segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

As televisões são as gazetas das aldeias

Na próxima noite o nosso calendário vai deixar cair o ano de 2018 e abre a página do novo ano de 2019. Como sempre, as nossas televisões irão mostrar o fogo de artifício em Sydney, mais algumas corridas de São Silvestre e tratarão de mandar os seus estagiários para a porta do Hospital de São José para saber o nome da primeira criança que vai nascer no novo ano. Há dias, esses mesmos estagiários ao serviço das suas televisões, andaram pela estação de Santa Apolónia a entrevistar emigrantes que tinham vindo passar o Natal a Portugal para saber das suas emoções ou andaram pelas ruas de Coimbra a interrogar os transeuntes que tinham deixado as compras de Natal para a última hora. Tudo notícias bem dignas de uma renascida Gazeta das Aldeias, desta vez em formato televisivo.
É realmente lamentável o estado de decadência a que, no campo da sua função noticiosa, chegaram as nossas televisões, porque simplesmente não dão notícias e estão instrumentalizadas pela mediocridade e pelo provincianismo. Todas, sem excepção, alinham no mesmo grau de vulgaridade e ninguém percebe o que fazem aqueles que nas redacções se dizem jornalistas. Os directos são fantasias de estagiários sem qualquer interesse, em que não há respeito pela privacidade de ninguém e vale tudo em nome do espectáculo. As discussões sobre futebol são uma verdadeira obscenidade televisiva, tal como as ridículas conferências de imprensa dos treinadores de futebol. Os debates políticos com os comentadores residentes parecem combinados e são uma tortura para o telespectador. Os comissários políticos estão cada vez mais infiltrados na programação televisiva, por vezes disfarçados de pivots de telejornais. O noticiário internacional quase não existe ou aparece como informação marginal, enquanto o noticiário cultural ou científico desapareceu. É triste e desmoralizante ver e ouvir os longos noticiários destas gazetas das aldeias e o seu rol de banalidades, alimentadas por redacções que não querem investigar, em que as pseudo-notícias são repetidas dezenas de vezes ao longo do dia e que são lidas por papagaios como se fossem novidade. As nossas televisões são, cada vez mais, uma tragédia cultural. E, como dizia o outro, mais não digo...

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