As relações de
Portugal com a União Europeia evoluiram num sentido que é lamentável, pois a humilhação
e a perda de soberania já envergonham um país com nove séculos de história.
Os portugueses votaram no dia 4 de Outubro e fizeram uma escolha política que vai em
sentido diferente da receita única de austeridade que
vigorou desde o início da crise do euro e tão maus resultados teve, não só em
Portugal, mas também nos outros países do Sul da Europa. Como é natural, em
função das suas promessas eleitorais e dos acordos parlamentares realizados, não
era de esperar que o novo governo preparasse um Orçamento do Estado de mera
continuidade em relação ao anterior. Porém, quando o governo enviou para Bruxelas
o esboço desse mesmo Orçamento, de imediato apareceram muitas críticas,
quase todas no mesmo sentido. O Orçamento ficou sob "fogo cerrado" como titulou o Diário Económico. A Comissão Europeia veio dizer que o esboço não
cumpria alguns critérios obrigatórios e, depois, foi o Conselho
de Finanças Públicas, a UTAO e algumas agências de rating a deixar ameaças. Alguns partidos políticos que
ainda não engoliram a sua derrota parlamentar e muitos comentadores rejubilaram
com esta situação porque, dominados por uma cegueira ideológica, ainda não
perceberam que não podemos estar de cócoras perante os mercados, as agências de
rating e os burocratas de Bruxelas,
que ninguém elegeu e ninguém sabe quem são. Tenhamos vergonha! Tenhamos dignidade!
Até à sua
aprovação pela Assembleia da República o Orçamento é um documento aberto e
susceptível de alterações. Não é aí que está o problema e não são os números,
nem o carácter das previsões mais ou menos optimistas que estão em causa. O que
está em causa é uma prática cada vez mais arrogante da Comissão Europeia e dos seus aliados internos, que
se mostra incapaz de resolver os gravíssimos problemas que estão a ameaçar a
coesão económica e social europeia, que se cala perante os comportamentos
orçamentais franceses e italianos e que se atira a Portugal, entre outras
coisas ridículas porque prevê um crescimento de 2,1%, quando aceitara um crescimento de
2,0% do anterior governo.
O caminho seguido
nos últimos anos empobreceu o país, aumentou a dívida e desertificou o
território. Votamos noutra coisa. O governo garante que os compromissos
eleitorais e os acordos parlamentares são para cumprir, ao mesmo tempo que
negoceia com a Comissão Europeia o esboço de Orçamento para 2016. Esperemos que António Costa chegue a bom porto.
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