segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O golpe na Birmânia e Aung San Suu Kyi

O tempo dos golpes de estado militares já passou e, por isso, os acontecimentos que no início da passada semana ocorreram na Birmânia, surgem ao arrepio da História.
A Birmânia, também chamada Burma e que, desde 1989, tomou o nome de Myanmar, é um país budista que tem uma história complexa, sobretudo depois de ter feito parte da Índia britânica ou Raj, entre 1885 e 1948, data em que se tornou independente.
Um golpe de estado militar impôs uma ditadura ao país em 1962, mas sob a pressão internacional, em 1990 houve eleições que foram ganhas pela senhora Aung San Suu Kyi e a NLD – National League for Democracy, com uma campanha em que defendiam a restauração da democracia no país. O regime militar não aceitou os resultados, prendeu-a e manteve-a presa no seu domicílio durante 15 anos, apesar de ter recebido o Prémio Nobel da Paz em 1991. Finalmente, após 49 anos, em 2011 os militares anunciaram o abandono do poder. Houve eleições em 2015 e a senhora Aung San Suu Kyi e a NLD voltaram a ganhar as eleições, mas ela foi impedida constitucionalmente de assumir a chefia do Estado porque os seus filhos têm nacionalidade estrangeira, pelo que foi criado o cargo de Conselheiro de Estado, que ela ocupou com poderes semelhantes aos do Primeiro-Ministro. A vida política birmanesa parecia correr normalmente e, no passado mês de Novembro, a senhora Aung San Suu Kyi e a NLD voltaram a ganhar as eleições. Os militares não gostaram e, no dia 1 de Fevereiro, tomaram o poder, tendo detido o presidente Win Myint, a conselheira Suu Kyi, muitos membros do NLD e decretado o estado de emergência. Aparentemente, só a China apoiou este golpe para proteger os seus enormes investimentos no país, enquanto as forças democráticas, os estudantes, o pessoal de saúde e outros sectores da população têm vindo para as ruas para contestar a ditadura militar e para apelar à desobediência civil. 
Hoje, o jornal francês Libération dedica a sua primeira página à contestação à ditadura militar birmanesa, à detenção de Aung San Suu Kyi e ao cri du peuple birman.

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