, temos Volodymyr Zelensky impaciente e perturbado, a insistir para que lhe sejam fornecidos mísseis de longo alcance, havendo algumas inteligências mundiais que parecem apoiá-lo, sem ponderar no tipo de resposta que possa vir do outro lado. Será que são necessárias mais mortes e mais destruições? E para ir até onde?
Há alinhamentos e opiniões para todos os gostos, mas ninguém de bom senso pode esperar que uma parte possa derrotar a outra. Há algum diálogo entre as partes e até têm trocado prisioneiros. Então, continuem a conversar. Entendam-se. Há que abrir o caminho à diplomacia, negociar, conciliar os vários pontos de vista, ceder em alguns aspectos e encontrar a paz. Fujam dos belicistas e dos vendedores de armamento…

sábado, 14 de setembro de 2024

Cádiz tem mais de 3.000 anos de história

Vindo do golfo Pérsico há cerca de três mil anos, o povo fenício instalou-se no litoral do Mediterrâneo Oriental e fundou cidades importantes como Sidon e Tiro. A partir dessas cidades e porque eram marinheiros e comerciantes, navegaram pelo mar Mediterrânro e fundaram colónias e feitorias em toda a sua orla marítima, tendo atravessado o estreito e navegado no Atlêntico, chegando ao sudoeste das ilhas Britânicas e tendo explorado a costa ocidental africana quase até ao golfo da Guiné. 
Foi uma grande civilização da Antiguidade e as suas colónias mais importantes foram Cartago, cujas ruinas se situam próximo da capital da Tunísia, e também Gadir, que deu origem à cidade espanhola de Cádiz e cujos habitantes são conhecidos como gaditanos.
A cidade de Cádiz é uma cidade portuária da província do mesmo nome que faz parte da Comunidade Autónoma da Andaluzia e costuma celebrar o seu passado fenício. Neste fim-de-semana e sob o lema "Orgullos@s de nuestra historia”, o município de Cádiz promoveu uma grande festa de raiz histórica e de afirmação da sua identidade cultural, que incluiu a reconstituição de um desembarque fenício e um desfile com cerca de mil participantes devidamente trajados. Logo que o desfile chegou às Puertas de Tierra foi apresentado o espectáculo inaugural de som, luz e cor, intitulado “Cádiz, hace más de 3.000 años”. 
A reportagem desta festa foi publicada hoje pelo Diario de Cádiz e não lhe faltam adjectivos elogiosos. Como informação adicional regista-se que existem testemunhos arqueológicos da presença fenícia em Portugal, na costa do Algarve e nas bacias hidrográficas dos rios Sado, Tejo e Mondego. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O centenário de Amílcar Cabral

A edição de ontem do semanário caboverdiano Expresso das Ilhas dedica a sua manchete a Amílcar Cabral, seguramente a personalidade maior de Cabo Verde, que hoje completaria 100 anos de idade.
Nascido em Bafatá (Guiné-Bissau) no dia 12 de setembro de 1924, veio a ser assassinado no dia 20 de janeiro de 1973 em Conacri (República da Guiné), quando tinha apenas 48 anos de idade e era a principal figura da luta pela independência das colónias portuguesas, mas também um respeitado líder anticolonialista mundial.
Em 1945 rumou a Lisboa onde frequentou o Instituto Superior de Agronomia, cujo curso concluiu com sucesso em 1950, mas nesse período envolveu-se em actividades políticas contra o regime de Salazar, sobretudo no âmbito da Casa dos Estudantes do Império, daí nascendo a sua adesão aos movimentos de libertação colonial, aparecidos depois da 2ª Guerra Mundial e acelerados com a conferência de Bandung. Em 1956, na cidade de Bissau, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que dirigiu até à sua morte, acontecida em circunstâncias trágicas, quando “a independência estava ao virar da esquina”.
Durante a luta armada contra a presença portuguesa na Guiné iniciada em 1963, o PAIGC de Amílcar Cabral ameaçou seriamente as tropas coloniais com uma derrota militar, mas muitas vezes afirmou que a sua luta era contra o colonialismo e não contra o povo português e, várias vezes também, propôs negociações com as autoridades portuguesas para acabar com a guerra, mas a intransigência marcelista e o seu regime recusaram essa hipótese.
O insuspeito professor Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido o mais lusotropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável uso da língua portuguesa, e uma invocação constante dos valores que são os da Carta da ONU”. Apesar de ter estado na Guiné do outro lado da luta armada, aqui presto a minha homenagem a Amílcar Cabral.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Cristiano Ronaldo já marcou 900 golos!

