A revista mensal francesa L’Histoire
dedica o seu último número aos curdos – mil anos sem Estado - e centra a sua
análise num povo que tem uma identidade, uma língua, uma literatura e uma
história, que ocupa um território muito extenso mas pouco definido, mas que não
tem o seu próprio Estado. O Curdistão é a maior nação do mundo sem Estado e os
cerca de 30 milhões de curdos distribuem-se pela Síria, Iraque, Irão e Turquia.
Depois da 1ª Guerra Mundial e da derrota do Império Otomano os territórios do
Médio Oriente dominados pelo sultão turco foram divididos, surgindo novos
países como a Síria, o Líbano e a Palestina, mas os vencedores da guerra terão
hesitado na criação de mais um país soberano e não criaram um Estado curdo.
Porém, a ambição de serem independentes nunca
abandonou os curdos e ao longo de muitos anos têm desenvolvido grandes lutas
para atingir esse objectivo, apesar da repressão de que têm sido vítimas, sobretudo
pelo regime iraquiano de Sadam Hussein e, mais recentemente, pelo regime turco
de Recep Tayyip
Erdoğan. Nos tempos conturbados que afectam a região, os curdos têm sido os principais adversários
do Daesh no terreno, através da acção do Partido dos Trabalhadores do Curdistão
(PKK) e das Unidades de Defesa do Povo (YPG) constituídas pelos peshmerga – os combatentes curdos “que enfrentam a
morte”. Os peshmerga constituem as forças armadas
do Curdistão, existem desde a queda do Império Otomano, incluem mulheres nas
suas fileiras e são a expressão militar dos sentimentos independentistas curdos.
Têm estado na linha da frente na luta contra o Daesh, como se verificou na
defesa da cidade fronteiriça de Kobani, defendida sobretudo pelas Unidades de
Defesa das Mulheres (YPJ) e como se verifica hoje no assalto a Mossul. A
revista L’Histoire reconhece a importância e o valor dos peshmerga ao referir que “la bataille de
Mossoul a commencé lundi 17 octobre quand les forces kurdes ont attaqué la
ville irakienne fief de l’état islamique”.
Certamente que, quando a chamada guerra da
Síria terminar, a comunidade internacional não deixará de reconhecer o povo
curdo como soberano e o Curdistão como um Estado.
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