No passado domingo o primeiro-ministro anunciou a
saída do programa de assistência financeira (PAEF) sem “recorrer a qualquer
programa cautelar” e garantindo que essa solução tinha o apoio dos parceiros
europeus, exactamente os mesmos que durante três anos alinharam numa continuada
humilhação aos portugueses e não revelaram qualquer tipo de solidariedade. A saída limpa do
PAEF foi tão boa, quanto a entrada no mesmo PAEF tinha sido má. Quer na entrada,
quer na saída estiveram exactamente os mesmos protagonistas. Valeu a pena?, perguntaria Fernando
Pessoa.
O governo alinhou-se em pose apropriada para ouvir o nosso primeiro. O foguetório das
hostes governamentais foi enorme. A independência nacional foi recuperada. O
1640 de Portas concretizou-se. Por essa Europa fora toda a gente fez
declarações – o amigo Barroso e o Olli Rehn, a Madame Lagarde, os mercados, o Jeroen Dijsselbloem, o candidato Martin Schulz, o reformado Jean-Claude Trichet, vários comissários europeus, o homem da OCDE e
muito mais gente. Até o homem de Belém se esqueceu que há um mês defendia outra
solução e entrou nestes verdadeiros jogos florais. É que temos eleições à porta
e, por isso, até o descontrolado Rangel rejubilou. Porém, há gente mais
comedida e, sabe-se agora através do Expresso,
que o BCE resistiu à saída limpa pois tem muitas dúvidas sobre a situação de
Portugal, afirmando que ela foi motivada por razões políticas. Também a OCDE veio
avisar que a escolha do governo por uma saída sem recurso a um programa
cautelar é arriscada. A imprensa europeia não deu importância ao tema, salvo o Financial Times que, na sua primeira
página, lhe dedicou uma breve referência de 25 palavras com o título
“Portugal’s clean exit”.
No meio de todo este foguetório de propaganda, durante
a inauguração de um museu dedicado aos Descobrimentos,
o nosso primeiro veio dizer
que Portugal “vai mostrar ao mundo que não precisa de tutela externa”. Ora aí
está! Uma descoberta, no Museu das Descobertas, a revelar que quase chegamos ao grau zero da submissão.
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