O Carnaval de
2020 já lá vai e através da televisão pudemos ver, no país e no estrangeiro,
alguns desfiles de elevada estética decorativa em termos de indumentárias, de carros alegóricos e de participação artística, sempre com muito entusiasmo popular,
embora quase sempre constituam
representações que apenas pretendem atrair o turismo.
O Carnaval também
é assim em Portugal e, cada vez mais, é uma indústria que alguns pretendem seja
uma indústria cultural. Porém, muitas das representações que nos são servidas
de Loulé, de Ovar ou de Torres Vedras, para apenas citar alguns carnavais de
maior notoriedade nacional, misturam situações de reconhecida criatividade,
humor e alegria, com exibicionismos de muito mau gosto, como se o Carnaval
fosse um passaporte para a vulgaridade e para a foleirice.
Há, contudo, um
Carnaval que tem o meu vivo aplauso. Festeja-se na ilha Terceira e dele deu
ontem notícia o Diário Insular que se publica em Angra do Heroísmo, embora o jornal pudesse ter escolhido uma fotografia mais feliz para a capa.
As danças e bailinhos da ilha Terceira são o ponto central do Carnaval terceirense e mobilizam
milhares de pessoas por toda a ilha, numa demonstração de genuíno entusiasmo
popular. Formam-se dezenas de grupos de músicos e actores amadores que, desde sábado
a terça-feira de Carnaval, percorrem a ilha apresentando-se continuamente num espectáculo que dura cerca de uma hora em
cerca de quatro dezenas de salas, onde a entrada é gratuita e
onde a população se diverte pela cenografia e pelos conteúdos de crítica social
que são apresentados.
O gosto pelas danças e bailinhos da ilha Terceira tem
aumentado significativamente nos últimos anos e são frequentes as presenças de
grupos que se deslocam dos Estados Unidos e do Canadá para apresentarem os seus
bailinhos. É realmente uma festa única que os terceirenses reivindicam como património da criatividade do povo. O reconhecimento vem a caminho, pois está
em curso uma consulta pública para o registo das Danças, Bailinhos e Comédias do Carnaval da Ilha Terceira no Inventário
Nacional do Património Cultural Imaterial… que vai ser bem sucedida, naturalmente.
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