quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Há mercenários dos dois lados na Ucrânia

A comunicação social portuguesa pouco difere de uma comunicação de tipo paroquial, pois vive de casos, de sensacionalismos e do trabalho de estagiários, como se vê sempre que se descobre que uma qualquer figura de sucesso mediático subira na vida através da violação das regras que regem a nossa sociedade. Nesses casos da chamada criminalidade de colarinho branco, até acontece que aqueles que mais endeusaram as personagens da banca, do futebol e de outros sítios onde cheirasse a dinheiro, são aqueles que agora mais os afundam e que mais procuram antecipar-se a quem tem o dever de julgar os desvios à lei. Por isso, enquanto consumidores de notícias e de informações ficamos sujeitos a um jornalismo de tipo coscuvilheiro, feito de sensacionalismos, de presunções e de conjecturas, do qual muitas vezes duvidamos.
Por outro lado, o noticiário do que se passa para lá dos limites da paróquia fica entregue a comentadores geralmente bem preparados, mas que nem sequer fingem ser neutrais.
Vem isto a propósito da edição de hoje do jornal ucraniano ВЕСТИ ou Vesti, que se publica em russo na cidade de Kiev e em outras cidades da Ucrânia. A imagem da capa mostra o capacete de um soldado, algumas balas e um maço de notas de dólar, insinuando que há dinheiro a correr para pagar à “tropa de choque mercenária” que se prepara, ou não, para reactivar a guerra civil no Leste da Ucrânia, que desde 2014 mantém a região de Donbasss e as autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk em estado de rebeldia com o apoio russo.
Sabe-se que nesta escalada militar há muitos mercenários de ambos os lados e que o conflito já deixou de ser um caso interno da Ucrânia para se tornar num confronto ou numa guerra por procuração entre a Rússia e a NATO. Sabe-se também que, onde há mercenários, tem que haver dinheiro. Daí que a insinuação contida na capa do ВЕСТИ faça todo o sentido e possa referir-se a qualquer dos lados do conflito, mas para esclarecer isso era preciso conhecer a língua russa, que eu não conheço,  ou que a nossa comunicação social se interessasse por estes assuntos.

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