segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Outra viagem presidencial, agora à Índia


O Presidente da República de Portugal gosta de ser apreciado interna e externamente e não perde nenhuma oportunidade. Agora foi em visita oficial à Índia porque assim o exige a sua função de representação e essa visita tem que ser vivamente saudada. Embora não estejam isentos de controvérsias, os laços históricos entre os dois países são muito antigos e o facto é que em algumas regiões da Índia, nomeadamente na costa do Concão, há fortes sinais da herança cultural portuguesa. Porém, nas visitas que os portugueses fazem à Índia, o ponto central é sempre Goa e com a visita do Presidente da República, não poderia ter sido diferente.
Goa foi a capital do Estado da Índia e, no século XVI, “governava” a navegação e o comércio da orla do oceano Índico desde Moçambique até à China. Seguiram-se cerca de quatro séculos de “presença” que deixaram um património construído de raíz religiosa e militar mas, sobretudo, uma presença cultural que tem resistido à indianização. Hoje, a matriz cultural portuguesa e em especial a língua portuguesa, estão em acelerado retrocesso e são pouco mais do que uma memória. O português nunca foi a língua franca de Goa e agora está realmente a desaparecer, até porque as novas gerações não encontram nela qualquer sentido de utilidade. No entanto, as marcas lusas estão lá e, como disse o Presidente, "ninguém percebe bem o que é ser português sem vir a Goa". É realmente assim.
A visita presidencial foi, naturalmente, uma visita de afectos às poucas centenas de "portugueses de Goa" e das selfies de que tanto gosta, mas seria desejável que se fizesse mais do que tem sido feito para assegurar que a memória portuguesa não se perdesse em Goa. E há muito para fazer, desde a protecção religiosa que por vezes parece ameaçada pelas hostes mais radicais do partido de Narendra Modi, até à desburocratização das actividades consulares em que a obtenção de um visto turístico exige uma ilimitada paciência de quem o procura.
Finalmente, porque tudo é pago com os meus impostos, volto a perguntar porque razão o Presidente se faz acompanhar de tanta gente nestes passeios que não são nada baratos.

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