Apesar
de durante séculos termos trocado princesas com os espanhóis, o processo
histórico gerou uma enorme rivalidade entre os dois países ibéricos, que muitas
vezes se guerrearam e quase sempre viveram de costas um para o outro. Dizia-se
mesmo que de Espanha nem bom vento, nem bom casamento. A herança de Tordesilhas
que orientou os espanhóis para a América Latina e os portugueses para a África
e o Oriente, a juntar à vocação de cada um dos países, mais marítima a
portuguesa e mais continental a espanhola, acabou por determinar percursos
históricos distintos, embora muitas vezes bem mais próximos do que parece.
O
facto é que, actualmente, sob os pontos de vista demográfico e económico, mas
também sob o ponto de vista cultural, os dois países ibéricos têm um lugar
destacado no mundo, com os seus idiomas a serem falados por muitos milhões de
pessoas. Porém, os poderes hegemónicos europeus não têm compreendido essa
realidade e daí que esteja a nascer uma vontade ibérica de cooperação mais
efectiva, como reacção à arrogância do norte e do centro da Europa, que é independente
das cores partidárias que governam cada um dos países. Para além da vizinhança
geográfica, das raízes culturais comuns e da semelhança das suas crises
conjunturais, os dois países parecem querer afirmar-se cada vez mais como uma
comunidade de interesses e querem mostrar que a união faz a força. O tempo em
que os espanhóis nos consideravam demasiado pequenos e em que os portugueses
não esperavam de Espanha nem bom vento nem bom casamento, já pertence ao
passado. Republicanos ou monárquicos, mais à esquerda ou mais à direita, o
futuro ibérico passa por uma união de forças e de interesses.
Os
Reis de Espanha vieram visitar oficialmente Portugal e estão a ser recebidos
com um invulgar afecto por parte dos portugueses e o diário ABC
destaca na sua edição de hoje essa visita, fazendo referência exactamente a essa
necessária união de forças e de interesses ibéricos perante a Europa e a América.
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