O desaparecimento
de Afonso Dhlakama ontem anunciado e que hoje é destacado no diário moçambicano
O
País, é um acontecimento importante para a história de Moçambique,
porque se trata de uma personalidade que levava 39 anos de liderança da Renamo
(Resistência Nacional Moçambicana), o principal partido político da
oposição moçambicana.
A Renamo foi
criada em 1975 por dissidentes da Frelimo e em 1979, quando os dois partidos já combatiam na guerra
civil, Afonso Dhlakama tornou-se o seu líder político e militar. A
guerra de guerrilhas que comandou contra as forças governamentais da Frelimo
durou 16 anos e, após prolongadas negociações conduzidas pela Igreja
moçambicana e pela Comunidade de Santo Egídio, com o apoio do governo italiano,
foi assinado em 1992 um Acordo Geral de Paz e foram anunciadas eleições para
1994, sob a supervisão das Nações Unidas. Afonso Dhlakama ganhou a batalha pela Democracia e participou depois em cinco eleições presidenciais, mas perdeu sempre para o candidato da
Frelimo: perdeu para Joaquim Chissano em 1994 e 1999 com 33,7% e 47,7% dos
votos; perdeu para Armando Gebuza em 2004 e 2009 com 31,7% e 16.4% dos votos e
perdeu para Filipe Nyusi em 2014 com 36,61% dos votos. Porém, estes resultados
revelam que tanto Dhjakama como a Renamo tinham espaço político e eleitoral em
Moçambique mas que, apesar disso, nunca perderam a ideia de unidade nacional e nunca ameaçaram com
quaisquer separatismos das províncias onde eram maioritários.
Os anos de 2013 e
2014 foram de grande tensão, tendo Afonso Dhjakama abandonado a capital e
começado a reorganizar as suas forças por considerar que o Acordo Geral de Paz
de 1992 não estava a ser cumprido, que o Estado estava descridibilizado pela
excessiva partidarização dos seus orgãos, que a Renamo estava a ser afastada da
esfera do poder e que muitos dos seus militantes eram perseguidos. Tudo parecia
correr agora de feição para Filipe Nyusi e para Afonso Dhlakama, no caminho para um renovada
parceria de paz e de progresso para Moçambique. O inesperado aconteceu. Dhlakama partiu. Todos
lhe prestam homenagem. Agora é preciso que as incertezas do futuro sejam
ultrapassadas.
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