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Apesar de termos
muitas afinidades culturais com nuestros
hermanos, há que reconhecer que em muitas coisas, somos bem diferentes,
provavelmente porque os portugueses são mais temperados pelo mar e os espanhóis
são mais moldados por uma certa continentalidade. É fácil encontrar diferenças culturais
entre os povos peninsulares e uma delas está na percepção do fenómeno da
corrupção, que é encarado de forma diversa em Espanha e em Portugal.
Em Portugal há um
conjunto de factores sociológicos, políticos e jurídicos que bloqueiam o
tratamento deste tema no espaço público e, talvez por isso, as condenações por
corrupção são raríssimas e o “processo Face Oculta”, que o Tribunal de Aveiro
recentemente julgou, foi a excepção à regra. Todos “vemos, ouvimos e lemos”
situações de pequena e grande corrupção, incluindo casos de enriquecimento
ilícito ou de favorecimento ilegal, mas os jornais quase nunca falam deles,
muitas vezes a coberto do “segredo de justiça”. Assim, os casos de corrupção de
que o público tem notícia são raros e quase sempre ficam esquecidos nas gavetas
ou absolvidos nos tribunais por falta de provas. Assim aconteceu ou está a
acontecer com os casos Expo 98, Euro 2004, fundos comunitários, submarinos, PPP,
privatizações, BPN, BPP e BES, entre outros. Em Espanha as coisas correm de
forma diferente e os jornais tomam parte activa na denúncia dos casos de
corrupção que envolvem políticos, banqueiros, empresários, sindicalistas,
desportistas e muitos outras pessoas ditas famosas, não branqueando personalidades
como Jordi Pujol, Rodrigo Rato ou Inaki Urdangarin. Calcula-se que a corrupção
custa 10.000 milhões de euros anuais “robados cada año” aos espanhóis, isto é,
cerca de 1% do PIB mas, actualmente, há cerca de 1.700 processos em curso e estão
constituidos mais de cinco centenas de arguidos por crimes de corrupção.
De facto, os espanhóis
assistem estupefactos e indignados ao frequente aparecimento de casos de
corrupção que são transversais a toda a sociedade, mas vêem os seus nomes e as
suas caras nas capas dos jornais, como hoje aconteceu com o El
Correo de Bilbau e com o Las Provincias de Valência.
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