Foi uma das
maiores tragédias que aconteceram em Portugal e, durante quatro dias, os
acontecimentos ocorridos no centro do país foram acompanhados com ansiedade e emoção.
As imagens falaram por si mostrando a brutalidade e a violência do inferno que nos
bateu à porta. Gerou-se uma onda de solidariedade nacional e internacional.
Elogiaram-se os que enfrentaram as chamas e agradeceu-se às centenas de pessoas
que estiveram no terreno. Repetiram-se as declarações dos políticos no sentido
de todos se concentrarem no controlo ou na extinção dos incêndios e de darem
todo o apoio às vítimas.
Embora os números
da tragédia não sejam comparáveis aos mais de 700 mortos pelas inundações na
região de Lisboa em 1967, as 64 vítimas já apuradas nos incêndios de Pedrógão
Grande e na estrada EN 236 são um número impressionante que nos atinge e nos
choca profundamente. A revista Visão dedicou um dossier especial a esta tragédia e refere "a bola de fogo" que "vinha por cima e caía sobre as pessoas". Foi realmente uma tempestade perfeita em que se conjugaram
condições meteorológicas excepcionais, com um ordenamento florestal que
continua por fazer, com uma desleixada gestão de floresta que não é limpa porque não gera rendimento
e com uma preocupante desertificação do território. Como sempre acontece nestes
casos, algumas dezenas de especialistas passaram pelas televisões a apontar
caminhos e soluções técnicas, que se espera tenham sido ouvidas pelos
políticos.
Aproximam-se
eleições e nos funerais das vítimas não têm faltado políticos, o que até pode parecer oportunismo. Têm sido alguns deles que, numa contínua insinuação, têm insistido
na necessidade de uma rápida averiguação a tudo o que se passou para apurar
responsabilidades. Eu também acho que deva ser assim. Porém, mesmo sob a capa
da comoção e do luto, muitos desses políticos não conseguem abster-se de procurar
dividendos políticos na tragédia que nos aconteceu e deixar no ar suspeitas
sobre a acção das autoridades. A hipocrisia de alguns políticos parece não ter
limites.
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