António Guterres,
o secretário-geral das Nações Unidas, esteve ontem em Moscovo e amanhã vai
estar em Kiev. Numa altura em que quase só se fala de guerra e em que há quem
deseje a sua continuação, havendo mesmo quem considere que já estamos numa
terceira guerra mundial, o sofrimento e a dor do povo ucraniano parecem
esquecidos e não se vêm diligências suficientes para conseguir um cessar-fogo
que permita negociar a paz. Tem-se verificado, inclusive, um agravamento das
ameaças e dos discursos provocatórios, numa escalada belicista irresponsável em
que a Europa se deixou envolver, como subalterna de uma outra disputa. Por
isso, o esforço de António Guterres “para salvar vidas” ou para abrir caminhos
para a paz, deve ser saudado, tal como os repetidos apelos à paz lançados pelo
Papa Francisco.
Todos os
principais jornais portugueses publicaram a fotografia de Putin e Guterres no
Kremlin à volta da grande mesa oval e separados por seis metros, mas apenas
porque o secretário-geral é português. Na imprensa estrangeira, essa fotografia
não foi publicada, o que significa que a missão de paz de António Guterres está
a ter menos importância do que as deslocações de Antony Blinken e de Lloyd
Austin, que foram a Kiev anunciar mais apoio financeiro para, segundo disse
Austin, “enfraquecer a Rússia ao ponto de já não ser capaz de invadir a
Ucrânia”. Do outro lado, a réplica de Putin também é ameaçadora ao dizer que
responderá com um ataque “relâmpago” a qualquer ingerência estrangeira na
Ucrânia. Entre todas estas e outras preocupantes e até assustadoras declarações, há que saudar a
missão de António Guterres e desejar-lhe que consiga progressos nos caminhos da
paz.
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