sábado, 13 de junho de 2020

A ignorância que fomenta o vandalismo


A edição de hoje do jornal Daily Express destaca, tal como fazem outros jornais britânicos, a decisão das autoridades londrinas de entaipar a estátua de Winston Churchill para evitar a sua vandalização pelos verdadeiros bandos de ignorantes que, embora agitem a bandeira da luta contra o racismo, lançam a desordem nas ruas e destroem monumentos e estátuas.
Os monumentos e as estátuas, tal como a toponímia urbana, fazem parte da paisagem cultural das cidades e enaltecem pessoas ou situações que se destacaram em certos momentos históricos, mas que o processo contínuo de evolução da humanidade tem desvalorizado, ou mesmo, tem condenado. As grandes mudanças políticas e sociais são sempre acompanhadas por esses fenómenos de rejeição. Assim sucedeu com a Revolução Francesa que destruiu muitos símbolos do Ancien Régime, mas preservou o essencial do património construído; com a Alemanha que apagou a memória nazi das suas praças e ruas, mas não destruiu a obra arquitectónica que sobreviveu aos bombardeamentos aliados; com a Rússia bolchevique que se desfez apenas da parte menos artística da herança dos Romanoff; com a nova república portuguesa que retirou a coroa do escudo nacional e esqueceu por algum tempo os Braganças.
Significa que as mudanças políticas e sociais nunca apagam toda a História. Por isso, a onda anti-racista que está a atravessar a América e a Europa, embora tenha um fundamento justo, não deve exceder-se com exibições de ignorância e de fundamentalismo, que tendem a gerar efeitos opostos aos que pretendem. A destruição de monumentos e de estátuas não contribui para combater o racismo, embora esses símbolos possam ser um ponto de partida para uma discussão que possa alterar comportamentos. A vandalização das estátuas de Lincoln ou do Padre António Vieira só pode acontecer por ignorância e a ameaça que obrigou a entaipar a estátua do "homem que salvou a Grã-Bretanha" e o mundo da barbárie nazi é a expressão de um fundamentalismo intolerável que desconhece o que é a História.

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