Na próxima noite
o nosso calendário vai deixar cair o ano de 2018 e abre a página do novo ano de
2019. Como sempre, as nossas televisões irão mostrar o fogo de artifício em
Sydney, mais algumas corridas de São Silvestre e tratarão de mandar os seus
estagiários para a porta do Hospital de São José para saber o nome da primeira
criança que vai nascer no novo ano. Há dias, esses mesmos estagiários ao
serviço das suas televisões, andaram pela estação de Santa Apolónia a
entrevistar emigrantes que tinham vindo passar o Natal a Portugal para saber
das suas emoções ou andaram pelas ruas de Coimbra a interrogar os transeuntes
que tinham deixado as compras de Natal para a última hora. Tudo notícias bem
dignas de uma renascida Gazeta das
Aldeias, desta vez em formato televisivo.
É realmente
lamentável o estado de decadência a que, no campo da sua função noticiosa,
chegaram as nossas televisões, porque simplesmente não dão notícias e estão
instrumentalizadas pela mediocridade e pelo provincianismo. Todas, sem
excepção, alinham no mesmo grau de vulgaridade e ninguém percebe o que fazem
aqueles que nas redacções se dizem jornalistas. Os directos são fantasias de
estagiários sem qualquer interesse, em que não há respeito pela privacidade de
ninguém e vale tudo em nome do espectáculo. As discussões sobre futebol são uma
verdadeira obscenidade televisiva, tal como as ridículas conferências de
imprensa dos treinadores de futebol. Os debates políticos com os comentadores
residentes parecem combinados e são uma tortura para o telespectador. Os
comissários políticos estão cada vez mais infiltrados na programação televisiva,
por vezes disfarçados de pivots de telejornais. O noticiário internacional
quase não existe ou aparece como informação marginal, enquanto o noticiário
cultural ou científico desapareceu. É triste e desmoralizante ver e ouvir os
longos noticiários destas gazetas das
aldeias e o seu rol de banalidades, alimentadas por redacções que não
querem investigar, em que as pseudo-notícias são repetidas dezenas de vezes ao
longo do dia e que são lidas por papagaios como se fossem novidade. As nossas
televisões são, cada vez mais, uma tragédia cultural. E, como dizia o outro,
mais não digo...
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