O Presidente da
República de Portugal gosta de ser apreciado interna e externamente e não perde
nenhuma oportunidade. Agora foi em visita oficial à Índia porque assim o exige
a sua função de representação e essa visita tem que ser vivamente saudada.
Embora não estejam isentos de controvérsias, os laços históricos entre os dois países
são muito antigos e o facto é que em algumas regiões da Índia, nomeadamente na
costa do Concão, há fortes sinais da herança cultural portuguesa. Porém, nas
visitas que os portugueses fazem à Índia, o ponto central é sempre Goa e com a
visita do Presidente da República, não poderia ter sido diferente.
Goa foi a capital
do Estado da Índia e, no século XVI, “governava” a navegação e o comércio da
orla do oceano Índico desde Moçambique até à China. Seguiram-se cerca de quatro
séculos de “presença” que deixaram um património construído de raíz religiosa e
militar mas, sobretudo, uma presença cultural que tem resistido à indianização.
Hoje, a matriz cultural portuguesa e em especial a língua portuguesa, estão em
acelerado retrocesso e são pouco mais do que uma memória. O português nunca foi
a língua franca de Goa e agora está realmente a desaparecer, até porque as
novas gerações não encontram nela qualquer sentido de utilidade. No entanto, as marcas lusas estão lá e, como disse o Presidente, "ninguém percebe bem o que é ser português sem vir a Goa". É realmente assim.
A visita
presidencial foi, naturalmente, uma visita de afectos às poucas centenas de "portugueses de Goa" e das selfies de que tanto gosta, mas seria desejável que se fizesse mais do que tem sido
feito para assegurar que a memória portuguesa não se perdesse em Goa. E há
muito para fazer, desde a protecção religiosa que por vezes parece ameaçada
pelas hostes mais radicais do partido de Narendra Modi, até à desburocratização
das actividades consulares em que a obtenção de um visto turístico exige uma
ilimitada paciência de quem o procura.
Finalmente,
porque tudo é pago com os meus impostos, volto a perguntar porque razão o
Presidente se faz acompanhar de tanta gente nestes passeios que não são nada
baratos.
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