terça-feira, 30 de junho de 2020

As armas de Tancos e os nossos justiceiros


No dia 27 de Junho de 2017 foi detectado um furto de material de guerra do Exército Português que se encontrava nos paióis nacionais de Tancos, o que revelou graves falhas de segurança e de fiscalização nesta unidade militar.
As investigações foram iniciadas debaixo de muitas críticas à instituição militar e, em especial ao Exército, mas o assunto transformou-se num escândalo nacional quando o material de guerra apareceu num descampado e se descobriu que a Polícia Judiciária Militar tinha encenado a sua recuperação acidental com os assaltantes dos paióis. O Ministério Público tomou então conta do processo e, como tantas vezes faz, passou a produzir informação seleccionada para o exterior através da comunicação social, antecipando julgamentos e condenações na praça pública. Como havia um ministro eventualmente envolvido no caso, o Ministério Público tratou, uma vez mais, de mostrar o seu poder e a sua importância nacional ao passar para a opinião pública a ideia da culpabilidade do ministro e a quase absolvição dos assaltantes. A instrução do processo foi muito demorada e, naturalmente, custou muito dinheiro aos contribuintes portugueses. Quando, recentemente, interrogaram o primeiro-ministro e antigo ministro da Justiça sobre este assunto, este referiu-se com ironia ao caso dizendo que até parece que “o crime verdadeiramente grave não foi o roubo das armas, o crime verdadeiramente grave foi recuperar as armas”. Parece que os magistrados não gostaram desta declaração, segundo revela hoje o jornal i. É lá com eles. Eu gostei do que disse o nosso primeiro-ministro, até porque já me tinha parecido que o problema para o Ministério Público era o ministro e não os assaltantes, o que mais uma vez me faz ter dificuldade em suportar este tipo de justiceiros e desconfiar da justiça que querem fazer.

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