sexta-feira, 4 de agosto de 2017

De novo o consumo e o endividamento

A economia portuguesa parece estar a crescer actualmente acima de 3%, que é o ritmo mais elevado dos últimos 17 anos, mas apesar desta expansão do Produto Interno Bruto, o peso da dívida pública no PIB que é o indicador mais utilizado para apreciar essas variáveis, continua a aumentar.
A razão é simples: o endividamento está a crescer mais do que o crescimento do produto, ou dito de outra maneira, os portugueses tendem a consumir o que têm e o que não têm, embora em termos de realidade macroeconómica não seja aexactamente assim, porque o aumento do consumo gera emprego e bem-estar.
O Banco de Portugal, que é a entidade responsável pelo apuramento destes valores, anunciou que em finais de Junho a dívida pública portuguesa atingia 249 mil milhões de euros, um máximo histórico em termos absolutos e que corresponde a um aumento de 4% relativamente ao período homólogo do ano anterior. Assim, o rácio da dívida em relação ao PIB estará nos 130,5%, embora seja de admitir que se venha a situar nos 128,5%, segundo anuncia o FMI e o Banco de Portugal. O problema, portanto, está uma vez mais no crédito que está a fazer com que os portugueses se endividem e é caso para perguntar se são as famílias que pedem dinheiro emprestado e os bancos emprestam, ou se são os bancos que aliciam as famílias com créditos e as famílias não resistem. O facto é que esta euforia económica tem um lado incómodo. 
O crédito à habitação já atingiu os valores de antes da crise e o crédito ao consumo recuperou os valores de antes da troika. Segundo apurou o Jornal de Notícias, em 2016 ”os portugueses pediram à banca 17 milhões de euros por dia” e, nos primeiros cinco meses de 2017, os novos empréstimos ao consumo já contabilizam um valor total de 1650 milhões de euros. O governo e as autoridades monetárias certamente que estão atentas a esta complexa geometria variável entre o bem-estar dos portugueses, o consumo, o endividamento, a dívida global, o emprego e o investimento. O passado recente, em que os portugueses recorriam ao crédito e consumiam para além do seu rendimento, ainda está na nossa memória. Há que ter cuidado!

1 comentário:

  1. Cada vez percebo menos de Economia e cada vez mais sou tentado a fazer um paralelo entre as regras orçamentais do Estado e as domésticas. E daí a evolução da dívida pública ser um assunto que continua a preocupar-me e muito.

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