Há quem afirme
que o maior problema português da actualidade é a Demografia e, na minha
opinião, essas pessoas têm toda a razão. Na verdade, antes da Economia e das Finanças,
da dívida pública e do défice orçamental, o grande desafio nacional está no
nosso envelhecimento, na quebra brutal da natalidade, na emigração forçada de
cerca de 400 mil jovens entre 2011 e 2014 e na incerteza do que espera cada português nos dias do
futuro. Nos últimos anos, a intervenção da troika obrigou à revisão das leis
laborais e os nossos governantes, obcecados com a ideia de serem bons alunos e
de receberem alguns elogios do exterior, trataram de tudo aceitar, incluindo a
liberalização quase total dos despedimentos e a crescente precaridade do
trabalho, em nome da eficiência económica. Apesar do auto-elogio repetido até à
exaustão durante a campanha eleitoral pelos seguidores do governo, o país não
está melhor. A tentativa de resolver o problema estrutural das nossas finanças
públicas foi inconsequente e a dívida aumentou algumas dezenas de milhar de
milhões de euros. No aspecto social, a situação também é muito precária e a
pobreza tem aumentado para níveis que até há bem pouco tempo eram impensáveis,
como se vê nas ruas, nos autocarros e à porta dos supermercados.
Hoje o retrato
social (e económico) do nosso país quase atinge algum dramatismo. Como se já
não fosse grave a existência de cerca de 770 mil desempregados, o Jornal
de Notícias veio revelar que há mais 700 mil trabalhadores com
contratos a prazo e, ainda, 128 mil trabalhadores sem vínculo laboral, que são
pagos com recibos verdes. Como é que toda esta gente tem condições para fazer
uma vida digna, segura, estável e com condições para procriar? Os portugueses
têm um futuro muito incerto, mas os governantes ignoram-no ou nada fazem para o
resolver.
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