Durante seu o discurso sobre o estado da Nação pronunciado
no dia 15 de Outubro na Assembleia Nacional de Angola, o Presidente José
Eduardo dos Santos anunciou o fim da intenção de estabelecer uma parceria estratégica
com Portugal, semelhante às que Angola tem com os Estados Unidos, a China e o
Brasil. Depois de ter salientado que
Angola tem relações estáveis com quase todos os países do mundo, afirmou que "só
com Portugal as coisas não estão bem” e acrescentou que têm surgido
incompreensões ao nível da cúpula e, por isso, o clima político actual não aconselha à
construção da parceria estratégica antes anunciada.
Porém, o Presidente
angolano não anunciou qualquer corte de relações com Portugal, nem sequer o fim
da prevista parceria estratégica, pois apenas se referiu à “cúpula” e ao “clima
político actual”, o que é um recado bem direccionado à incompetência e alguma
leviandade com que tem sido tratada a relação Portugal-Angola, que é bem mais
forte do que as circunstâncias políticas conjunturais. No entanto, os
interesses angolanos e portugueses estão em causa e, por isso, a forma de fazer
política deve ser repensada para proteger as centenas de empresas portuguesas
que têm negócios com Angola e os 150 mil portugueses que por lá trabalham, mas também
os legítimos interesses angolanos que se instalaram em Portugal. Perante as
dificuldades que atravessamos, Angola tem sido um importante ponto de apoio
para Portugal, mas Portugal também tem sido um paraíso para as elites
angolanas. É um jogo de interesses e de vantagens comuns, mas nesse jogo que
agora foi posto em causa, há que alterar comportamentos. Comecemos por corrigir
os comportamentos dos nossos políticos, dos nossos empresários e dos nossos
jornalistas para que “não vendam a alma ao diabo”, nem pactuem com
comportamentos económicos de menor transparência que, como sabemos, acontecem e
estão à vista em Portugal. Não sejamos como o Machete, nem como os muitos
machetes que andam cá e lá. Nos negócios, como na vida, não vale tudo. Foi essa
nossa fraqueza e, em muitos casos, subserviência, que deu força ao discurso do estado da Nação de José Eduardo dos
Santos.
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