Durante cerca de uma semana o ministro Portas deambulou pela China e, qual Fernão Mendes Pinto, andou peregrinando “por esse rio acima”, a chefiar uma comitiva aparentemente numerosa mas cuja composição não foi divulgada, lutando bravamente pelo interesse nacional – vender empresas e produtos, atrair investimentos e turistas. Foi uma estrela, um verdadeiro artista! Simultaneamente, ele era o ministro, o condottieri, o técnico de marketing, o estratega, o negociante, o animador, o elo de ligação entre o Ocidente e o Oriente e o “especialista a resolver problemas”, como a si próprio se classificou. A RTP, que nós pagamos, acompanhou-o e deu-lhe a visibilidade interna que ele ambicionava. O seu currículo ficou mais rico e mais internacional. Os chineses ficaram certamente impressionados com o estadista lusitano e com as suas ideias inovadoras, sobretudo quando ele descobriu que Macau pode ser uma plataforma de promoção de Portugal na China, uma coisa que nunca tinha sido antes descoberta. Porém, esquecendo que Macau já não está sob administração portuguesa, ei-lo a sugerir o envolvimento das autoridades da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China no encaminhamento do turismo chinês para Portugal, ao afirmar que "Portugal tem que fazer, com a colaboração das autoridades de Macau, um esforço especialmente relevante junto da promoção turística aqui em Macau". Genial. Sobre a viagem da sua comitiva à China, o ministro disse que “cumpriu completamente os objectivos que tinha” e acrescentou que “confirmou a parceria estratégica entre a China e Portugal”. Na sua obsessão por regressar à Pátria com uma folha inteira de bons serviços, quase ignorou aqueles que por aquelas terras longínquas asseguram quotidianamente a preservação da língua e da cultura portuguesas. O jornal macaense Hoje Macau reagiu a essa desconsideração e denunciou que “Portas só vê cifrões”. Os portugueses de Macau e, naturalmente, a sabedoria chinesa ainda devem estar a rir-se deste xico-esperto.
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