Ontem publicamos
aqui um texto sobre a anunciada aliança estratégica entre os Estados Unidos, o
Reino Unido e a Austrália, a partir de uma notícia publicada pelo Financial Times. Essa notícia é
divulgada hoje pela imprensa mundial, que enfatiza esta “coligação contra o
expansionismo chinês”, enquanto a imprensa francesa destaca o cancelamento da
encomenda australiana de doze submarinos ao Naval Group, num contrato com o valor
de 56 mil milhões de euros.
A França está em
estado de choque com esta notícia, sente-se apunhalada pelas costas e os
títulos da imprensa são eloquentes: “l’Amérique torpille la France” (Le Parisien) e “Le contrat du siècle
torpillé” (Le Télégramme), enquanto
um outro jornal nos explica “comment un contrat de 56 milliards est tombé à
l’eau” (Le Dauphiné). O jornal La
Dépêche du Midi, cuja capa escolhemos para ilustrar o presente texto,
escreve “quand l’Australie torpille la France”.
A França sente-se
torpillée e traída por aqueles que
julgava seus aliados. Já havia uma “guerra comercial e tecnológica” entre a
Europa e os Estados Unidos, protagonizada sobretudo pela concorrência entre a
Airbus e a Boeing, mas esta aliança abre um novo período de tensão comercial e
diplomática entre europeus e americanos. A França sente-se humilhada no seu
orgulho e nos seus interesses económicos e comerciais e, certamente, vai reagir
sobretudo em relação ao seu vizinho Boris Johnson, que veio confirmar que tem
muito pouco de europeu.
Porém, este episódio
vem tornar mais claro que os interesses da Europa, bem como os fundamentos das
suas alianças, nomeadamente na NATO, já não são coincidentes com os dos Estados
Unidos. Amigos, amigos, negócios à parte.
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