O período de crise por que passamos aconselha muita prudência na tomada de decisão porque, embora ela seja indispensável para resolver os nossos graves problemas, não pode ser feita cegamente. Há que não semear ventos...
Um recente relatório da Comissão Europeia que analisa o impacto dos efeitos das medidas de austeridade em seis países com dificuldades - Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido - salienta que, no que respeita à distribuição de riqueza, Portugal “é o único país com uma distribuição claramente regressiva”, ou seja, o país em que os pobres estão a pagar mais do que os ricos nas medidas de austeridade. Além disso, o estudo revela que é o único país em que “a percentagem do corte é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes”.
Estes factos revelados pelo relatório da Comissão Europeia são alarmantes, mas estão em linha com aquilo que todos sentimos no nosso quotidiano: o abrandamento da actividade económica, o desemprego, a insegurança nas ruas e a desorientação social.
O poder político sempre afirmou pretender ir mais longe do que aquilo que acordou com a troika e, para isso, tem feito todos os exercícios de aritmética contabilística, mas tem esquecido o essencial: as pessoas. Muitas das suas medidas revelam insensibilidade social e têm conduzido ao empobrecimento, à descrença e à ameaça da fragmentação social. A governação continua a dar maus exemplos, com a promiscuidade entre interesses públicos e privados e com o clientelismo instalado em força. Se havia uma expectativa de mudança na cultura de poder, já se perdeu. A nossa governação está a semear ventos e a alimentar o populismo, a revolta e a implosão social, com a sua cegueira contabilística, os seus negócios suspeitos e agora com as suas nomeações.
Depois disto tudo, veio o nosso primeiro garantir que, nas recentes nomeações, a preocupação não foi nomear pessoas do cartão, nem amigos. Porque não tenho cartão nem sou amigo deles, ainda posso ter esperança de também vir a ser nomeado para um cargo qualquer.
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