A selecção nacional de futebol iniciou ontem a sua caminhada na 4ª edição da Liga das Nações da UEFA, cuja 1ª edição venceu, defrontando a sua congénere croata. Jogou muito bem na primeira parte e ganhou por 2-1, mas não foi a vitória que entusiasmou a nossa comunicação social, pois o destaque foi dirigido para Cristiano Ronaldo que marcou o golo 900 da sua carreira, como hoje destaca o jornal Record.
A sua carreira é notável no mundo do futebol, pois jogou no Sporting, no Manchester United, no Real Madrid, na Juventus, de novo no Manchester United e, actualmente, no Al Nassr, marcando muitos golos e deixando uma forte marca nos estádios.
Os seus 39 anos de idade já lhe pesam e já não corre nem se eleva como antes, mas continua com o seu lugar reservado na selecção nacional, na qual se estreou em Chaves no dia 20 de agosto de 2003, num jogo de preparação contra o Cazaquistão.
Segundo a RSSSF (Rec. Sport Soccer Statistics Foundation), a organização que regista os dados estatísticos do mundo do futebol, Cristiano Ronaldo é o maior “artilheiro” da história em jogos oficiais, seguindo-se-lhe Lionel Messi (838), Josef Bican (805), Romário (772), Pelé (767) e Puskas (735).
No Brasil pergunta-se: então o Pelé não tem mais de mil golos? A RSSSF esclarece que esse número relativo a Pelé inclui todos os jogos amigáveis e não oficiais, afirmando que “Cristiano Ronaldo é o primeiro jogador a atingir os 900 golos na carreira”, ou seja, a RSSSF confirma que ele é o maior marcador de golos de todos os tempos e, naturalmente, um dos melhores futebolistas da história. 
Naturalmente, muitos portugueses têm orgulho neste futebolista que, por mérito próprio, é o mais famoso português da nossa história de 900 anos, curiosamente tantos anos quantos os golos de Cristiano Ronaldo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Nicolás Maduro e o imbróglio venezuelano

As eleições presidenciais venezuelanas realizadas no dia 28 de julho tiveram resultados que foram contestados interna e externamente, tendo gerado muita instabilidade política e social desde então e que continua activa, quando já são passados quase quarenta dias. 
As ruas de muitas cidades, como a capital Caracas, encheram-se de manifestantes a constestar a fraude eleitoral e o resultado anunciado, ou a apoiar o presumível vencedor das eleições, que o actual presidente Nicolas Maduro anunciou ser ele próprio.
Houve confrontos e muitas centenas de cidadãos foram agredidos pela polícia, daí resultando 27 mortos, 192 feridos e cerca de 2.400 detenções. A generalidade da comunidade internacional continua sem aceitar os resultados anunciados pelo regime chavista e tem reclamado a consulta das actas que registaram o apuramento das votações em cada mesa eleitoral. Entretanto, segundo vem sendo deunciado nos meios de comunicação de diversos países, tem aumentado a repressão sobre a oposição venezuelana e sobre os seus dirigentes, tendo o jornal Perú 21 anunciado na sua edição de hoje que foi emitida uma ordem de detenção contra o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, que foi o candidato que enfrentou o ditador Nicolas Maduro. 
Porém, Edmundo González continua a afirmar que venceu as eleições, mas está escondido desde há um mês, pois não confia no aparelho repressivo chavista, nem no sistema de justiça venezuelano que está ao serviço de Nicolás Maduro. Perante a gravidade crescente da situação, os presidentes Lula da Silva do Brasil e Gustavo Petro da Colômbia manifestaram “profunda preocupação” pela decisão de deter Edmundo González e esperam encontrar-se com Nicolás Maduro nas próximas horas para encontrar uma solução pacífica para o imbróglio venezuelano. 
Se já há demasiadas tensões no mundo, porquê sustentar mais uma?

O Papa Francisco em Timor é uma festa!

