A revista do Expresso
publicou na sua última edição uma longa e muito interessante entrevista com
António Ramalho Eanes, o primeiro Presidente da República eleito pelo regime
democrático quando tinha apenas 41 anos de idade.
É uma entrevista
notável do homem que ocupou o Palácio de Belém entre 1976 e 1986 num tempo de
grandes dificuldades políticas, económicas e sociais, na qual revela a sua inteligência, a sua sabedoria e a sua
grande estatura intelectual na abordagem dos mais diversos temas nacionais e
internacionais.
O conteúdo da
entrevista só me merece uma palavra: imperdível.
Apesar de Mário
Soares (1986-1996) e Jorge Sampaio (1996-2006) terem cumprido mandatos
presidenciais merecedores de grande apreço por parte dos portugueses, o facto é
que a figura e o desempenho presidencial de Ramalho Eanes permanecem vivos na
memória dos portugueses e a leitura desta sua entrevista mostra porquê. “Estou em paz comigo
mesmo. Posso ter cometido erros mas entendo que os cometi quase sempre com bom
propósito, boa intenção, com uma correcção ética preocupada”.
Ao longo da
entrevista o general Ramalho Eanes responde com segurança e pertinência às
questões que lhe são colocadas no domínio da vida política nacional, dos
partidos, dos sindicatos, das Forças Armadas, da reforma educativa, da reforma
fundiária, do endividamento dos portugueses, da moeda única, da União Europeia,
das consequências do Brexit, da política internacional e de muitos outros
assuntos internos e internacionais. Está esperançado, mas também preocupado com
o futuro porque “a paz mundial não está garantida”. Elogia a solução política
actual por ter quebrado o princípio da inevitabilidade, porque “não há
inevitabilidades e quem escreve o futuro são os povos”. Com grande verticalidade
e sem complexos, afirmou que “socialmente sou um homem de esquerda”, porque
defende a igualdade e a solidariedade.
Em síntese, é uma
entrevista notável de um homem notável, que deve ser lida atentamente.
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