As celebrações da
viagem iniciada em 1519 por Fernão de Magalhães para chegar às Molucas por
ocidente e que foi concluída por Juan Sebastián Elcano em 1522, continuam a
gerar alguma polémica em que se tem destacado o jornal conservador espanhol ABC
que, em 10 de Março de 2019, deu guarida e difundiu um dictamen da Real Academia de la História de España em que era
afirmado que “es incontestable la plena y exclusiva
españolidad” da primeira
volta ao mundo e que “todo en la 1ª vuelta al Mundo fue español”. Esta
visão ultranacionalista e errada da História até em Espanha foi condenada e se
escreveu que eram “actitudes aldeanas, típicas de
rivalidades de Villariba y Villabajo, dignas de un profundo estudio
antropológico”.
O assunto parecia ter serenado, não só por ser ridículo, mas também
porque os governos de Portugal e de Espanha acordaram em patrocinar celebrações
comuns. Porém, na sua edição sevilhana de hoje, o mesmo jornal ABC veio fazer a apologia de Sevilha como o “cabo Canaveral de la vuelta al
mundo”, fazendo uma analogia entre a viagem da Apollo 11 que há 50 anos levou o
homem à Lua e a viagem iniciada por Magalhães há 500 anos. Esta analogia até
pode fazer algum sentido para os conservadores espanhóis e para a promoção da
capital da Andaluzia, mas não tem nada de original porque a descoberta do mundo
sempre serviu para fazer comparações e para glorificar navegadores. Já em 1776
o economista Adam Smith escreveu que “a passagem do cabo da Boa Esperança por
Bartolomeu Dias e a chegada às Antilhas por Colombo foram os maiores e mais
importantes acontecimentos da História”, enquanto o filósofo inglês Arnold
Toymbee afirmou que a viagem de Vasco da Gama representou o início da era
gâmica, em que o ocidente e o oriente se uniram por mar. E há muitos mais
autores internacionalmente respeitados que têm utilizado as navegações oceânicas
portuguesas como o fenómeno que deu origem ao mundo global do nosso tempo.
Portanto, se assim o entenderem, os conservadores espanhóis até podem
escolher outros cabos canaverais não
só em Sevilha, mas também em Palos de la Frontera ou em Sanlúcar de Barrameda,
tal como podem trocar Colombo por Pinzón ou Magalhães por Elcano. O ridículo
não paga imposto.
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