domingo, 27 de dezembro de 2020

Bispo de Pemba e guerra em Cabo Delgado

A província moçambicana de Cabo Delgado tem vivido em estado de guerra desde 2017 e como resultado da acção armada de grupos insurgentes estão contabilizados dois mil mortos e 600 mil deslocados. As raízes do conflito são complexas mas parecem assentar em sérias divergências com um governo que se encontra a 2.500 quilómetros de distância e que tem revelado incapacidade para discutir a situação e para ajudar os que precisam, optando por uma abordagem essencialmente militar e parecendo esquecer a componente religiosa do conflito. No litoral de Cabo Delgado o islamismo está implantado há muitos séculos e do actual descontentamento tem resultado a progressiva radicalização no terreno, com ideologias e práticas jihadistas inspiradas pelas suas ligações à umma regional e global. Por outro lado, a riqueza local em gás natural e outros recursos é também uma variável importante neste conflito e o Estado Islâmico, que inicialmente não se terá envolvido na insurgência, parece que desde há alguns meses passou a dominar a actuação dos grupos armados insurgentes. 
As Nações Unidas e o Papa têm referido as suas preocupações, sobretudo em relação aos deslocados, calculando-se que na cidade de Pemba se encontrem cerca de 150 mil pessoas deslocadas e em deficientes condições humanitárias. É nesse contexto que D. Luiz Fernando Lisboa, o missionário brasileiro que é Bispo de Pemba, se tem erguido com uma das vozes mais críticas do governo moçambicano pela sua inoperância na abordagem deste conflito, na denúncia do radicalismo e das violações de direitos humanos que ocorrem no terreno e pelo seu trabalho na ajuda e protecção dos deslocados que fugiram do mato. 
Há uma semana o Bispo de Pemba foi recebido em prolongada audiência pelo Papa Francisco e agora o semanário independente Savana, que se publica em Maputo, escolheu-o como “a nossa figura do ano”, por ser “a voz da tragédia de Cabo Delgado”. Daqui de muito longe, recordamos a antiga cidade de Porto Amélia, achamos que o semanário escolheu bem e daí o nosso aplauso. 

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