O Papa Francisco chegou ontem à Indonésia para uma visita apostólica, tendo a edição de hoje do jornal The Jakarta Post destacado esse acontecimento que ocorre no maior país muçulmano do mundo. Trata-se da viagem mais longa do pontificado do Papa Francisco, em que percorrerá 32 mil quilõmetros com 44 horas de voo, com passagens por quatro países.
A Indonésia é constituída por milhares de ilhas entre a Ásia e a Austrália, sendo esta visita papal considerada um facto muito importante no actual contexto mundial, como afirmou Joko Widodo, o presidente da Indonésia, que convidou o Papa a visitar o país. Segundo as fontes do Vaticano, trata-se de construir pontes entre universos culturais diferentes e de estimular o diálogo interreligioso, tendo o Papa Francisco associado a “unidade na multiplicidade indonésia” à unidade das diferentes religiões, que perseguem o bem comum, a justiça social e a paz no mundo.
Depois da visita à Indonésia, o Papa Francisco seguirá para a Papua Nova-Guiné, Timor-Leste e Singapura.
No que respeita a Timor-Leste, um país onde se fala português e em que 95% da população é católica, a chegada do Papa Francisco acontecerá no dia 9 de setembro e, depois de cerca de 48 horas em Dili, seguirá para Singapura no dia 11 de setembro. A visita papal a Timor-Leste vai ser uma grande festa para a população e tem um significado especial porque a Igreja Católica foi um referencial de liberdade para os timorenses durante a violenta ocupação indonésia do território (1975-2002), tendo sido essencialmente através dela que se processou a comunicação interpessoal que permitiu a luta da resistência timorense.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O treino das Marinhas latino-americanas

O diário chileno El Mercúrio que se publica em Santiago do Chile, destaca na sua última edição a realização do UNITAS LXV (65), um exercício naval multinacional que se enquadra nos propósitos do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, ou Tratado do Rio, um pacto de defesa mútua interamericano assinado em 1947 no Rio de Janeiro.
No exercício do corrente ano, que vai decorrer até 12 de setembro, participam 25 países, com 17 navios, dois submarinos, 20 aeronaves e mais de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais e, entre os países participantes, estarão “delegaciones europeas y del Asia Pacifico”.
Diz a organização que o UNITAS é o exercício naval mais antigo do mundo, pois realiza-se anualmente desde 1960 sob a orientação operacional dos Estados Unidos e com a participação de várias Marinhas latino-americanas, com o objectivo de treinar, capacitar e estabelecer vínculos de confiança entre si. Nessa altura, o exercício destinava-se à preparação das Marinhas para fazer frente à ameaça soviética no contexto da Guerra Fria mas, com o tempo, os seus objectivos foram-se ampliando para novos aspectos da guerra no mar e para os novos cenários mundiais. A partir de 1999 o UNITAS passou a dividir-se em três fases que se realizam alternadamente no Atlântico, no Pacífico e nas Caraíbas. 
O exercício UNITAS LXV (65) vai decorrer na costa chilena do Pacífico e terá como bases os portos de Valparaíso e de Punta Arenas, no estreito de Magalhães.

sábado, 31 de agosto de 2024

Evocação do referendo de 1999 em Timor

Por diversas razões, incluindo as anomalias da descolonização portuguesa e a guerra civil timorense, no dia 28 de novembro de 1975 a Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) proclamou unilateralmente a independência daquele território que ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mas essa declaração não foi reconhecida por Portugal, nem pelas Nações Unidas, nem pela comunidade internacional.
Por isso, no dia 7 de dezembro de 1975, quando as tropas portuguesas se limitavam a uma presença simbólica na pequena ilha de Ataúro, a vizinha e poderosa Indonésia invadiu a antiga colónia portuguesa da ilha de Timor que, de jure, ainda tinha soberania portuguesa, decretando a sua anexação. A repressão indonésia foi violenta e gerou uma resistência armada que lutou nas montanhas e criou dificuldades aos ocupantes. Estima-se que tenham morrido quase duzentos mil timorenses. Apesar de alguns países, como a Austrália e os Estados Unidos, terem aceite a ocupação indonésia, os sucessivos governos portugueses defenderam a causa timorense e mobilizaram a comunidade internacional para respeitar o direito do povo timorense a escolher o seu destino. Depois de um longo e complexo processo diplomático, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, conseguiu que os governos da Indonésia e de Portugal estabelecessem negociações e chegassem a um Acordo sobre a Questão de Timor-Leste, que previa a realização de um referendo, que veio a ser realizado no dia 30 de agosto de 1999. Foi há 25 anos e a generalidade dos mass media portugueses estiveram distraídos e não evocaram esse dia histórico, tanto para Portugal como para Timor-Leste. Uma das honrosas excepções foi o Et cetera, o suplemento semanal do Jornal Económico, cuja primeira página evoca a figura de Xanana Gusmão, ex-comandante da guerrilha timorense, ex-presidente eleito da República e actual primeiro-ministro de Timor-Leste.
Nesse dia 30 de agosto de 1999, sob a supervisão das Nações Unidas, houve 78,5% de timorenses que rejeitaram a proposta de autonomia especial de Timor-Leste, o que significava a independência e a separação da Indonésia.
A independência chegou no dia 20 de maio de 2002. Foi um dia memorável em Portugal. Quem se recorda desse dia?

