sábado, 4 de maio de 2019

Pois que venham as eleições antecipadas

António Costa, o primeiro-ministro português, fez ontem uma importante declaração quando anunciou que, no caso de ser aprovada pela Assembleia da República uma lei que obriga à reposição das carreiras dos professores, o seu governo se demitiria. Depois de três anos e meio de indiscutível sucesso governativo – credibilidade externa, confiança interna, crescimento da economia e convergência com a Europa, redução do desemprego, da dívida pública e do défice orçamental – não se esperava o surgimento de qualquer crise.
Tudo parecia correr sem grandes problemas, a reboque do optimismo de António Costa, do dinamismo de Marcelo Rebelo de Sousa, da competência de Mário Centeno e do impulso do turismo. Até que ontem, os partidos da oposição, pela esquerda e pela direita, provavelmente a pensar no voto dos professores, resolveram votar favoravelmente uma lei que obriga o governo a repor as suas carreiras, o que representa uma cedência ao radicalismo dos sindicatos e um custo de muitos milhões de euros para o erário público e, naturalmente, para os contribuintes. A questão está, portanto, em saber se prevalecem os direitos dos professores e, depois, os de todos os outros grupos profissionais que foram afectados pela crise de 2008/2009, muitos dos quais perderam o emprego ou tiveram que emigrar, ou se prevalecem os direitos dos contribuintes e o equilíbrio das contas públicas.
Na minha família sempre houve muitos professores, mas não são os professores que estão em causa. O que está em causa é que em todas as economias, as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos e, por isso, não há recursos para satisfazer as mil e uma reivindicações, por mais justas que sejam, das corporações profissionais de professores, enfermeiros, oficiais de justiça, polícias, militares, juízes, técnicos de diagnóstico, bombeiros, guardas prisionais e tantas outras que o Estado suporta, só porque são alimentadas pelos activistas sindicais que se limitam a defender os seus interesses particulares e ignoram os interesses gerais. Ao governo compete gerir, de forma equilibrada, os interesses da sociedade que raramente são convergentes. É assim a política.
Andaram muito mal os partidos que se aliaram ao radicalismo sindical e que vão pagar por isso nas urnas. António Costa fez bem ao anunciar que se demitiria e, provavelmente, não aceitará outra coisa que não sejam eleições antecipadas, onde aparecerá como o homem do equilíbrio, da sensatez, do equilíbrio orçamental, da estabilidade financeira e das contas certas. Que as eleições venham depressa para clarificar tudo isto. Entretanto, em Belém houve tempo para saber do estado de saúde do  futebolista Iker Casillas, mas ainda não houve tempo para comentar esta situação.
Não é costume, mas até parece que MRS está embaraçado.

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