O jornal La
Croix publica-se em Paris e é um dos grandes jornais franceses de circulação nacional, afirmando-se com uma linha editorial que se diz imparcial nas
questões políticas e sociais, mas que tem posições próximas da Igreja Católica.
Na sua edição de
hoje, o jornal apresenta um mapa de França rasgado e com os sinais de estar a
ser cosido, tendo por legenda “remendar a França”. Depois da recente disputa
para as eleições presidenciais, em que Emmanuel Macron venceu com os votos
daqueles que “o escolheram entre o menor dos males”, ele mesmo reconheceu as
dificuldades que terá que ultrapassar, quer na frente interna com os problemas
nas escolas, na segurança pública, na precariedade laboral e na integração das
minorias, quer na frente externa com o agravamento da crise no leste europeu. Daí
a ideia de remendar a França e de ultrapassar as divisões políticas, sociais e
regionais que afectam o país, ameaçado ainda pelo movimento dos coletes
amarelos (Mouvement des gilets jaunes),
que nasceu em 2018 de forma espontânea para protestar contra “a ordem
estabelecida” ou contra “a ordem centrista de Macron”, que quase paralisou a
França e que ameaça agora regressar às ruas francesas.
Este quadro
acontece quando no Leste da Europa se verifica um agravamento da confrontação entre
os protagonistas da Guerra Fria, a mostrar que a Ucrânia é, sobretudo, um
pretexto ou um palco para o domínio do mundo. Não se imaginava que tal pudesse
acontecer, mas nessas circunstâncias a estabilidade da França é importantíssima
para a União Europeia, mas também é importante para Portugal. As tensões entre
a Rússia e a Ucrânia não deveriam ter atravessado o Atlântico e deveriam ter
sido mediadas e arbitradas por Emmanuel Macron, ou por Olaf Scholz, ou por Recep Erdoğan, ou por António Guterres. No entanto, é sempre desejável que Macron “remende a França”
e ajude à conversa entre Putin e Zelensky, para que aconteça o cessar-fogo e haja paz na Ucrânia.
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