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Israel radical também ataca a Cisjordânia

O território palestiniano situado a oeste do rio Jordão que é designado por Cisjordânia, ou West Bank, está ocupado militarmente por Israel, o que é ilegal à luz do Direito Internacional e das Resoluções das Nações Unidas.
O território é governado pela Autoridade Nacional Palestiniana presidida por Mahmoud Abbas mas, para além do seu controlo militar, o governo de Netanyahu decidiu agora lançar operações aéreas e terrestres em grande escala a que chamou operações antiterroristas. Assim, invadiu as cidades de Jenin, Nablus, Tubas e Tulkarem e outras áreas cisjordanas, com o apoio da aviação, de helicópteros e de veículos armados. Segundo os relatos de alguma imprensa internacional trata-se de “um dos ataques mais violentos em décadas na Cisjordânia” e o jornal Kuwait Times escreveu em título de primeira página que “Zionist terror hits West Bank”, o que significa que o terror atingiu a Cisjordânia. O insuspeito jornal The Washington Post escreveu ontem em primeira página que “massive Israeli raids kill at least 10”.
Alguns podem compreender a luta contra o Hamas que governa a Faixa de Gaza, como um direito de resposta israelita aos massacres e raptos de 7 de outubro, embora todos considerem injusto, excessivo e cruel o que tem sido feito ao povo palestiniano.
Outros podem compreender a reacção de Israel perante a ameaça do Hezbollah, uma organização política e paramilitar fundamentalista islâmica instalada no sul do Líbano.
Porém, ninguém compreende as acções israelitas nos territórios cisjordanos governados pela Autoridade Nacional Palestiniana onde já morreram mais de 650 palestinianos, desde o dia 7 de outubro. E ninguém compreende os silêncios de Joe Biden, de Ursula von der Leyen, de Emmanuel Macron, de Olaf Scholz e de tantos líderes que se comportam como cúmplices do massacre ao povo palestiniano.

Perda de um F-16: golpe para a Ucrânia

A edição de hoje do The Wall Street Journal publica na sua primeira página uma notícia com o título “Ukrainian Pilot Dies in F-16 Crash”, um facto que terá acontecido na passada segunda-feira, mas que só foi revelado quatro dias depois, certamente porque foi um duro golpe para as aspirações ucranianas.
A notícia avançada por diferentes agências diz que “a Ucrânia perdeu o primeiro dos seus caças F-16 de fabricação norte-americana durante o enorme ataque com mísseis e drones da Rússia na segunda-feira, matando o piloto, tenente-coronel Oleksiy Mes, um dos primeiros do país a ser qualificado para pilotar os caças avançados”. As autoridades militares ucranianas “não acreditam que um erro do piloto esteja por trás do acidente” e também afirmaram que "não parece ter sido resultado de fogo russo".
A longa pressão conduzida por Volodymyr Zelensky para que os seus aliados e amigos lhe cedessem caças F-16 tinha sido bem sucedida e as primeiras unidades tinham chegado à Ucrânia há poucas semanas, provenientes da Bélgica, Dinamarca, Países Baixos e Noruega. Havia a expectativa de que os F-16 poderiam desequilibrar a balança operacional a favor da Ucrânia, pelo que este acontecimento veio arrefecer os ânimos belicosos de muita gente e mostrar que a solução do problema ucraniano está na diplomacia, na negociação, no fim da destruição de vidas e bens, isto é, no cessar-fogo e na paz entre russos e ucranianos, mas também veio mostrar que aqueles que defendem o envolvimento de mais meios militares e até de tropas europeias, estão errados.
Haverá ainda quem pense que a guerra serve para solucionar algum problema?