António Costa, o
primeiro-ministro português, fez ontem uma importante declaração quando
anunciou que, no caso de ser aprovada pela Assembleia da República uma lei que
obriga à reposição das carreiras dos professores, o seu governo se demitiria.
Depois de três anos e meio de indiscutível sucesso governativo – credibilidade
externa, confiança interna, crescimento da economia e convergência com a
Europa, redução do desemprego, da dívida pública e do défice orçamental – não
se esperava o surgimento de qualquer crise.
Tudo parecia
correr sem grandes problemas, a reboque do optimismo de António Costa, do
dinamismo de Marcelo Rebelo de Sousa, da competência de Mário Centeno e do impulso
do turismo. Até que ontem, os partidos da oposição, pela esquerda e pela
direita, provavelmente a pensar no voto dos professores, resolveram votar favoravelmente
uma lei que obriga o governo a repor as suas carreiras, o que representa uma
cedência ao radicalismo dos sindicatos e um custo de muitos milhões de euros
para o erário público e, naturalmente, para os contribuintes. A questão está,
portanto, em saber se prevalecem os direitos dos professores e, depois, os de
todos os outros grupos profissionais que foram afectados pela crise de
2008/2009, muitos dos quais perderam o emprego ou tiveram que emigrar, ou se prevalecem
os direitos dos contribuintes e o equilíbrio das contas públicas.
Na minha família sempre houve muitos professores, mas não são os professores que estão em causa. O que está em causa é que em
todas as economias, as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são
escassos e, por isso, não há recursos para satisfazer as mil e uma reivindicações, por mais justas que sejam, das corporações profissionais de professores, enfermeiros, oficiais de justiça,
polícias, militares, juízes, técnicos de diagnóstico, bombeiros, guardas prisionais e tantas outras que o Estado suporta, só porque são alimentadas pelos activistas sindicais que se
limitam a defender os seus interesses particulares e ignoram os interesses
gerais. Ao governo compete gerir, de forma equilibrada, os interesses da sociedade que raramente são convergentes. É assim a política.
Andaram muito mal os partidos que se aliaram ao
radicalismo sindical e que vão pagar por isso nas urnas. António Costa fez bem ao
anunciar que se demitiria e, provavelmente, não aceitará outra coisa que não
sejam eleições antecipadas, onde aparecerá como o homem do equilíbrio, da
sensatez, do equilíbrio orçamental, da estabilidade financeira e das contas certas. Que as eleições venham depressa para clarificar tudo isto. Entretanto,
em Belém houve tempo para saber do estado de saúde do futebolista Iker Casillas, mas ainda não houve
tempo para comentar esta situação.
Não é costume,
mas até parece que MRS está embaraçado.
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