Folga na austeridade? Só contaram pra você... |
O governo
apresentou ontem à tarde a sua proposta de Orçamento do Estado para 2015 e as
reacções dos partidos do governo e da oposição foram, naturalmente,
assimétricas e esperadas. Na falta do próprio documento e do tempo necessário
para o interpretar, os cidadãos só podem recorrer à imprensa, onde encontram as
mais diversas reacções expressas nos títulos de primeira página que escolheram
e que são curiosos. O Jornal de Notícias
diz que “cada um de nós vai pagar mais 175 euros de impostos”; o Público escreve que há “austeridade para
a maioria, alívio só para alguns”; o Diário
de Notícias explica “como a carga fiscal vai subir em 2015” e até o Diário Económico salienta a “austeridade
eleitoral”. Só o Jornal de Negócios,
travestido de jornal independente, se compromete com o discurso governamental e
escreve “folga na austeridade”.
Este título
traduz a linha do discurso oficial do governo, isto é, que a economia vai
crescer 1.5% e que o próximo ano vai representar o início da recuperação,
esquecendo que os ventos de nova crise já sopram por essa Europa. Apesar da generalidade da
comunicação social anestesiar diariamente os portugueses e de lhes querer fazer
passar a ideia de que estamos no bom caminho, o facto é que a nossa dívida
passou de 97% para 130% do PIB, que os ricos estão cada vez mais ricos e que há
cada vez mais pobres, que não há investimento nem criação de emprego, que a
Educação e a Justiça não funcionam e que passamos por níveis de confiança
demasiado baixos. Assim, a proposta de Orçamento que a maioria vai aprovar,
parece manter as escolhas políticas que tão maus resultados têm dado,
representando mais um dos habituais arranjos contabilísticos do governo, que
corta aqui e repõe ali, para que tudo fique na mesma. Depois, há-de vir mais um
Orçamento rectificativo, coisa em que o actual governo é um campeão digno do Guiness, porque desde que chegou ao
poder no dia 21 de Junho de 2011, já lá vão exactamente oito (8). Agora, com
este orçamento que parece tão irrealista, a seu tempo hão-de aparecer os
habituais rectificativos.
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