O título da
edição de hoje do Jornal de Notícias é curioso mas muito perturbador, sobretudo
porque aparece num país de marinheiros, que deu novos mundos ao mundo e que
tantos poetas portugueses têm cantado. Recordo Fernando Pessoa (Mar Português e Ode Marítima), António Gedeão (Poema
da malta das naus), Manuel Alegre (Trova
do amor lusíada), Sophia de Melo Breyner (Marinheiro Real) ou António Nobre (Lusitânia no Bairro Latino) e tantos outros poetas e poemas que
agora não me ocorrem. O mar faz parte da identidade portuguesa e devia ser um
capítulo importante de um conceito estratégico nacional que continua por
definir. Foi o mar que nos levou a terras distantes e nos projectou no mundo.
Cantamos os “Heróis do mar” deste “Nobre povo” e desta “Nação valente, imortal”.
Porém, aquele título do jornal é um valente soco no estômago, pois revela que o
mar, que é um dos nossos mais importantes e promissores recursos, tem sido
sistematicamente descurado e, naturalmente, como tem sido secundarizado o
interesse pelas profissões marítimas. O mar e a economia do mar têm sido apenas um pretexto para propaganda em seminários e conferências. Os nossos governantes não têm interesse nem conhecimento e, portanto, não há motivação nem investimento. O Jornal de Notícias refere que
actualmente só a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que se localiza
em Paço de Arcos, está apta a formar marinheiros, mas que está com muitas vagas
por preencher. Este paradoxo acontece quando as profissões marítimas têm um
elevado grau de empregabilidade, designadamente na Marinha Mercante, nos navios
de cruzeiro e nas pescas, o que revela a enorme ignorância marítima de quantos
nos têm dirigido desde há muitos anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário