O desaparecimento
de Nelson Mandela obriga-nos a uma reflexão sobre a vida do homem e do legado
político de tolerância e de apaziguamento que deixou ao seu país, ao continente
africano e ao mundo, porque ele foi um exemplo e hoje estamos carentes de exemplos como o que ele nos deu. É isso o que está a ser feito por todo o mundo e, nesse aspecto, não
somos excepção e até tivemos o privilégio de ter ouvido o depoimento de alguns
portugueses que o conheceram e com ele conviveram. Nessa reflexão,
tem sido recordada a 77ª sessão plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas
realizada no dia 20 de Novembro de 1987 em foi aprovada a Resolução A/RES/42/23
(G) sobre a acção internacional a desenvolver para a eliminação do apartheid, que o condena expressamente e
que, no seu ponto 4, insta o governo sul-africano a “release immediately and unconditionally Nelson Mandela and all other
political prisioners, detainers and restricters”. Soube-se agora pela imprensa que essa
Resolução das Nações Unidas foi aprovada com 129 votos a favor e 23 abstenções,
tendo havido apenas três países que votaram contra: os Estados Unidos de Ronald
Reagan, o Reino Unido de Margareth Tatcher e o Portugal de Cavaco Silva.
Estávamos em Novembro de 1987 e o
mundo pressionava a África do Sul para libertar Nelson Mandela, o que só aconteceu cerca de 27 meses depois, em Fevereiro de 1990, perante a indiferença
ou mesmo a não aprovação do governo português.
Agora, o mesmo
homem que deu instruções para se votar contra a libertação de Nelson Mandela e que nada fez para
que fosse libertado, escreve que ele “deixa
um extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações” e
que “o exemplo de coragem política, a sua estatura
moral e a confiança que depositava na capacidade de reconciliação constituem
verdadeiras lições de humanidade”. Como é possível tanta hipocrisia
política e esta enorme cambalhota do Aníbal?
Afinal, pelo que hoje é esclarecido em alguns jornais, não foi exactamente assim. Por isso me penitencio.
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